Trezena de Santo Antônio completa 430 anos em Salvador

Primeira capela em homenagem ao santo português foi instaurada na capital baiana em 1594

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  • Millena Marques

Publicado em 31 de maio de 2024 às 06:30

Altar da paróquia Santo Antônio Além do Carmo
Altar da paróquia Santo Antônio Além do Carmo Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Todos os anos, desde 1961, dona Dinorá Rodrigues participa da trezena de Santo Antônio na paróquia do bairro que recebe o nome do santo português, no Carmo, em Salvador. A ele, a aposentada de 94 anos atribui milagres e pede pela vida dos familiares. Uma das mais populares do estado, a devoção completa 430 anos de história na capital baiana em 2024.

Foi em 1648 que a comunidade de Santo Antônio Além do Carmo se tornou paróquia. No entanto, a primeira capela em homenagem ao santo foi instaurada no bairro anos antes, em 1594, erguida por Cristóvão de Aguiar Daltro. Segundo o atual pároco da igreja Jailson de Jesus, o templo foi o primeiro atribuído à devoção a Antônio no Brasil. Naquele mesmo ano, os primeiros festejos foram realizados no mês de junho.

“A primeira igreja foi construída neste lugar aqui [no Largo de Santo Antônio]. Ela foi reformada e ampliada até chegar à condição atual. A devoção de Santo Antônio veio de Portugal. As famílias já celebravam Santo Antônio. Quando foi construída a primeira igreja, a devoção, então, foi ganhando o contorno mais público”, explica o religioso.

Dinorá Rodrigues
Dinorá Rodrigues Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Forte de fé

Relatos históricos apontam que a igreja primitiva foi reformada pela primeira vez no início do século XVII, quando holandeses invadiram a cidade e ocuparam o templo.

Em 1638, na segunda tentativa holandesa de conquistar Salvador, a igreja é citada como uma fortificação, reformada para constituir um baluarte da defesa da cidade. Embora seja conhecido por muitos como santo casamenteiro, a devoção ao santo é intensificada na cidade no século XVIII, por pessoas que tinham contato com o mar e com atividades comerciais.

“Com a construção das igrejas aqui na cidade, especialmente da Igreja de Santo Antônio da Barra ou outros templos que também lembravam Santo Antônio, como a própria igreja de São Francisco de Assis, a tradição aumenta e Antônio passa a ser um santo cultuado por diversas pessoas. Além de ser patrono de causas privadas”, explica o historiador Rafael Dantas.

A relação com os casamentos, na verdade, não é atribuída diretamente à vida de Santo Antônio, mas surgiu porque, dentro do período da trezena, de 1° a 13 de junho, é celebrado o Dia dos Namorados, no dia 12. “Os namorados iam até a Igreja de Santo António e pediam benção de Santo Antônio pelo namoro e para que o relacionamento chegasse a um matrimônio, que o amor fosse confirmado. Daí veio a tradição”, diz padre Jailson. Ao longo dos anos, a devoção tomou conta de todo o estado, sendo passada de geração em geração. É comum, na Bahia, encontrar pinturas, imagens e quadro em homenagem ao santo.

Amor e devoção

"Isso mostra a força da tradição ao longo do tempo. Minha avó, por exemplo, no Recôncavo da Bahia, tinha no seu altar várias pinturas e fotografias de Santo Antônio”, diz Dantas.

Questionada sobre como a devoção pessoal começou, dona Dinorá evita citar um ano específico e diz que “desde menina”. A certeza é a fé no santo. “Ele é muito milagroso, muito maravilhoso. Meu marido perdeu a aliança uma vez, quando foi ao interior. Eu disse: ‘Santo Antônio vai mostrar que você não perdeu essa aliança’. Quando ele abriu a sacola da viagem, que tirou a primeira peça, a aliança caiu”, conta.

Por outro lado, a aposentada Maria Cristina Viana, 60 anos, lembra bem de como foi encantada pela devoção. Há 24 anos, ela começou a participar dos encontros religiosos na Igreja Santo Antônio Além do Carmo, onde o filho integrava uma irmandade. Mas foi em 2018 que o carinho pelo santo aumentou. Maria Cristina ficou 15 anos aposentada por acidente de trabalho. Entre 2017 e 2018, a bancária teve o benefício cortado e só o conseguiu de volta após a intercessão a Santo Antônio. "Uma amiga começou a conversar com Santo Antônio, dizendo que eu precisava da resposta rapidamente. Ela disse ouviu ele dizer que a situação seria resolvida no dia 15”, conta. Segundo Cristina, o resultado saiu no final do dia citado pela amiga. “A gente começa a se apegar, não tem quem não se apegue”, afirma.

Maria Cristina Viana
Maria Cristina Viana Crédito: Paula Fróes/CORREIO

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*Com orientação da subeditora Monique Lôbo