Um 'Xêro' pra Salvador: prefeitura lança fragrância para criar identidade olfativa da capital

O Xêro será espalhado em pontos turísticos e festas como o Réveillon e o Carnaval

Publicado em 16 de novembro de 2016 às 07:04

- Atualizado há um ano

Cheiro de brisa do mar, de alfazema, de comida, ou azeite de dendê. Quem visita Salvador ou vive nela responde assim à pergunta sobre qual o cheiro da cidade. Suor, cerveja e até xixi também não ficam de fora quando se lembra, principalmente, do Carnaval e outras festas populares. Há, também, os mais subjetivos: cheiro de alegria, de hipocrisia ou de axé.

Se pudessem escolher, soteropolitanos e turistas ouvidos pelo CORREIO votariam, principalmente, no cheiro do mar. “Acho que o cheiro da brisa seria um bom perfume”, diz a faturista Rose Campos, 48, que vive aqui. Há também quem aposte na alfazema dos Filhos de Gandhy, ou num cheiro de erva doce. Mas a baiana de receptivo Manuelle Silva de Santana, 39, gostaria mesmo de um aroma de arruda. “Não muito forte, mas um cheiro agradável, para espantar o mau olhado, porque a gente anda precisando”, diz.Linha da Xêro contará com difusor de ambiente, perfume e sabonete(Foto: Ana Lee/Divulgação)O certo é que Salvador ganhará, em breve, um cheiro misto no ar: noz moscada, alecrim, cardamomo e zimbro se misturam com a bergamota, mandarina e limão siciliano, madeira de cedro, grapefruit e flores brancas, além dos tons amadeirados de cashmere, vetiver, âmbar cinza e almíscar. Juntos, eles formam o Xêro, espécie de identidade olfativa da cidade que será espalhada em pontos turísticos e festas como o Réveillon e o Carnaval.

O projeto é fruto de uma parceria entre a prefeitura e a Avatim, empresa baiana de cosméticos sediada em Ilhéus, no Sul do estado, e com repercussão no mercado – a Avatim é responsável pelo cheiro do Copacabana Palace e do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.

Identidade“A identidade olfativa vem para proporcionar uma experiência olfativa para nossos visitantes, e que eles possam levar mais um pouco da nossa cidade na bagagem”, explica o presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, um dos pais do projeto.

Para o jornalista e especialista em perfumes Roberto Pires, a proposta é interessante, mas é preciso aguardar para ver os efeitos. “Ao mesmo tempo que é bom ter uma identidade de cheiro, será que é bom padronizar aquele cheiro igual para uma cidade?”, questiona.

Ainda assim, Roberto elogia a escolha das notas do perfume. “Achei legal porque tem um frescor e Salvador tem um pouco disso, porque faz muito calor e temos aquela coisa do banho, de estar sempre cheiroso. Tem algumas coisas quentes, que são nossas também, e uma sensualidade que o almíscar dá. Acho que captaram bem a essência e é sempre uma ótima notícia na área. E o nome é ótimo”, comenta o especialista.

Lançamento O perfume será lançado primeiro em São Paulo, amanhã, durante a divulgação dos eventos do Verão de Salvador. Jornalistas, artistas e empresários serão os primeiros a conhecer o Xêro – Sinta Salvador, em uma casa de eventos na capital paulista com a presença do prefeito ACM Neto e dos cantores Saulo e Daniela Mercury.

A diretora da Avatim, Mônica Burgos, explica como foi o processo de escolha. “Começou de um sonho meu, que sou carnavalesca apaixonada e comecei a pensar na importância de criar um cheiro. Eu achava que a cidade podia ter uma identidade olfativa, porque ela já tem tantas coisas que marcam: a alegria, os festejos, as religiões. Decidimos colocar tudo isso num cheiro”, explica.

A proposta é, a princípio, espalhar o cheiro em hotéis, aviões, aeroportos, agências de viagem, além dos pontos turísticos e durante as festas populares. Futuramente, o Xêro poderá, também, ser vendido como souvenir. “Vai ser um souvenir bacana, para que as pessoas possam levar o cheiro e relembrar o que viveram em Salvador. Vamos disponibilizar difusores de ambiente, perfumes de ambiente em aerossol e sabonetes”, diz Mônica Burgos.

Definição Para chegar ao aroma da capital baiana, foram ouvidos soteropolitanos e turistas de idades e classes sociais variadas. A partir das respostas, a empresa foi montando opções de aromas. A perfumista Luciana Bergamasco, da Vollmens, grupo parceiro no fornecimento da essência, assina a criação, mas o cheiro final foi escolhido por um grupo de integrantes da prefeitura, incluindo ACM Neto. “A escolha dos acordes finais coube a ele (prefeito) decidir”, lembra.

O gerente de marketing da Avatim, Rodrigo Quadros, um dos responsáveis pela fragrância, explica o que faz o perfume ficar no ar. “As notas de saída são as primeiras a serem percebidas ao borrifar a fragrância”, diz. “A sensação olfativa segue para as notas de corpo, que carregam a identidade do perfume. Aqui, buscamos realçar a força e a fé do povo de Salvador”, completa.

O Xêro é inspirado, também, na alegria e festividade da população. Já os toques de flores brancas buscam trazer à memória as oferendas, as águas de cheiro das baianas usadas nas lavagens. São essas fragrâncias que carregam a identidade do perfume. “As notas de fundo são as mais densas e permanecem por mais tempo no ar. Elas ampliam a magnitude dos demais acordes e finalizam o Xêro com notas amadeiradas de cashmere, vetiver e âmbar cinza, entrelaçados ao equilíbrio do almíscar”, finaliza Rodrigo.

Réveillon teve cheiro de lavanda na Praça CairuA primeira experiência de Salvador com identidade olfativa foi no Réveillon, na virada de 2015 para 2016. O cheiro de lavanda, inspirado nas águas de cheiro, também foi desenvolvido pela Avatim e batizado de Mercado Modelo.

Durante a queima de fogos, 140 litros do perfume foram vaporizados próximo ao palco e nos camarotes na Praça Cairu. “Fizemos um trabalho modesto, uma coisa simples. Aí esse ano eu chamei Isaac (Edington, presidente da Saltur) para falarmos sobre perfume e isso caminhou para o projeto do cheiro para o Verão de Salvador”, explica Mônica Burgos, diretora da Avatim. Edington explica como surgiu a parceria. “A gente tem buscado todas as oportunidades para fortalecer a cidade. Eu já conhecia a Avatim e num diálogo com eles, pensei que a gente podia fazer algo que marcasse a identidade da cidade. No Réveillon, a gente já tinha feito a lavanda, agora vamos distribuir alguns brindes e estamos preparando algumas surpresas”.