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Agência Einstein
Publicado em 21 de outubro de 2024 às 08:40
A dança dos hormônios que acontece no corpo feminino desde a puberdade traz impactos em todos os aspectos da saúde das mulheres, inclusive em relação à qualidade do sono. Essa foi uma das principais conclusões de uma pesquisa publicada recentemente na revista científica Sleep Medicine Reviews. >
Mas qual a relação do sono com essas alterações hormonais? São muitas. Por conta do aumento da progesterona durante a menstruação, por exemplo, tende a aumentar a sonolência diurna. Já as cólicas também influenciam, especialmente quando são mais intensas e podem levar a interrupções do descanso.>
“As mulheres passam por diversas fases de características do sono durante a vida em função dos diferentes períodos reprodutivos”, explica a ginecologista Helena Hachul de Campos, professora da disciplina de saúde da mulher da Faculdade de Medicina do Hospital Israelita Albert Einstein. >
“A regularidade do ciclo também conta, pois dados mostram que as mulheres com ciclo irregular têm duas vezes mais risco de sofrerem com problemas para dormir e de qualidade do sono”, diz Hachul, que é professora livre-docente chefe do setor de Sono da Mulher da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisadora do Instituto do Sono.>
Quem convive com a síndrome pré-menstrual, popularmente conhecida como TPM, pode ter a qualidade do descanso ainda mais comprometida, aumentando a insônia e a sonolência durante o dia, especialmente por conta das oscilações de humor, que deixam a mulher mais ansiosa, por exemplo. Mas isso varia de pessoa para pessoa, de ciclo para ciclo e conforme o momento de vida em que ela se encontra — quanto mais estressada, por exemplo, mais dificuldade em relação ao sono. >
Há de se considerar ainda os ovários policísticos, síndrome muito prevalente em mulheres do período reprodutivo. A literatura científica mostra que mulheres que sofrem com ela costumam ter mais excesso de peso e síndrome metabólica, fatores que estão associados à apneia obstrutiva do sono, distúrbio que causa interrupções na respiração durante o descanso.>
A gestação é outra fase que mexe bastante com o sono. O primeiro trimestre normalmente é bem agitado, já que envolve enjoos e idas frequentes ao banheiro. Com a chegada do segundo trimestre, as coisas tendem a se acalmar. No terceiro, o aumento abdominal provocado pelo crescimento do bebê começa a pressionar a bexiga, obrigando a gestante a sair da cama mais vezes para fazer xixi, além de causar dificuldade respiratória, que deixa o sono fragmentado. >
As grávidas com pressão alta ainda têm mais risco de sofrer com apneia. “Cerca de 46% das gestantes têm alguma queixa do sono e quanto mais frequentes elas forem, mais risco de acontecerem piores desfechos neonatais”, alerta Helena Hachul. >
Período crítico >
Mas é com a chegada da menopausa que o sono das mulheres costuma mudar para valer. “As alterações são mais evidentes e constantes após a grande queda hormonal que acontece nessa fase”, diz a pneumologista e especialista em medicina do sono Luciane Impelliziere Luna de Mello, professora do curso de pós-graduação em medicina do sono do Hospital Israelita Albert Einstein e médica do Instituto do Sono, ligado à Unifesp. >
Além dos fogachos (ondas de calor) e do aumento da frequência urinária, que podem deixar o descanso fragmentado, as mulheres têm que lidar com alterações sociais e emocionais, como depressão, ansiedade e síndrome do ninho vazio, provocada pela saída dos filhos de casa, entre outras. >
Existem ainda evidências científicas que apontam que os hormônios femininos têm um papel importante no relógio biológico. “Por todas essas razões, a incidência de insônia, que antes da menopausa era de 30%, pula para 60% na pós-menopausa”, relata Hachul. >
A apneia também é um problema mais frequente nessa fase da vida. “A mudança na distribuição de gordura corporal característica desse período, que faz com que ela passe a ter um acúmulo maior na região da cintura, é determinante, pois a cada centímetro a mais de circunferência abdominal, o risco de apneia aumenta em 5%.”>
Sobrecarga também prejudica o sono>
As mulheres também costumam, em diferentes fases da vida adulta, acumular mais tarefas do que os homens. A obrigações e preocupações com o trabalho, a casa e os filhos fazem com que elas, na maioria das vezes, tenham menos tempo para dormir. E, quando chega a hora do descanso, muitas não conseguem relaxar, pois ficam pensando em tudo o que têm que fazer no dia seguinte. >
Além das questões práticas, existem as emocionais que também tiram o sono da mulherada. “Elas são mais sensíveis a distúrbios de humor, como depressão e ansiedade, e às questões ligadas ao acúmulo de tarefas, o que faz com que sofram com mais insônia por causa desses fatores”, afirma Mello. >
Por todas essas razões, médicos precisam ter um cuidado extra ao analisar e tratar o sono das mulheres. “Temos que avaliá-las como um todo, verificando como estão seus hormônios e seu ciclo menstrual, qual é o seu momento de vida, com quem mora, se divide as tarefas, se toma remédios, se tem outras doenças, entre muitos outros fatores, pois tudo isso influencia”, afirma Hachul. >
“Outra questão que temos que levar em conta é que elas, muitas vezes, subestimam as questões respiratórias que desencadeiam a apneia, o que, em muitos casos, só identificamos ao fazer uma polissonografia, exame que analisa o sono”, complementa Mello. Isso é preocupante porque, mesmo com quadros mais leves, as mulheres já apresentam sintomas como ronco e pausas respiratórias, que podem provocar engasgos e breves despertares.>
No que diz respeito ao tratamento a distúrbios do sono, além das estratégias medicamentosas, que devem ser avaliadas individualmente, também devem ser considerados os cuidados relacionados à higiene do sono. Entre eles estão: dormir sempre no mesmo horário, fazer refeições leves à noite, tomar café apenas até o horário do almoço, não ficar no celular ou no computador até tarde, evitar exercícios físicos intensos perto da hora do descanso, deixar o quarto escuro e só ir para a cama na hora de deitar. “Também é importante se hidratar bem e ter uma alimentação saudável, já que, para uma boa noite, é essencial termos um bom dia também”, conclui Hachul. >