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Donaldson Gomes
Publicado em 31 de julho de 2024 às 05:00
Um dos mais promissores projetos para a substituição do combustível de avião (SAF), um produto derivado do petróleo e intensivo em emissões de carbono, está sendo tocado na Bahia. Com um investimento inicial de R$ 3 bilhões, que pode chegar aos R$ 13,5 bilhões, a Acelen, empresa do fundo Mubadala que é dona da Refinaria de Mataripe, se prepara para colocar no mercado versões do SAF e do diesel verde (HVO) com uma pegada de carbono 80% menor que as opções hoje disponíveis no mercado.
Em outra frente, a aprovação do marco legal do hidrogênio verde abre para a Bahia – maior produtor de energias renováveis do Brasil e ainda longe de utilizar todo o seu potencial – abre a possibilidade de o estado se tornar uma potência também na produção de hidrogênio verde. O combustível tem o potencial de substituir a energia de origem fóssil tanto na produção de eletricidade, quanto com matéria prima em diversos processos industriais.
Segundo Carlos Henrique Passos, presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), existe um grande interesse das empresas baianas e também da própria Fieb na construção de uma política para o desenvolvimento da cadeia de hidrogênio verde no estado. O produto de origem renovável é apontado como alternativa para “esverdear” a indústria petroquímica, que é uma das atividades econômicas mais relevantes da Bahia.
“Para produzir hidrogênio verde é preciso energia elétrica de fontes limpas e água. A Bahia é um dos poucos estados brasileiros que têm abundância desses recursos”, avalia o presidente da Fieb. “O Polo Industrial de Camaçari tem uma central de tratamento de efluentes líquidos que gera água, podendo ser usada para produzir hidrogênio”, completa.
Para Carlos Henrique, o Nordeste brasileiro tem potencial para se tornar o centro do próximo ciclo de desenvolvimento brasileiro, tornando-se o destino de muitos investimentos. No entanto, destaca o dirigente, há diversos desafios a serem superados. Entre eles está o do marco legal.
“É fundamental ter segurança jurídica para que os investimentos sejam realizados na produção de hidrogênio de baixo carbono e em toda a cadeia industrial. Corremos contra o tempo, pois outros países estão em movimento nessa questão. É essencial tomar decisões para que possamos aproveitar as oportunidades que estão se configurando para o nosso estado”, recomenda o presidente da Fieb.
Presidente da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (Abivh), Fernanda Delgado ressalta que a fonte energética deve ser vista como “uma das soluções de descarbonização”. Para ela, é muito importante entender que o sucesso da transição energética depende de um conjunto de soluções.
“Precisamos do hidrogênio verde, sem dúvidas, mas como solução para um cenário tão complexo, devemos pensar na eletrificação, nos biocombustíveis e na eficiência energética, que é uma das soluções mais inteligentes a serem utilizadas”, pondera Fernanda. “Quando você troca o carburante principal pelo hidrogênio verde, mesmo que em pequena quantidade, o produto final sai menos intensivo em carbono. O mundo precisa de uma economia verde, mas, por mais que queiramos transformar tudo de uma hora para a hora, será necessária uma transição”, diz.
O “verde” que vem logo após o hidrogênio tem relação com o modo como ele é produzido. Para a separar o H do O na molécula da água (H2O), é necessário realizar um processo de eletrólise, que demanda grande quantidade de energia elétrica. Se a eletricidade utilizada por de matriz renovável, o produto final é considerado hidrogênio verde. “Nós temos um potencial gigantesco para este mercado aqui no Brasil. A beleza disso é que se fôssemos ligar a eletrólise em qualquer tomada no país, já teríamos quase 90% de chance de estar utilizando energia renovável”, compara Fernanda.
Segundo ela, é preciso, no entanto, que o país tenha mais pressa para fazer uso deste potencial, uma vez que qualquer lugar do mundo com energia renovável e água disponíveis pode fazer o hidrogênio verde.
Entre os desafios para o desenvolvimento deste mercado, ela lembra da questão da demanda. Atualmente, o Brasil já consome 500 mil toneladas de hidrogênio cinza por ano, que é produzido a partir do gás natural. “Pra usar o hidrogênio verde, é preciso trazer os preços para baixo, para que empresas tenham acesso a um preço melhor, dando escala à produção”, acredita.
“A questão do preço vai se resolver quando tivermos escala de produção. Toda indústria nascente tem desafios tecnológicos, basta lembrar do nascimento das indústrias solar e eólica. A tecnologia acompanha o mercado, quanto maior o desenvolvimento e a sinalização de que o país vai enfrentar a rota tecnológica”, avalia.
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O Projeto Transição Energética é uma realização do Jornal CORREIO, com o patrocínio da Unipar e Tronox, apoio institucional da Braskem e do Sebrae Bahia e parceria da AC Consultoria.