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Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2020 às 19:22
- Atualizado há 2 anos
No dia em que completa sua quarta década de vida, o jornalista e escritor Emmanuel Mirdad lança o seu primeiro romance: oroboro baobá, que será lançado virtualmente na próxima quarta (7) às 11h14 e será gratuito porque, nas palavras dele, "se um dia morrer, a obra fica livre". Em entrevista exclusiva ao CORREIO, ele fala que cansou um pouco de ser poeta na cidade dos poetas e as dificuldades da carreira de escritor.
O livro demorou oito anos para ser concluído, com 20 versões diferentes. Foram tantas versões que em 2017 chegou a ser finalista de dois prêmios nacionais: o Sesc de Literarua e o Cepe Nacional de Literatura. Mirdad diz que tentou fazer um grande painel de personagens e histórias que formaram a sociedade brasileira sob a tutela de um realismo fantástico que, por exemplo, ilustra a história de um goleiro Montanha, um homem que não leva gols, é aclamado, mas desconhecido por todos por não permitir ser tocado, não falar e fechar em si todo a sua história.
A história de Montanha, goleiro da seleção de Porto Seguro, talvez tenha a ver com à jovem Miwa, encontrada no mangue de Mucuri após visões fantásticas com entidades africanas, adotada e criada por três mulheres negras que são descendentes de um mesmo ancestral africano, que foi escravizado e prosperou como um rico senhor fidalgo.
O artilheiro do time defendido por Montanha é um empresário e chefe de tráfico que busca sua redenção dentro do futebol. Há o jornalista investigativo que se empenha em descobrir os mistérios do goleiro imbatível. Há a educadora Maxakali que têm de se separar da tribo por ameaças de bandidos e precisa descobrir onde está o seu filho, que é adotado e negro como Miwa.
"O romance tem muitos personagens e muitas locações, como Caraíva, Mucuri, Nanuque, Aldeia Verde e a mágica Avenida dos Baobás, em Madagascar. É um pequeno universo de várias conexões em que você tem o extraordinário manifestado em cada ato do livro", disse o autor.
O nome do livro e sua capa carregam toda essa simbologia que o autor tenta transmitir. Oroboro é um conceito ilustrado com uma serpente ou um dragão engolindo a própria cauda e significa um ciclo de evolução voltada para si próprio. Em sua capa, Mirdad coloca o baobá, uma árvore sagrada, engolindo as próprias raízes para conceber o universo particular descrito no seu romance. A capa e contracapa de “oroboro baobá” é de autoria do artista visual, designer e fotógrafo Max Fonseca. Capa e contracapa do romance oroboro baobá (Arte: Max Fonseca) Mirdad conta que tinha livros de poesias e contos, mas decidiu se aventurar por um novo estilo literário porque enxergou no romance uma maior alternativa de mercado. Além de entender que a Bahia é carente de romancistas quando comparado a poetas, por exemplo, ele aponta que os romances têm mais facildiades de serem adaptados para séries, filmes e outros produtos audiovisuais. Isso o atraiu."Costumo brincar que aqui temos mais poetas do que habitantes. Foi aí que pensei em me especializar nisso. É o romance quem acaba construindo cânones literários", afirmou.O livro está disponível gratuitamente na internet. O produto foi editado pelo autor e pode ser baixado no seu blog pessoal. Clique neste link para ter acesso.
A ideia de deixar o livro disponível gratuitamente foi fruto de uma reflexão iniciada há três anos: "temos muita dificuldade de ser publicados, as tiragens são pequenas, temos dificuldade de escoar essa tiragem e, quando isso acontece, o livro desaparece. É difícil ter outras edições a não ser que seja um sucesso enorme. Decidi sair do esquema de ser lançado no impresso e investi no lançamento virtual e agora brinco que enquanto o google existir, minha obra continua, independente de minha morte ou o que os herdeiros vão fazer com isso".
Para quem não abre mão de ler em papel e ter o livro físico em mãos, oroboro baobá também será ofertado em livro impresso, pela editora Penalux, de São Paulo, com a publicação prevista para novembro desse ano ainda, sem lançamento presencial por conta da pandemia.