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Saiba como testes de Facebook usam seus dados e empresas lucram com isso

O perigo desses aplicativos ficou ainda mais evidente após a denúncia envolvendo a empresa americana Cambridge Analytica

  • Foto do(a) author(a) Naiana Ribeiro
  • Naiana Ribeiro

Publicado em 27 de março de 2018 às 06:10

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Ilustração: Morgana Miranda/CORREIO
Veja como tudo acontece (clique para ampliar) por Ilustração: Morgana Lima/CORREIO

Como você seria se fosse do gênero oposto? Com qual celebridade você se parece? Como você estará daqui 20 anos?  Os testes de Facebook são tentadores e quase irresistíveis. O problema é que, na curiosidade de saber o resultado, o usuário acaba concordando em ceder dados como nome, imagem de perfil e fotos na rede social, data de nascimento, contato, e-mail, entre outras informações, para uma empresa pouco conhecida, e sabe-se lá o que ela fará com elas. O perigo desses aplicativos (apps) – que, a princípio, aparentam ser simples brincadeirinhas - ficou ainda mais em evidente após a denúncia de que a empresa americana Cambridge Analytica usou dados de 50 milhões de pessoas no Facebook para fazer propaganda política. A empresa teria tido acesso ao volume de dados ao lançar um aplicativo de teste psicológico na rede social. Quem participou do teste entregou à empresa suas informações e dados referentes a amigos do perfil. Após polêmica, o fundador e CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que a rede social vai informar as pessoas sobre utilizações abusivas de dados e desligará automaticamente o acesso a aplicações que não são utilizadas por mais de três meses (Foto: AFP) Essa a polêmica política chamou atenção para algo que acontece há muito tempo. Pelo menos é o que defende o publicitário Jorge Martins. “Diversas empresas lançam pesquisas para recolher informações das pessoas. Tudo bem doar dados para elas. Vendê-los é crime. Todo mundo faz os testes porque são divertidos. A questão é que não sabemos como eles serão utilizados - se são empresas mal-intencionadas ou não”, explica ele, que é diretor de criação da Yayá Comunicação e desenvolve campanhas na área digital há anos. Informações como essas são valiosas para empresas direcionarem melhor seus anúncios e obter mais resultados. “Esses dados são coletados para gerar lucros para quem coleta ou até para agências de inteligência em caso de campanhas eleitorais, etc", explica Thiago Tavares, presidente da Safernet, ONG dedicada a questões sobre segurança na internet. Alguns dos apps são capazes de invadir a privacidade do usuário, instalar outros programas e até alterar a configuração do sistema operacional de um aparelho, já que o usuário clicou em “Aceito”.

[[galeria]] [[publicidade]] A estudante Brenda Borges, 17 anos, não sabia que, ao logar com o Facebook nos testes, estava doando os dados a empresas. “Eu imaginava, porque tem vezes que várias coisas estranhas entram no computador”, comenta ela, que adora responder pesquisas no Face. “Como me entedio fácil, faço todo tipo de teste. São divertidos. Acho interessante, mas os resultados as vezes são muito aleatórios”, conta ela, que chegou a ser comparada com a cantora Shakira em um deles. “Somos irmãs separadas na maternidade”, ironizou. Brenda adora fazer os testes e não sabia que os termos envolviam doar dados para empresas (Foto: Reprodução) Jorge ressalta que na internet tudo gera rastros. Com essas informações em mãos, é possível saber como as pessoas agem, o que elas fazem, onde andam, o que curtem.“Se eu consigo entender seus hábitos de consumo, faço mensagens publicitárias específicas para você. Na maioria das vezes, as informações individuais não fazem diferença. A soma dos dados, entretanto, mostra padrões de comportamento e pode servir para manipular a sociedade”, completa Jorge.Segundo ele, nem todas as empresas usam as informações fornecidas de forma negativa. “A maior parte das empresas utiliza de forma positiva e te oferece justamente o que você está precisando. Se você está procurando promoções de viagem, por exemplo, ela pode te mandar o que você quer”.  Para o analista de mídias sociais Jonath Ferreira, 24, é difícil resistir aos testes. “Quando vejo algum bombando, eu já faço”, confessa. “Vejo os testes como um termômetro comportamental, me dá informações sobre o que as pessoas consomem e acaba contribuindo com meu trabalho”, conta ele, que chegou a fazer o teste do gênero oposto: “Fiquei a cara da Rihanna, toda natural, super bonita”. Mesmo sem ler os termos antes de responder às pesquisas, ele afirma ter uma rotina: “Semanalmente dou uma olhada nos apps que deu permissão no Facebook e excluo”. Jonath Ferreira fez o teste do gênero oposto e ficou a cara da cantora Rihanna (Foto: Reprodução) Apesar de ser analista de Tecnologia da Informação (TI), Lorena Cova, 39, confessa que sempre faz os testes que aparecem na sua linha do tempo. “Nem sempre compartilhava, mas muitas vezes fazia só por fazer e nem lia o que eu estava dando acesso ou não. Casa de ferreiro espeto de pau”, brinca. “Eu sabia que quando eu logava com o Face num teste desse praticamente estava abrindo meus dados para a empresa do teste, mas nem ligava até parar pra ver direito o que era tudo isso individualmente”.   Lorena costumava fazer testes do Facebook por diversão e nem lia os termos, agora presta mais atenção ao fazê-los (Foto: Reprodução) Proteja seus dados

Quando o assunto é proteger os dados, a recomendação dos especialistas é unânime: “Contenha aquela vontade súbita de fazer esses jogos”, alerta Tavares. “Não saia clicando em tudo sem ler. Às vezes, pedem até a cor da sua cueca!”, aconselha Jorge.  Se você fez algum dos testes, suas informações não serão apagadas do banco de dados da empresa. Mas dá para apagar o app do seu Facebook, garantindo que novos dados não sejam  capturados. No canto superior direito da página, clique na setinha e depois em “Configurações”. Selecione “Aplicativos”, passe o mouse por cima do app e clique no X para “Remover”.

Dicas importantesLeia com atenção os termos de serviço antes de aceitar quais informações você está cedendo ao baixar um aplicativo ou criar conta em redes sociais; Só use aplicativos quando realmente for necessário, porque absolutamente todos capturam dados; Reflita se para desempenhar determinada função o aplicativo em questão realmente precisa que você libere o acesso à sua câmera ou localização, por exemplo; Evite joguinhos, quizzes e testes do Facebook; Não forneça dados que são opcionais, na maioria dos casos é melhor manter segredo; Pesquise sobre quem está tendo acesso aos dados.