Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Vitor Rocha
Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 04:30
As ervas, muitas vezes utilizadas para a produção de chás, temperos e medicamentos, podem causar danos ao fígado e rins. Entre as principais, estão chá verde em pó, hibisco, spirulina, cúrcuma e Ashwagandha. O potencial de risco foi relatado em uma pesquisa da Universidade Federal da Bahia (Ufba), realizada em conjunto com instituições universitárias do Uruguai, da Argentina e da Espanha. O levantamento analisou 468 casos de lesões hepáticas que ocorreram ao longo de dez anos na América Latina.
De acordo com Raymundo Paraná, professor e coordenador do estudo na Ufba, as ervas possuem substâncias em sua composição que são responsáveis pelos danos aos órgãos. “A cúrcuma tem um princípio ativo denominado curcumina. O chá verde, quando consumido em pó, tem a catequina como a causa. A erva indiana Ashwagandha tem cerca de 35 princípios ativos, mas tudo indica que alcaloides e saponinas sejam responsáveis pelas lesões. O resto ainda não se sabem as causas”, diz.
A doméstica Tânia Alves revela que já chegou a tomar um litro de chá de hibisco por dia para perder peso, mas parou por conta dos riscos. “Os médicos disseram que precisava tomar o dobro de água e não podia tomar vários dias seguidos. Por conta disso, fiquei com receio e parei de tomar. Sinto muito medo de ter problemas no meu corpo, ainda mais no fígado e rins”, conta.
Coordenador dos ambulatórios de Hepatotoxicidade e de Nódulos Hepáticos e Câncer de Fígado da Ufba, Vinícius Nunes reitera que, exceto em casos extremos, como a substituição dos chás pela água ou consumo muito elevado dos suplementos, não há altos riscos. “As pessoas podem tomar o seu chá normalmente, mas loucuras, como parar de se hidratar e tomar apenas os chás ou ingerir uma quantidade muito alta diariamente podem causar danos aos órgãos. A preocupação é quando esses produtos são utilizados para tratamentos”, esclarece.
Os produtos, metabolizados através do fígado, podem causar a intoxicação a partir de três tipos, identificados conforme o jargão dos cientistas: dose-dependência, interação medicamentosa e a forma idiossincrática. “A dose-dependência é quando o indivíduo consome uma alta quantidade do produto, sendo muito comum nos casos de chá verde, por exemplo. As mais comuns são interações medicamentosas, em que as substâncias, ao interagir entre si, geram toxicidade, como a cúrcuma com a pimenta negra. No caso da idiossincrática, é uma sensibilidade natural do indivíduo as substâncias, como se fosse uma alergia”, explica Vinícius.