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Portal Edicase
Publicado em 12 de abril de 2025 às 12:09
A gestação é um período de intensas transformações físicas, hormonais e emocionais no corpo da mulher. Durante esses nove meses, o organismo se adapta para garantir o desenvolvimento saudável do bebê, exigindo atenção constante à saúde. Mesmo com o acompanhamento médico adequado e todos os cuidados recomendados, algumas mulheres podem enfrentar complicações que caracterizam a chamada gravidez de alto risco. >
“Uma gestação é considerada de alto risco quando existem condições médicas/doenças pré-existentes ou desenvolvidas durante a gravidez que aumentam o risco de complicações para a mãe e/ou para o feto durante a gravidez, parto e/ou pós-parto. Essas condições incluem doenças maternas crônicas, histórico obstétrico desfavorável ou fatores relacionados à gestação atual”, explica Elton Ferreira, obstetra coordenador do Pré-Natal de Alto Risco do Vera Cruz Hospital, em Campinas (SP). >
De acordo o Ministério da Saúde (MS), cerca de 15% das gestações são consideradas de alto risco no Brasil. As causas mais frequentes são: >
“É importante esclarecer que, na maioria das vezes, as gestações de alto risco evoluirão bem. Para que isso tenha maior chance de acontecer, é imprescindível que essas gestantes sejam acompanhadas por um profissional especializado e capacitado no atendimento a gestações de alta complexidade e que haja um envolvimento multidisciplinar nesse cuidado”, conta Elton Ferreira. >
A seguir, Elton Ferreira responde 10 questões importantes sobre gravidez de alto risco. Confira! >
O reconhecimento precoce de uma gravidez com possíveis complicações envolve uma análise detalhada já nas primeiras consultas. “[A gestação de alto risco] deve ser diagnosticada durante as consultas de pré-natal de rotina. Já na primeira, é fundamental a avaliação do histórico médico para identificar condições pré-existentes que possam afetar a gravidez, como doenças crônicas, complicações em gestações anteriores, histórico familiar, antecedente de cirurgias, uso de medicações e de técnicas de reprodução assistida. É importante ressaltar que essa avaliação deve ser integral e continuada ao longo de todo o pré-natal”, diz o obstetra. >
Sim, buscar orientação médica antes da concepção pode contribuir para uma gestação mais segura e bem-planejada. “[…] Nessa consulta, antes das tentativas de engravidar, podemos esclarecer dúvidas, iniciar suplementação de ácido fólico, controlar doenças já existentes e orientar a substituição de medicações que porventura faça uso e que não devam ser usadas na gestação”, enumera o profissional. >
De acordo com Elton Ferreira, em casos de maior vulnerabilidade, o acompanhamento profissional tende a ser mais frequente para garantir respostas rápidas a qualquer alteração. “[A frequência das consultas] deverá ser individualizada de acordo com a condição apresentada. Geralmente, as consultas são mais frequentes quando comparadas ao observado na assistência ao pré-natal de risco habitual. Isso permite um monitoramento contínuo rigoroso e intervenção oportuna em caso de complicações”. >
Há métodos variados que auxiliam no controle da saúde fetal, tanto nas consultas quanto no dia a dia da gestante. “Existem diversas estratégias para analisar o bem-estar do bebê. Isso engloba desde a avaliação do tamanho do útero (altura uterina), dos movimentos e batimentos cardíacos do bebê, e da saúde da mãe em consulta de pré-natal, assim como o controle dos movimentos fetais pela gestante em casa, a realização de exames como a cardiotocografia e o ultrassom”, explica o coordenador do Pré-Natal de Alto Risco do Vera Cruz. >
A definição do melhor período para o nascimento é feita com base em múltiplos critérios que variam de acordo com cada situação clínica. “[O parto] também é algo individualizado e deve levar em consideração a doença apresentada, se está ou não controlada, a idade gestacional, assim como deverá ser baseada em um balanço entre os riscos de continuar a gestação e os riscos da prematuridade. É muito importante que toda a conduta tenha embasamento científico e que seja amplamente discutida, esclarecida e compartilhada com a gestante e eventual parceiro(a)”, esclarece o obstetra. >
A pré-eclâmpsia é uma doença que merece atenção. “[A pré-eclâmpsia] é a elevação da pressão arterial, geralmente após 20 semanas de gravidez, associada ao acometimento de um ou mais órgãos/sistemas, como rins, cérebro, fígado, pulmão, coração e/ou sistema hematopoiético (sangue). É uma doença frequente e perigosa e, por isso, necessita de um pré-natal cuidadoso e atento”, diz o especialista. >
Ele ainda ressalta que “todas as pacientes diagnosticadas com elevação de pressão arterial na gravidez, seja hipertensão arterial crônica, hipertensão gestacional ou a pré-eclâmpsia, devem ser imediatamente encaminhadas para um serviço especializado de referência”. >
Sim, medidas preventivas podem ser adotadas, especialmente entre mulheres com maior risco para o desenvolvimento do quadro. “Para as gestantes que apresentem fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença, podemos iniciar algumas medicações e suplementações no início do acompanhamento pré-natal (a partir de 12 semanas), como o ácido acetilsalicílico (AAS) e o cálcio. O uso dessas substâncias, entretanto, reduz o risco de pré-eclâmpsia, mas não o elimina. Além disso, àquelas que não apresentem contraindicações, a realização de atividade física regular também diminui o risco da patologia”, explica Elton Ferreira. >
A indicação dessas medicações ocorre quando há um fator de alto risco ou dois fatores de médio risco presentes, como: >
Alguns ajustes no estilo de vida podem ser suficientes para lidar com a condição, enquanto outros casos exigem intervenções mais específicas. “A maioria das pacientes com esse diagnóstico conseguirá o controle da doença com a realização de dieta equilibrada e atividade física. Naquelas em que esse controle não for atingido com essas medidas, será necessário o uso de medicações, como a insulina, por exemplo”, conta o coordenador do Pré-Natal de Alto Risco do Vera Cruz. >
O profissional também destaca a importância de um acompanhamento constante ao longo da gestação. “Portanto, a monitorização do controle das glicemias, assim como uma vigilância rigorosa do bem-estar do bebê, serão cuidados indispensáveis durante toda a gravidez”. >
Uma abordagem integrada entre diferentes profissionais da saúde pode fazer toda a diferença nos cuidados oferecidos durante a gestação. “O trabalho multidisciplinar é crucial para garantir qualidade e segurança do atendimento, além de promover melhores desfechos maternos e neonatais. Nesse contexto, a atuação de uma equipe de profissionais de diversas áreas é fundamental para a abordagem holística e integral da saúde da gestante, visando a prevenção, o diagnóstico precoce e o manejo adequado das condições que possam surgir”, explica Elton Ferreira. >
Ele também destaca os benefícios da diversidade de saberes no acompanhamento da gestante. “Além disso, permite que diferentes perspectivas sejam consideradas, integrando conhecimentos e técnicas de várias áreas da saúde, o que resulta em uma assistência mais completa e personalizada. Além de diversas especialidades médicas, outras áreas da saúde envolvidas nesse cuidado incluem a psicologia, a nutrição, a fisioterapia e a assistência social”, conclui. >
Por Tiago Freitas >