Professora aposta na venda de trajes juninos feitos sob medida para todos os corpos

Saia rodada: peças para adultos do PP ao XG custam a partir de R$ 120; até o final de junho, Ateliê Neganegona tem 60 encomendas na fila de entrega

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  • Priscila Natividade

Publicado em 23 de junho de 2024 às 05:00

Claudia Viviane de Jesus é criadora da marca Neganegona
Claudia de Jesus é criadora da marca Neganegona Crédito: Ana Albuquerque/ CORREIO

Um vestido de chita, bem rodado e feito sob medida. Mas também pode ser um conjunto de saia e corselete, todo trabalhado nas raízes nordestinas. O importante é costurar para todos os corpos do PP ao XG. Foi a partir daí que a professora Cláudia Viviane de Jesus – ou melhor, ‘Neganegona’ como é conhecida - resolveu montar uma coleção com esses modelos juninos para adultos que valorizam o universo festivo do São João para além da camisa quadriculada.

“O São João inspira, né? É uma das festas que eu mais gosto de curtir. Lembra nossas raízes e eu acho que a gente não deve perder a magia quando se cresce e vira adulto. Então, eu pensei que poderia fazer algo para a época que ressaltasse a nossa regionalidade e ficasse bonito, sem parecer simplesmente uma fantasia”.

E a criadora do Ateliê Neganegona (@atelie_neganegona) fez sucesso. Só no período junino são 60 peças encomendadas, que somam um ganho de R$ 4 mil. Junho, junto com dezembro são os meses em que a demanda praticamente dobra. As peças exclusivas custam em torno de R$ 150.

“O ateliê não para. E como sou eu sozinha na produção das peças, fico sempre com um volume de encomendas imenso, sobretudo, nesse período. Procuro fazer preços que sejam justos que as pessoas possam pagar. Penso sempre como eu fosse a cliente: ‘será que eu vou conseguir pagar essa peça?’. Acho que eu ganho com a fidelidade e não no valor exorbitante de uma única roupa”.

Com um olho na sala de aula e outro na máquina de costura, Cláudia, concilia a produção com as turmas de 3°, 4° e 5° ano, onde ensina Geografia e História na rede municipal. “O que mais me deixa feliz é quando recebo uma mensagem de retorno da cliente dizendo que se sentiu maravilhosa e linda, que arrasou, que quer outra roupa. Tenho clientes que garantem que vão colocar na planilha do mês água, a luz e a ‘Neganegona’. Isso aí me deixa radiante”.

"O que mais me deixa feliz é quando recebo uma mensagem de retorno da cliente dizendo que se sentiu maravilhosa e linda, que arrasou, que quer outra roupa"

Cláudia Viviane de Jesus
criadora da marca Neganegona

O ateliê nasceu há 20 anos, quando Cláudia se incomodou com a dificuldade de encontrar uma roupa que vestisse o seu corpo bem, da maneira que ela queria e merecia. “Tenho um corpo gordo, negro e que gosta de cor. Eu não encontrava nas lojas convencionais essa oferta de produtos que me agradassem com essas características. Comecei a criar e costurar minhas próprias roupas para ir para faculdade a minhas colegas gostaram e começaram a pedir encomendas e aí surgiu o Ateliê Neganegona”.

Ela acabou se especializando em roupas com tecidos africanos. São sete dias úteis para receber as peças após a confirmação do pedido. Cláudia costuma comprar os tecidos com fornecedores brasileiros que importam o material. “São carro-chefe do ateliê e compro os tecidos com vendedores em São Paulo, Rio de Janeiro e aqui do Curuzu. São peças produzidas o ano inteiro. As pessoas criam modelos, escolhem estampas. É sempre para comemorar algum momento de muito significado. É o que mais representa o ateliê hoje”, afirma.

Boca-boca

A professora conta que não tinha nem R$ 1 real no bolso quando tudo começou. “Minha mãe sempre foi costureira, então, eu tinha a máquina em casa e só. Minhas amigas que apostaram em mim, me pagavam pelas peças e a partir daí fui fazendo a venda, tirando o dinheiro para comprar os tecidos, usando também parte do meu salário de professora”.

Hoje, Cláudia chega a produzir por ano, algo em torno de 500 peças entre vestidos, batas e conjuntos. “Os principais clientes são homens e mulheres que não se sentem escravizados em vestir uma moda padrão, que entenderam que o padrão quem estabelece somos nós. Que adoram vestir peças coloridas, que amam as estampas africanas. O ‘boca-boca’ funciona muito, mas também tem uma procura grande nas redes sociais”, ressalta.

Toda vez que se senta na máquina de costura para criar e produzir, o que mais inspira Cláudia é a possibilidade de levar felicidade as pessoas de corpos distintos. “A democracia no vestir, a ideia de que você pode, independente do corpo que você tem, criar o que você quer vestir com estampa que deseja, seu estilo, seu gosto. Isso me deixa muito honrada. A cada peça feita me orgulho muito. Esse orgulho é renovado a cada sorriso de agradecimento”, completa.

AS DICAS DA NEGANEGONA

. Respeito a diversidade Respeite o gosto e os diferentes corpos das pessoas. Não se prenda a um padrão de moda.

. E mais, o corpo gordo tem curvas Entenda o que seu cliente busca, suas necessidades o que precisa.

. Inspire Trabalhe com orgulho de cada peça que produziu. Acima de tudo, inspire seus clientes. Eles vão voltar sempre com um novo pedido.

QUEM É

Cláudia Viviane de Jesus é professora e criadora da marca de roupas Neganegona.

O projeto São João 2024 é uma realização do jornal Correio com apoio do Sicoob.