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No Dia da Visibilidade Trans, saiba como é feita a transição de voz

Otorrinolaringologistas explicam que a readequação vocal é importante para a autoestima e a qualidade de vida de pessoas trans

  • Foto do(a) author(a) Tharsila Prates
  • Tharsila Prates

Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 17:45

Dia de Visibilidade Trans
Dia de Visibilidade Trans Crédito: Divulgação

A conexão entre a voz e a identidade de gênero é uma etapa significativa no processo de reconhecimento social para pessoas trans. Nesta quarta-feira (29), Dia da Visibilidade Trans, a otorrinolaringologista Érica Campos, especialista em laringologia, com foco em transição da voz, reforça a importância do procedimento de readequação vocal para a autoestima e a qualidade de vida de pessoas trans.

“A transição vocal é muito mais do que uma mudança na voz: envolve sonhos, expectativas e, muitas vezes, o medo do que os outros vão pensar; é algo que está diretamente ligado à socialização. É muito recorrente no consultório o relato de pessoas transgênero com disforia vocal, que evitam falar em público para não chamar atenção pelo timbre”, destaca Érica, primeira médica brasileira a integrar a International Association of TransVoice Surgeons (IATVS).

Ela explica ainda que a cirurgia de “feminização da voz”, também conhecida como glotoplastia, é feita por dentro da boca, sem deixar cicatriz, e dura cerca de duas horas. Após o procedimento, a paciente deve permanecer de 7 a 10 dias em silêncio absoluto.

“A voz só vai estar no formato definitivo depois de 6 a 8 meses, e nem sempre essa espera é fácil. Por isso, estar em equilíbrio e buscar acompanhamento especializado é fundamental para garantir um pós-operatório mais tranquilo e uma recuperação melhor”.

A adaptação vocal após a glotoplastia envolve um processo de reeducação com acompanhamento fonoaudiológico e psicológico, além de cuidados necessários para que a paciente compreenda novamente o funcionamento da musculatura da laringe e atinja uma voz confortável e natural.

A cirurgiã destaca que a glotoplastia evoluiu ao longo do tempo e, diante do avanço tecnológico, como o uso de lasers e técnicas minimamente invasivas, pode ser realizada com maior segurança, precisão e resultados menos inflamatórios. Após a cirurgia, é necessário o acompanhamento médico regular, com laringoscopias, para monitorar o desenvolvimento da voz e alcançar os resultados desejados.

“A glotoplastia desempenha um papel fundamental no pertencimento durante o processo de transição de gênero, que envolve mudanças que afetam a saúde física e mental. Também atendo pacientes cis que sofrem com disforia vocal, ou seja, que se sentem intimidadas em falar em público devido à voz, seja pelo uso de anabolizantes ou outras questões. Já os homens trans costumam ficar satisfeitos com as mudanças proporcionadas pela terapia hormonal. Como a testosterona tem um papel virilizante na voz, o uso do hormônio, na maioria das vezes, é suficiente”, explica Érica.

Outro procedimento que pode ser realizado em conjunto com a glotoplastia é a condroplastia, cirurgia para redução do pomo de Adão. “A retirada do pomo de Adão é uma questão estética que não interfere na voz, mas que pode ser fundamental para construção de autoestima e para trazer um sentimento de pertencimento às mulheres trans”, explica Érica.

Para deixar a voz mais grave, além da terapia hormonal, pode ser realizada a tireoplastia, cirurgia no esqueleto laríngeo. Alexandre Enoki, otorrinolaringologista do Hospital Paulista, explica que a tireoplastia do tipo III ajuda a tornar a voz mais grave, fazendo um relaxamento na frequência da voz para torná-la mais grossa. Já a do tipo IV tem como objetivo tornar a voz mais aguda. Nela, são realizados pontos para esticar as pregas vocais capazes de afinar o som emitido.

“Tireoplastias são cirurgias de laringe que abordam a cartilagem da tireoide, popularmente conhecida como pomo de Adão. Diferente de outros procedimentos feitos na laringe, nas tireoplastias não há uma manipulação direta das cordas vocais”, afirma o otorrinolaringologista.