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Daniel Aloísio
Publicado em 26 de novembro de 2020 às 05:15
- Atualizado há 2 anos
Tráfico de drogas, suspeita de homicídio, violência contra mulher e tentativa de suborno. Esses são apenas alguns dos crimes que mancham a ficha de Rodolfo Borges Barbosa de Souza, 28 anos, que foi preso na tarde dessa terça-feira (24), na Mansão Ilha de Delfos, onde ele mantinha um apartamento residencial. “Ele se utilizava do espaço para manter uma vida social que o afastasse de suspeitas”, explicou o tenente-coronel Elsimar Leão, comandante das Rondas Especiais (Rondesp) Baía de Todos-os-Santos (BTS).
Elsimar liderou a equipe que monitorou o rapaz durante cerca de quatro meses, após ter recebido uma denúncia anônima. Eles identificaram que Rodolfo era suspeito de tráfico de drogas e armas que abasteciam facções criminosas na região do Nordeste de Amaralina e outros bairros de Salvador. “Ele é um grande empresário do crime, daqueles que não têm identidade com nenhum grupo, mas atua para todos que querem ser seu cliente”, explicou o comandante.
No apartamento de Rodolfo, os policiais encontraram porções de skank e haxixe, além de anotações do comércio de entorpecentes e armas, dois celulares modelo Iphone e joias. Todo esse material foi apreendido, além de R$ 58 mil em espécie que foi encontrado com o rapaz. No momento da prisão, ele tentou subornar os agentes com R$ 100 mil e armas, mas acabou também sendo autuado por tentativa de suborno. Dinheiro apreendido com Rodolfo no Alto do Itaigara (Foto: Divulgação/SSP) A operação que resultou na prisão aconteceu por volta das 19h e não chamou a atenção dos moradores da Mansão Ilha de Delfos, pois, segundo o comandante, os policiais agiram com discrição. “A ação foi discreta. Ele primeiro foi interceptado na rua e a gente subiu pra residência. Atuaram policiais sem farda e os vizinhos nem desconfiaram do que estava acontecendo”, lembra Leão. Na rua, o criminoso dirigia um carro de luxo modelo Audi A5, placa RCQ0B07, que não estava em seu nome. “Ele não soube explicar a quem pertencia o carro, o que era mais um indicativo de que havia algo errado. Esse veículo é comum na área nobre e era também um instrumento usado por Rodolfo para se distanciar de suspeitas dos crimes que ele cometia. Ele não queria ser abordado e, quando foi, ofereceu dinheiro para tentar escapar da prisão”, disse o comandante. Ficha Essa não foi a primeira vez que o rapaz passou pela polícia. Em 2012, quando tinha apenas 20 anos, ele foi preso junto com José Alan Kracht, que, na época, era estudante de Direito de uma universidade privada de Salvador. Na ocasião, a dupla foi autuada em flagrante por tráfico de drogas e associação ao tráfico, após serem flagrados dentro de um carro com uma pequena quantidade de maconha, quando deixavam a orla marítima.
Ao serem interrogados, eles admitiram o crime e, posteriormente, a polícia encontrou na casa de Rodolfo mais de meio quilo de maconha já embalada para venda, seis tubos de lança-perfume e cerca de 50 gramas de haxixe - drogas que seriam comercializadas numa festa de música eletrônica em Salvador, realizada em agosto daquele ano.
Na época, a residência de Rodolfo era localizada num condomínio de classe média no bairro da Boca do Rio. Lá os policiais encontraram também uma balança de precisão, um cachimbo de madeira com cabo em acrílico, além de rolos de papel filme transparente, usados para embalar a droga. Rodolfo Borges Barbosa de Souza tem 28 anos “É uma vida mergulhada no crime desde cedo”, classificou o tenente-coronel Elsimar Leão, ao observar a ascensão social do traficante, que em apenas oito anos trocou a Boca do Rio pelo Alto do Itaigara. “Na atual residência, ele não tinha uma vida familiar. Isso pelo menos não foi observado pelos agentes. Tudo indicava que a relação que ele mantinha ali era só com algumas namoradas, mas nada fixo", explicou.
Antes de ser preso pela primeira vez, em 2012, Rodolfo já tinha morado em Londres e Nova Iorque e sabia falar inglês fluentemente. Depois do episódio, ele foi solto e voltou a praticar outros delitos, como suspeita de homicídio e agressão à mulher, sendo enquadrado na Lei Maria da Penha, segundo Elsimar Leão, que não identificou a vítima em questão.
Em setembro de 2015, policiais militares, em ronda de rotina na Rua João Bião de Cequeira, no bairro da Pituba, encontraram Rodolfo com um amigo chamado Luiz Reuter em atitude suspeita. Após serem revistados, foi encontrado com a dupla 25 gramas de maconha distribuídas em dez trouxinhas.
Na proteção do encaixe do freio de mão do Corsa dirigido por Luiz, uma tesoura, uma folha pautada de caderno, dois celulares e R$ 857 em espécie foram encontrados, o que os levaram a ser denunciados pelo Ministério Público da Bahia por tráfico de drogas. Em 2019, a denúncia foi julgada improcedente pela juíza Rosemunda Souza Barreto Valente. A defesa alegou que a dupla era usuária de drogas.
Arsenal Na segunda-feira (23), dois fuzis de fabricação estadunidense e 23 pistolas croatas foram encontradas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) num ônibus clandestino na BR-116, em Vitória da Conquista, no sudoeste da Bahia. O armamento é avaliado em torno de R$ 500 mil e, segundo o tenente-coronel, o caso pode ter ligação com o do traficante barão do Alto do Itaigara. “Há uma rede que sustenta essa questão da entrada de arma que via de regra vem do Paraguai, entra no país pelo Mato Grosso do Sul e chega à Bahia pelas rodovias. Os dois casos podem ter relação e é aí que entra a parte de investigação do Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado. A ocorrência foi apresentada lá e nós trabalhamos em parceria com eles”, explicou Elsimar Leão. A Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) disse que vai investigar essa ligação. Ainda de acordo com a pasta, durante a prisão, Rodolfo também disse que o arsenal apreendido no ônibus seria distribuído por ele. Essa informação ainda está sendo apurada pela polícia.
No momento da apreensão do arsenal de uso restrito das Forças Armadas Brasileiras, tanto o homem que transportava e o motorista do ônibus, que não tiveram os nomes divulgados, foram presos pela PRF. O passageiro de 32 anos disse que o destino das bagagens era Feira de Santana, onde as armas seriam entregues. No entanto, ele não informou o nome da pessoa que ia receber o material em Feira ou quanto seria o pagamento pelo serviço.
* Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.