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Ninguém salvará o axé music?

Enquanto houver Carnaval ou micaretas não existe música melhor para animar essas festas que a nossa música

  • Foto do(a) author(a) Osmar Marrom Martins
  • Osmar Marrom Martins

Publicado em 29 de março de 2024 às 05:00

Bell Marques no Carnaval 2024
Bell Marques no Carnaval 2024 Crédito: Arisson Marinho/ Arquivo CORREIO

Calma, calabreso. Esse título é apenas uma provocação e, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre o destino dessa cena musical que completa 40 anos em 2025 e mudou completamente a indústria musical baiana. Nos últimos cinco anos, a pergunta que mais escuto em minhas andanças Brasil afora, cobrindo as micaretas ou Carnavais fora de época, é a seguinte: “E aí, Marrom, o que será do Carnaval quando Bell Marques, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Durval Lelys, Claudia Leitte, Margareth Menezes, Saulo, Carlinhos Brown, entre outros, se ‘aposentarem?’”.

A princípio eu respondia “não sei”. Mas conversando com um e com outro ator da cena (produtor, empresário) e depois de ler a reportagem da colega Fernanda Santana “Axé sofre para criar novas estrelas e pagode avança no mercado”, publicada neste CORREIO no dia 4 de fevereiro deste ano, encontrei argumentos para poder escrever este artigo.

Que o axé não tem mais aquele protagonismo dos anos 1980, 1990 e início dos anos 2000 é fato. Mas é fato, também, que a música que chamamos de axé - que, na verdade, engloba frevo, galope, samba-reggae, pagode, tudo junto e misturado - nunca deixou de ser tocada e cantada nos carnavais e nas micaretas. Chegou um tempo que tinha que dividir com hits sertanejos. Pagode romântico, rap, trap, sofrência e todos os ritmos que vão surgindo.

Talvez essa falta de renovação se explique, e aí é a única crítica que faço aos atores da cena axé é que, ao contrário dos sertanejos, falta uma maior união entre os artistas para ajudar os novos que estão chegando ou esperando a oportunidade para entrar na cena. Talvez se existisse essa maior interação, quem sabe tanta gente boa que anda “ralando” nos bares e bandas da vida não despontassem.

Mas como eu sou bastante otimista e penso igual há muitos que não perderam a fé na cena axé, acredito que tudo passa, tudo passará. Por mais que os detratores preguem o fim do axé music, isso nunca vai acontecer e eu explico. Enquanto houver Carnaval ou micaretas não existe música melhor para animar essas festas que a nossa música. Não precisa ser “cartomante”.

Há uns anos eu presenciei uma cena curiosa no Fortal, o Carnaval fora de época da capital cearense. Eu estava no Camarote da produção acompanhando o desfile das atrações. Aí passou um bloco com os sertanejos Jorge e Matheus, lotado. Trio de primeira, som da melhor qualidade, só sucessos. Mas não tinha clima de Carnaval. Logo atrás, um trio independente com o É O Tchan! Era um trio mais simples, porém a animação, estratosférica.

Sendo assim eu acredito que, quando os grandes nomes “se aposentarem”, o Carnaval de Salvador vai continuar firme e forte com a geração mais nova que deve segurar a peteca. Ou então voltaremos à cena pré-axé quando o Carnaval tinha como atrações os trios elétricos. Quem tem mais de 50 anos vai se lembrar dos trios Tapajós, Valneijós, Saborosa, Dodô e Osmar, Jacaré etc. etc.

Trio ainda instrumental
Trio ainda instrumental Crédito: Carlos Catela/ Arquivo Correio*

Nesses tempos, os trios eram apenas instrumentais. E a festa acontecia com a mesma animação. Até que Moraes Moreira assumiu o microfone e foi o primeiro cantor de trio. Mas ainda assim era o trio elétrico recebendo um convidado. Com a explosão da axé music em 1985, aí tudo se transformou. Primeiro os blocos com suas respectivas bandas. Por exemplo: Traz os Montes, com Chiclete com Banana; Camaleão, com Luiz Caldas e Acordes Verdes; Cheiro de Amor, com a Banda Cheiro; Bloco Beijo, com o Bloco Beijo.

Logo em seguida as estrelas passaram a ser protagonistas, como Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Asa de Águia, Durval Lelys, Claudia Leitte, Ricardo Chaves, Margareth Menezes entre outros. Só sei de uma coisa: seja qual for o modelo, a axé music vai durar ainda muitos anos.

O projeto especial Som Salvador é uma realização do Jornal Correio, com patrocínio da Unipar, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio da Wilson Sons e Salvador Shopping.