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Murilo Gitel
Publicado em 16 de maio de 2018 às 06:01
- Atualizado há 2 anos
Quando as mulheres das Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto, no Semiárido baiano, observaram a ausência de umbuzeiros jovens na região da Caatinga, era preciso pensar em alguma alternativa para recuperar e preservar o bioma. Nascia então o projeto Reecatingamento, do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), de Juazeiro, na Bahia, que foi selecionado neste mês entre os cinco primeiros colocados do Prêmio BNDES de Boas Práticas para Sistemas Agrícolas Tradicionais.
O objetivo do prêmio é reconhecer boas práticas ligadas aos sistemas agrícolas de povos e comunidades tradicionais que estejam vinculadas aos saberes ancestrais dessas populações; contribuir para a sustentabilidade ambiental e para a sobrevivência tanto social quanto econômica dos grupos que delas se utilizam.
As Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto são conhecidas como as guardiãs da Caatinga. As áreas mais preservadas do bioma no Semiárido baiano são as que estão sob os cuidados dessas famílias. “Esse prêmio visa a tornar visíveis experiências de agricultores familiares que se reconhecem como povos e comunidades tradicionais e que vêm desenvolvendo estratégias de sobrevivência e geração de renda que não aparecem nas estatísticas oficiais”, destaca a gerente na Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES, Fernanda Thomaz da Rocha.
A iniciativa do IRPAA contemplou sete comunidades do Território Sertão do São Francisco: Angico, no município de Canudos, Melancia, em Casa Nova, São Mateus, em Curaçá, Fartura, em Sento Sé, Poço do Juá, em Sobradinho, Serra dos Campos Novos, em Uauá e Curral Novo, em Juazeiro.
“Mais de 140 famílias estão envolvidas diretamente nas atividades do Recaatingamento. São moradores e moradoras das comunidades tradicionais de Fundo de Pasto, organizados em Associações Agropastoris”, ressalta a entidade.
Linhas de atuação
O Projeto Recaatingamento atua com cinco linhas de ação: Conservação da Caatinga; Recomposição; Educação Ambiental Contextualizada; Melhorias da Renda; e Políticas Públicas. Uma das metas é capacitar as famílias das comunidades de Fundo de Pasto em conservação e recuperação do ambiente onde elas vivem. Por meio de cursos e oficinas, mais de 308 produtores rurais dos Fundos de Pasto foram capacitados como agentes ambientais.
Outro objetivo da iniciativa é recuperar e conservar a Caatinga sem, no entanto, ter que extinguir a prática da criação de cabras e ovelhas, principal fonte de renda dessas comunidades em conjunto com o extrativismo não madeireiro.
Os cinco primeiros colocados receberão o valor de R$ 70 mil e os outros 10 melhores classificados (que podem ser conhecidos em www.bndes.gov.br/premiosat) receberão R$ 50 mil. Os recursos são do Fundo Social do BNDES, que apoia com financiamento não reembolsável iniciativas que gerem trabalho, renda e inclusão socioprodutiva para comunidades tradicionais e agricultores familiares.
Os contemplados pelo prêmio receberão também uma capacitação sobre as políticas públicas nacionais e internacionais relacionadas ao tema, especialmente as políticas patrimoniais do Iphan (Patrimônio Imaterial) e da FAO (órgão das Nações Unidadas para a agricultura). Assim, serão gerados subsídios para a implantação no Brasil do Programa Globally Important Agricultural Heritage Systems (GIAHS), da FAO (em tradução livre, Sistemas Agrícolas Tradicionais de Relevância Global).
Outras metas do Reecatingamento:
– As áreas de 7 associações de Fundo de Pasto conservados, que corresponde a 7 mil hectares de Caatinga, evitando a liberação de aproximadamente 123 mil toneladas de CO2.
– 20% das áreas das 7 associações de Fundo de Pasto em processo de recuperação, que corresponde a 1.400 hectares e uma projeção de seus equivalentes de 20 mil toneladas de CO2 sequestrados.
– A permanência das famílias no campo com uma renda digna e qualidade de vida, evitando o êxodo rural