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Conheça um pouco da história da tradicional marca de bebida
Nilson Marinho
Publicado em 16 de junho de 2024 às 11:00
Viveu no século passado, em Cachoeira, no Recôncavo baiano, um homem boa praça. Francisco Pinto, estimado vendedor de charutos, fogos de artifício e vinagre de cana, era conhecido pelo esmero com que tratava seus clientes.
Ninguém saía do casarão, que abrigava seu negócio naquela cidade, sem ter o que fumar e esquentar a garganta. Aos mais chegados e também àqueles forasteiros de outras bandas eram servidas doses de licor de jenipapo e maracujá preparado pelo próprio comerciante.
Francisco partiu deste plano, mas um de seus filhos, o Roque Pinto, tomou as rédeas do negócio nos anos 50. Herdou do pai não só o trato fino com a clientela, mas também a receita da bebida alcoólica adocicada.
Sob nova direção, o negócio passou a se chamar O Oceano. Assim como outrora, quem chegava ao estabelecimento comercial dos Pintos ou à casa da família podia bebericar o licor. Além disso, se desejassem levar para os seus aconchegos, a satisfação era do anfitrião.
A família de Roque Pinto diz que a generosidade dele era tão grande que, de 100 licores produzidos, 50 eram retirados das prateleiras para presentear quem quer que fosse. Nessa leva de agraciados, havia pessoas que viviam para além dos limites do Recôncavo e até fora do país.
De mimo em mimo, o licor do comerciante foi chegando às taças dos mais longínquos endereços, o que ajudou a espalhar a fama da produção artesanal, porém sofisticada.
Atribui-se a ele, portanto, o papel de embaixador do licor de Cachoeira. A bem da verdade, se a cidade é reconhecida como a grande produtora da bebida é porque há anos os Pintos, de forma inconsciente, foram responsáveis por uma espécie de soft marketing.
Hoje, as 15 fábricas da cidade do Recôncavo geram centenas de empregos diretos e indiretos, sobretudo de abril a junho, segundo estimativa da Associação de Produtores de Licor do município.
Os beneficiados com essa cadeia produtiva não são apenas aqueles responsáveis pela produção, mas também os que plantam e colhem os frutos que dão sabor à bebida, além dos que cuidam do transporte das garrafas para todo o estado. Em 2017, a bebida foi reconhecida como Patrimônio Imaterial de Cachoeira.
Em anos de grande fartura, a marca Roque Pinto vende, somente nos meses de abril, maio e junho, 100 mil litros de licor. Durante todo o restante do ano, as vendas não alcançam nem 5% disso. Durante os meses de maior produção e venda, cerca de 60 postos de trabalho temporários e diretos são gerados. Aqueles indiretos ultrapassam a casa dos 100.
A marca
O declínio da produção do fumo no Recôncavo fez com que os charutos começassem a desaparecer das prateleiras do O Oceano, mas isso aconteceu ao passo que a procura pelos licores da casa aumentava. O produto passou de segundo item de venda para o grande protagonista do estabelecimento, que adotou como razão social o nome proprietário.
Com o negócio consolidado, era hora de Roque Pinto começar a pensar em um sucessor. Dos seus nove filhos, um em especial lhe chamou maior atenção pelo senso de responsabilidade. Era o Roseval Pinto que, aos nove anos, já ajudava nos negócios da família quando eles ainda eram encabeçados pelo avô.
Roseval, no entanto, tinha um sonho contrário: o de seguir a carreira militar. Aos 17 anos, no dia do seu alistamento, um contratempo calculado limou a chance que ele tinha de alcançar o seu maior desejo.
“Eu tinha marcado com os meus amigos para me alistar, mas ao me despertar, vi que estava fora do horário. Me perguntei o por que ninguém naquela casa tinha me acordado. Ao abrir a porta do meu quarto, lá estava o meu pai de pé”, lembra.
Roque Pinto tinha planejado tudo. Mais tarde, em uma conversa à mesa, ele disse ao então filho adolescente que não o acordou porque tinha uma missão maior para ele. “Meu pai disse que não sabia até quando poderia tocar os negócios e me passou todos os pontos positivos de estar à frente da empresa. Eu não disse nada, apenas fiquei calado”.
Hoje, aos 63 anos, Roseval está à frente da empresa como predestinou o seu pai antes de morrer. Mesmo não realizando o sonho de se tornar um militar, diz estar feliz por ajudar na expansão da produção de licor da sua família, mas sobretudo por não deixar a marca Roque Pinto desaparecer.
“Não sou eu quem digo, são as pessoas que me conhecem, que se eu não estivesse aqui assumindo esse papel, a empresa Roque Pinto já teria se apagado, ficado apenas na memória das pessoas. A partir do falecimento do meu pai, em 2012, eu entendi tudo o que me levou a esse lugar”.
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