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Proteína desenvolvida no Brasil promete reduzir inflamação intestinal

Estudo em camundongos constataram efeito benéfico da substância que poderia ser administrada por via

  • Foto do(a) author(a) Agência Einstein
  • Agência Einstein

Publicado em 8 de julho de 2024 às 09:27

Imagem ilustrativa
Imagem ilustrativa Crédito: Shutterstock

Uma pesquisa feita por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e do Hospital Israelita Albert Einstein conseguiu reduzir a inflamação no tecido intestinal de animais de maneira inédita: um pedaço de uma proteína com propriedade anti-inflamatória inserido em uma micropartícula foi direcionado, de maneira segura e bem-sucedida, até o local esperado de sua ação. Os resultados abrem caminho para o desenvolvimento de novos medicamentos orais contra doenças como a de Crohn e a retocolite ulcerativa. O artigo foi publicado no International Journal of Nanomedicine.

As doenças inflamatórias intestinais afetam, principalmente, o intestino grosso e causam sintomas como diarreia, sangue nas fezes e perda de peso, além de aumentarem o risco de câncer colorretal. Costumam acometer jovens, que precisam conviver com a doença ao longo da vida. Embora a causa não seja bem conhecida, sabe-se que há fatores genéticos e ambientais envolvidos, como hábitos que alteram a microbiota intestinal. Não há cura para esses transtornos e os medicamentos utilizados apenas controlam a inflamação.

O objetivo dos autores era testar a possibilidade de administrar medicamentos via oral, já que atualmente os mais efetivos são injetáveis e, além de caros, muitos pacientes não respondem bem ao tratamento. “Queremos otimizar a entrega de medicamento para esses pacientes que são muito debilitados”, diz a biomédica Milena Broering, autora da tese de doutorado que originou a pesquisa. “Nossa proposta era buscar uma tecnologia barata, acessível e capaz de ser administrada por uma via não invasiva”, conta a farmacêutica Sandra Farsky, professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF-USP) e orientadora da tese de doutorado.

Para isso, os pesquisadores escolheram uma proteína produzida pelo organismo, a anexina A1, que tem efeitos anti-inflamatórios conhecidos e que também consegue induzir a reparação dos tecidos. Um peptídeo (isto é, um pedaço da proteína) responsável por ativar essas reações foi colocado dentro de uma micropartícula, uma espécie de cápsula capaz de carregá-la intacta por todo o trajeto até o local da ação, sem ser degradada no processo.

“Nessa etapa tivemos a colaboração fundamental do professor Marco Antonio Stephano, da FCF-USP, e dos docentes do Instituto de Física da USP, coordenados pela professora Márcia Fantini, que sintetizaram a micropartícula e caracterizaram a incorporação do peptídeo”, explica Farsky. Para reforçar a proteção, o dispositivo ainda foi revestido por um polímero, material que atua como se fosse um escudo.

A micropartícula contendo a proteína foi administrada durante quatro dias em camundongos que tiveram a doença inflamatória intestinal induzida. Nesse período, os cientistas monitoraram sintomas como perda de peso, sangue e consistência das fezes para avaliar o efeito do tratamento. “Já no primeiro dia vimos uma redução dos sintomas e dos sinais clínicos da doença”, conta Broering.

Para verificar se a nanocápsula estava chegando ao local correto, foi feito um monitoramento do trajeto pelo grupo de nanobiotecnologia do Hospital Israelita Albert Einstein com auxílio de um tomógrafo de fluorescência IVIS. “Esse equipamento permite ver a biodistribuição do material e conseguimos observar que o fármaco chegou ao local adequado no tempo certo”, relata o pesquisador Lionel Gamarra, do Einstein. “A pesquisa abre possibilidade de administração de remédios por vias não invasivas.”

Por fim, uma análise de amostras do intestino dos animais revelou que a nanopartícula carregando o peptídeo controlou a resposta inflamatória e induziu a regeneração dos tecidos.

O desenvolvimento de um medicamento é um processo longo, com muitas fases, inclusive com ensaios clínicos em humanos, e pode levar décadas. “Esse é um passo inicial que abre boas perspectivas, em especial por mostrar que a nanopartícula levou o peptídeo até o local da inflamação por via oral”, diz Sandra Farsky. “A possibilidade de tratamentos não invasivos, como pela via oral, é desejável para o tratamento de doenças crônicas com morbidades graves, como as causadas pelas doenças inflamatórias intestinais.”