É possível viver com menos carbono? O longo caminho a ser percorrido para ser neutro

Grandes empresas brasileiras investem em ações para reduzir as suas pegadas de carbono e para compensar as suas emissões de gases na atmosfera

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  • Donaldson Gomes

Publicado em 31 de julho de 2024 às 05:00

Projetos para geração de energia renovável estão entre as principais iniciativas das empresas Crédito: Divulgação

Pensar num mundo sem emissões de carbono é uma utopia. Possivelmente, a primeira árvore derrubada pelo homem para a produção de lenha, ou clareiras para o plantio, deve remeter esta reportagem a períodos pré-históricos. Claro que as primeiras emissões de carbono eram muito baixas, mas isso muda a partir de 1750, quando o carvão se tornou a principal fonte energética da recém-nascida atividade industrial. Juntam-se ao carvão, o petróleo e o gás. Ainda no século XIX, os primeiros teóricos demonstraram preocupação com o uso de combustíveis fósseis para alimentar a vida moderna, mas somente 220 anos depois surgem as primeiras reflexões sobre a necessidade de compensar.

Entretanto, nas últimas décadas, seja por força de regulação, ou demandas de mercados, expressões como transição energética, eficiência no uso da energia e descarbonização passaram a fazer parte do vocabulário corporativo. Uma delas, a de tornar as empresas “net zero”, ganhou força após o Acordo de Paris, em 2015, e representa uma conta em que as empresas se tornam neutras nas emissões de carbono. Isso significa que as organizações se tornam capazes de capturar ou compensar todo o carbono que emitem na atmosfera. Mais do que um modismo corporativo, o net zero representa uma contribuição para frear o aquecimento do planeta.

Com fábricas no Brasil e na Argentina, a Unipar é responsável pela produção de insumos que atendem diversos setores essenciais da economia, como higiene e saneamento. A empresa elencou a sustentabilidade como um dos seus pilares estratégicos e possui um planejamento de curto, médio e longo prazo relacionado ao tema. Segundo a empresa, com investimentos em projetos que contemplam modernização tecnológica, investimentos e planejamento, a expectativa é de alcançar uma redução de 10% nas emissões diretamente relacionadas aos processos de produção e também nas indiretas, normalmente relacionadas à eletricidade, vapor e refrigeração.

Para a Unipar, a transição para energia elétrica de fontes eólica e solar nas operações no Brasil é um fator fundamental para contribuir com a menor pegada de carbono dos produtos e estender a oportunidade de descarbonização da cadeia de valor. A empresa projeta chegar ao próximo ano com 80% da eletricidade usada em seus processos no Brasil provenientes das matrizes eólica e solar.

Até 2030, a empresa projeta alcançar a meta de ter 60% da sua energia a partir de matriz renovável e de reduzir em 30% as emissões de carbono, além de ter todos os seus fornecedores homologados no cumprimento de critérios de sustentabilidade. Para 2050, as metas são de atingir a neutralidade em suas emissões.

A companhia também realiza inventário de gases de efeito estufa e teve a sua nota elevada de C para B no tema Mudanças Climáticas pelo CDP Disclosure Insight Action, instituição que detém o maior banco de dados ambientais do mundo. Paralelamente, a empresa se mantém alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, estabelecendo no curto prazo projetos que irão reduzir as emissões de CO2 em 10% até 2025.

Na Bahia, a Unipar realizou anunciou um investimento de R$ 234 milhões para implantar uma unidade em Camaçari. A fábrica será construída do zero – greenfield, no jargão dos negócios – e foi concebida para otimizar o consumo de água, gás e demais insumos. Inserida em um polo industrial, a unidade terá capacidade de produzir 20 mil toneladas de cloro, 22 mil toneladas de soda cáustica, 25 mil toneladas de ácido clorídrico e 20 mil toneladas de hipoclorito de sódio ao ano. A previsão é que a nova unidade já esteja em produção no segundo semestre de 2024.

Pensamento sustentável

Líder global na produção do pigmento de dióxido de titânio, TiO2, a Tronox, que possui uma fábrica em Camaçari, atua para se destacar também em sustentabilidade, afirma Roberto Garcia, diretor da empresa para as Américas. “A terra possui recursos naturais limitados e é fundamental que o operação da Tronox seja sustentável”, avalia Garcia.

Segundo ele, o primeiro passo para o engajamento nas questões climáticas surgiu quando da elaboração das matrizes de materialidade internamente com os principais stakeholders da empresa. Neste processo foram avaliados quais os aspectos são materiais, ou seja, mais relevantes para o negócio. A partir disso, em 2021 a Tronox concluiu estudos climáticos importantes examinando negócios de transição e riscos físicos associados às mudanças climáticas, como por exemplos eventos climáticos extremos, escassez de água, inundações e elevação dos oceanos.

Em 2022, a empresa concluiu uma avaliação dos riscos e oportunidades de transição. A partir disso, foi feita a formulação de planos de resiliência física para cenários realistas de alterações climáticas, que devem ser constantemente reavaliados. “No contexto da descarbonização, a planta da Bahia realizou em 2022 a Fase 1 do roteiro regional de redução das emissões de carbono e tem construído um robusto plano de ação das iniciativas e projetos para alcançar a meta de redução, que é de alcanças, em 2050, 100% de neutralidade relativa as emissões de escopo 1 e 2”, explica Roberto Garcia.

Em 2023 foram anunciadas as metas de redução de emissões do Escopo 3 e iniciada a avaliação das oportunidades de redução desse escopo com os principais fornecedores da cadeia de produção do dióxido de titânio e de outros minerais produzidos em outras plantas da Tronox.

 Em cada uma das plantas nos nove países em que a Tronox atua há planos regionais de descarbonização em andamento. Para a Bahia, as ações envolvem 100% da energia usada de fontes 100% renováveis e as principais ações em andamento e planejadas até 2027 se referem ao uso de tecnologias mais limpas e modernização de equipamentos para a redução no consumo do gás natural, água e vapor. “Esses projetos de otimização energética e transformação de processo previstos até 2027 para a planta da Bahia já somam mais de R$21 milhões. A redução das emissões de dióxido de carbono equivalente destes projetos será superior a 9 mil toneladas de CO2”, estima.

Até 2030, a empresa projeta reduzir em 50% a sua pegada de carbono, alcançando 100% de neutralidade em 2050. Globalmente a empresa já obteve uma redução de 5% até 2023. Em 2024, com a implantação da usina solar na África do Sul, este número deve aumentar para 21% de redução. Para a planta da Bahia o destaque é dado para a redução das emissões de escopo 1 e 2 em 2023 da ordem de 5%. “Este impacto é oriundo da implantação de iniciativas de otimização de processo e do consumo de energia elétrica de origem 100% renovável nas operações industriais da planta de Camaçari”, destaca Garcia.

Engajamento

Gabriela Cravo, gerente global de Descarbonização Industrial da Braskem, explica que o trabalho de engajamento da empresa em relação ao tema é feito “em camadas”, que se iniciou com as equipes de liderança. Segundo ela, esta metodologia é importante porque a empresa possui muitas frentes de atuação em relação à sustentabilidade.

“Governança é uma chave quando se lança um programa. É preciso ter metas, definir o público e como se vai fazer. Decidimos fazer em pílulas, capítulos mais curtos”, conta explicando a necessidade de adequar este processo aos momentos livres das equipes operacionais.

Gabriela lembra a importância de adequar a comunicação sobre o assunto. “O primeiro ponto que eu notei é que todo mundo acha que sabe sobre descarbonização e efeito-estufa”, diz. Um passo importante para o engajamento das equipes foi lhes apresentar os desafios relacionados ao assunto. “Essa coisa do ‘eu acho que já sei’ é minimizar o conhecimento e esta é a primeira grande barreira”, acredita.

A Braskem possui metas de curto, médio e longo prazo em relação ao assunto. Gabriela Cravo compara a situação ao desafio de colher maças em árvores baixas, médias e altas. Ela explica que os “frutos baixos”, muitas vezes a mensuração de coisas que já eram feitas ou mesmo a adoção de procedimentos que não demandam investimentos, já estão sendo colhidos. Do mesmo modo, há avanços em relação aos “frutos médios”, com planos de investimentos e definições de parcerias. O desafio, completa, está na preparação para colher os “frutos altos”. O programa de descarbonização da Braskem prevê a redução das emissões de gases do efeito estufa em 15% até 2030, por meio de eficiência, competitividade, confiabilidade e sustentabilidade.

Assista o videocast Transição Energética

O Projeto Transição Energética é uma realização do Jornal CORREIO, com o patrocínio da Unipar e Tronox, apoio institucional da Braskem e do Sebrae Bahia e parceria da AC Consultoria.