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Murilo Gitel
Publicado em 5 de outubro de 2017 às 16:33
- Atualizado há 2 anos
A temporada das baleias Jubarte no litoral brasileiro - entre os meses de julho a outubro - está chegando ao fim este ano com um triste recorde: nunca tantos animais desta espécie morreram encalhados nas praias brasileiras quanto neste ano. Foram 103 encalhes em todo o País - 41 só na Bahia - e uma pergunta inquietante: o que está por trás deste número?
Segundo Milton Marcondes, coordenador de pesquisas do Projeto Baleia Jubarte, que se dedica ao estudo sobre estes animais no período em que visitam a costa brasileira, as mortes estão associadas ao aumento da população da espécie. "Mais baleias vivas quer dizer, necessariamente, mais baleias mortas por causas naturais", diz. Porém, acrescenta, a ação humana não pode ser descartada, já que muitas das baleias encalhadas apresentavam ferimentos causados por rede de pesacas.
Enquanto pesquisadores buscam explicações, as mortes das gigantes dos mares chocam a população humana. "Nunca vimos algo assim tão de perto. É lamentável", afirmou o pescador Alberto Santos, 54 anos, quando se deparou com uma baleia encalhada na praia de Ondina, em Salvador, no dia 1º de setembro. Apenas 21 dias depois, o estarrecimento era do autônomo José Alcides Souza, 54 anos, diante de outro animal encalhado, mas, dessa vez, entre a Boa Viagem e a Pedra Furada, na Cidade Baixa.
Recuperação
O PBJ pondera que a população de jubartes nas águas brasileiras no inverno e primavera está em franca recuperação da depredação sofrida durante muitas décadas de matança comercial da espécie. “De uma população que em 2002 era de apenas cerca de 3.400 baleias na costa do Brasil, hoje estimamos que já seja superior a 17.000 animais. Mais baleias vivas quer dizer, necessariamente, mais baleias mortas por causas naturais, como doenças, filhote que se perde da mãe, velhice, ação de predadores, bem como devido à ação humana”, detalha Marcondes.
De acordo com ele, a recuperação populacional faz com que esse grande número de baleias encontre um ambiente cada vez mais alterado por atividades humanas, que podem também causar encalhes e mortes, com a pesca com redes, colisões com grandes embarcações, principalmente onde as rotas de navios que demandam portos cruzam as áreas de concentração das jubartes, e mesmo o ruído de determinadas atividades, a exemplo deos trabalahos de prospecção sísmica, além da poluição. Todos estes fatoers, diz, devem ser ponderados.
Marcondes, que é médico veterinário, observa também a possibilidade de uma correlação entre o maior número de encalhes detectado este ano – e em alguns anos anteriores – com uma menor produção de krill (pequenos crustáceos que servem como principal alimento das jubartes do Hemisfério Sul) na região antártica. “Essa diminuição ocorre a cada quatro ou cinco anos em função de eventos climáticos como o El Niño”, ressalta o especialista.
O quanto essa diminuição na população de krills pode estar sendo causada pelas mudanças climáticas agravadas pela ação humana é ainda motivo de estudos, mas certamente causa preocupação, porque pode comprometer a recuperação futura das populações de baleias. Para entender o quanto desses animais encalhados morrem por causas naturais ou devido à ação do ser humano, o PBJ destaca a importância de se examinar as carcaças de baleias encalhadas para descobrir a causa da morte e buscar soluções para estes problemas.
O PBJ busca, sempre que possível, atender os eventos de encalhe com sua equipe de veterinários e pessoal especializado. O registro detalhado das condições dos animais encontrados mortos ajuda a entender o contexto dos encalhes e a construir estratégias para minimizar os impactos da atividade humana que possam estar relacionados a um aumento de mortalidade das jubartes.
Desafios
São raros os casos em que as baleias encalham vivas na praia. Quando acontece, o grande desafio é mover criaturas tão pesadas sem feri-las ainda mais. O recente exemplo bem-sucedido em que a comunidade de Búzios (RJ) trabalhou com êxito para resgatar uma jubarte jovem encalhada demonstra que coordenação e uso de boas técnicas podem trazer um final feliz para esses eventos.
“É importante frisar, entretanto, que tentar o desencalhe de uma baleia viva é uma ação que envolve muitos riscos, tanto de ferimentos provocados involuntariamente pelo animal como a aquisição de doenças ao entrar em contato com a baleia e com o spray de sua respiração. Por isso, essas tentativas devem sempre ser realizadas sob orientação especializada”, recomenda o PBJ.
O projeto também diz que “apesar de números elevados e da tristeza causada por ver animais majestosos mortos no nosso litoral, os encalhes de jubartes nessa temporada ainda não constituem uma ameaça para a recuperação da espécie em nossas águas. Mas é preciso estarmos vigilantes e seguirmos monitorando esses eventos, para assegurar que as atividades humanas não sejam responsáveis por mais mortes e que possamos garantir a existência das baleias no mar brasileiro em uma convivência harmônica com as pessoas”.
Ajuda
A melhor forma de ajudar uma baleia encalhada é avisando ao PBJ, que mantém o Programa de Resgate do Projeto Baleia Jubarte atuante no litoral da Bahia e do Espírito Santo, Os telefones para contato são:
Caravelas: (73) 3297-1340* e (73) 98802-1874**
Praia do Forte: (71) 3676-1463*
WhatsApp (73) 98802-1874
* Horário comercial (segunda a sexta) ** 24 horas
Encalhes por estados brasileiros até 5 de outubro:
Bahia – 41 Espírito Santo – 30 Rio de Janeiro- 15 Alagoas – 09 São Paulo – 05 Sergipe – 02 Rio Grande do Sul - 01
O número aceita ligações a cobrar.