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Gil Santos
Publicado em 13 de setembro de 2021 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
A costureira Vera Lúcia de Jesus, 66 anos, foi à farmácia popular pela primeira vez em julho, depois que o médico receitou um novo remédio para controlar a pressão arterial e a taxa de açúcar no sangue. Os comprimidos fazem parte dos 415 medicamentos oferecidos nessas unidades em Salvador. Segundo o levantamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esse serviço cresceu 14%, foram 240 milhões de medicações entregues no ano passado e 172 milhões, esse ano.>
Vera Lúcia contou que ficou nervosa quando o especialista começou a fazer a receita. “A consulta foi particular e foi paga com muito sacrifício. Quando ele disse que teria que comprar a medicação fiquei pensando no preço dos remédios, mas quando terminou de escrever o médico disse que eu poderia retirar na farmácia popular. Foi um grande alívio”, contou.>
Existe um terceiro remédio que ela precisa tomar que não está disponível, mas a costureira não reclamou. “O fato de já ter esses dois é uma grande ajuda, porque medicação é uma coisa que não podemos abrir mão, mas, claro, seria bom se os três estivessem disponíveis”, disse. Público faz fila para retirar as medicações (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Nos últimos seis anos, a quantidade de medicamentos retirados nessas unidades vem crescendo a cada ano. Em 2015, cerca de 127 milhões de remédios foram entregues a população nas farmácias populares de Salvador. Em 2016, esse número subiu para 149 milhões, e continuou aumentando em 2017 (157 milhões), em 2018 (182 milhões), e em 2019 (210 milhões). Entre 2019 e 2020, o crescimento foi de 14%.>
O ano de 2021 ainda não concluiu, mas, até a semana passada, 172 milhões de remédios tinha sido entregues ao público, nos 12 Distritos Sanitários da capital. O número já superou 2015, 2016 e 2017. As medicações mais procuradas são para hipertensão arterial e diabetes mellitus tipo 2 (confira abaixo).>
Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no ano passado, 1 em cada 4 adultos na Bahia tem diagnóstico de hipertensão (25,2%). É a segunda doença crônica mais frequente no estado. Já o diabetes aparece na quinta posição e atinge 6,7% da população adulta. Em números absolutos, são 2,8 milhões de hipertensos e 747 mil diabéticos.>
Em Salvador, o cenário não é muito diferente. A hipertensão acomete 25,1% dos adultos, sendo a doença crônica mais frequente na capital, e 8,1% tem diabetes, quinta enfermidade mais comum. A cidade tem 573 mil adultos hipertensos e 185 mil diabéticos. Esse público é o que frequenta as farmácias populares em busca de medicação já que os comprimidos são diários. A dona de casa Rita Nunes, 58 anos, é frequentadora assídua.>
“Tenho hipertensão e preciso tomar um comprimido por dia. Antes, eu comprava, até que uma vez na fila do posto, esperando para a consulta, uma moça contou que eu poderia retirar o remédio de graça na farmácia popular. Foi quando comecei a usar o serviço. Acredito que assim como aconteceu comigo, tem muita gente que não conhece”, disse. Medicações para hipertensão e diabetes são as mais procuradas (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Regras Para poder retirar os remédios na farmácia popular são necessários três passos. Primeiro, é preciso ter o cartão do Sistema Único de Saúde (SUS) vinculado ao município de Salvador. Segundo, é necessário apresentar um documento original com foto, como o RG, por exemplo. Terceiro, é preciso ter a receita original e uma cópia. A segunda via ficará na farmácia.>
O coordenador da assistência farmacêutica de Salvador, Bruno Viriato, contou que a renda financeira do paciente não importa. Nos casos em que a pessoa estiver acamada ou fizer parte de grupos de risco, outra pessoa pode pegar a medicação, desde que apresente a documentação original do paciente. Beneficiários ouvidos pela reportagem disseram que receberam o suficiente para até três meses de uso, mas Bruno disse que são exceções.>
“A regra é sempre fornecer o necessário para um mês de tratamento, e depois o paciente retorna e pega mais. Com a pandemia as pessoas têm cada vez mais procurado as farmácias, e estamos percebendo a presença de pacientes até do sistema privado. Então, esse é um serviço muito importante para todos”, disse.>
O estoque é alimentado através de duas fontes: o governo do estado encaminha para os municípios alguns dos remédios que serão distribuídos para a população, e o governo federal libera recurso para as cidades comprarem outras medicações. Por isso, o número de remédios oferecidos nas farmácias populares alterna de acordo com cada município. Em Salvador são 415 tipos de medicações e insumos disponíveis para o público.>
A maioria dos remédios tem preço popular no mercado. “Mas é preciso lembrar que tem paciente que faz uso diário da medicação, às vezes, usando mais de um comprimido por dia. Então, apesar de a medicação ser barata no final do mês ela fica cara”, disse Viriato. >
Segundo o Ministério da Saúde, são 193 farmácias populares credenciadas em Salvador e outras centenas no interior do estado. Os remédios e insumos disponíveis fazem parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (Rename) e podem ser consultados no portal do Ministério ou diretamente nas farmácias (veja abaixo a lista completa, com os endereços e telefones de cada unidade). Servidora repõe estoque que será distribuído (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Atrasos Um atraso na entrega de 22 medicamentos adquiridos pelo Ministério da Saúde provocou desabastecimento na Bahia. No dia 24 de agosto, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) divulgou que alguns já estavam com estoques zerados ou inferiores a 30 dias.>
Questionada se a situação foi regularizada, a Sesab disse que está fazendo um levantamento mais apurado do que chegou, do que normalizou e dos medicamentos que ainda estão em falta. O balanço será divulgado nos próximos dias.>
Os remédios são usados em tratamentos de diversas doenças como câncer, HIV/Aids, diabetes, anemia falciforme, acromegalia, alzheimer, amiloidose, artrite reumatoide, espondilite, crohn, psoríase, epilepsia, escleroses, esfingolipidoses, esquizofrenia, fibrose cística, mucopolissacaridose do tipo II, parkinson, trombose venosa.>
Outros 14 medicamentos estavam com fornecimento irregular, com estoque inferior a 60 dias. São fármacos para tratamento de artrite reumatoide, espondilite, crohn, psoríase, doença renal, esclerose múltipla, esquizofrenia, fibrose cística, mucopolissacaridose do tipo VI, psoríase.>
Questionado sobre a quantidade de medicamentos enviadas para a Bahia e sobre o desabastecimento denunciado pela Sesab, o Ministério da Saúde ainda não se manifestou. Mais de 75% dos idosos usam medicação regular, diz IBGE (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Idosos Segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 75,4% dos idosos fazem uso regular ou contínuo de ao menos um remédio prescrito por médico. O percentual sobe para 84,2% entre aqueles que têm 75 anos ou mais.>
Em média, a despesa mensal das famílias baianas com remédios é de R$ 108,7 (3,2% da despesa total). Mas o estudo leva em consideração as despesas da família. Quando o cenário é analisado individualmente esse percentual cresce, principalmente entre os idosos. É o caso de José de Assis, 72 anos, que faz uso de remédios diários para controlar a hipertensão e o colesterol. A sobrinha dele, Cíntia Souza, contou que as despesas com medicamentos e médicos consomem cerca de 50% da renda do aposentado.>
“Remédios, consultas, exames e alimentação específica são muitas questões que precisam de atenção e de dinheiro. Ele tem uma aposentadoria, então, conseguimos arcar com os custos, mas e quem não tem? Quando a idade chega as despesas com a saúde aumentam bastante. Minha filha, meu marido e eu não gastamos nem metade do que ele gasta”, contou.>
Entre as doenças crônicas que mais acometem os baianos estão dores de coluna, hipertensão arterial, colesterol alto, artrite ou reumatismo, diabetes, depressão, outras doenças mentais, como esquizofrenia, transtorno bipolar, psicose e TOC, doenças cardíacas e asma.>
Veja os medicamentos mais buscados nas farmácias populares:Losartana 50mg comp; Metformina 850 mg comp.; Sinvastatina 20 mg comp; Hidroclorotiazida 25 mg. comp.; Anlodipino 5mg comp.; Omeprazol 20mg cápsula; Glicazida 30 e 60 mg comp.; Ácido acetilsalicílico 100mg comp.; Glibenclamida 5mg comp.; Carbamazepina 200mg comp.; *Dados da SMS.>
Quantidade de remédios retirada pela população nos últimos anos:127.423.250 / 2015 149.984.913 / 2016 157.529.356 / 2017 182.426.612 / 2018 210.741.127 / 2019 240.950.884 / 2020 172.593.446 / Setembro de 2021 *Dados da SMS.>
Confira as doenças crônicas mais frequentes em Salvador:Hipertensão arterial (25,1% da população) – 573 mil pessoas Colesterol alto (20,9%) – 477 mil pessoas Problemas crônico de coluna (20,5%) – 468 mil Depressão (8,8%) – 201 mil Diabetes (8,1%) – 185 mil Artrite ou reumatismo (6,8%) – 155 mil *Dados do IBGE. >