Acesse sua conta

Ainda não é assinante?
Ao continuar, você concorda com a nossa Política de Privacidade
ou
Entre com o Google

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Recuperar senha

Preencha o campo abaixo com seu email.

Já tem uma conta? Entre

Alterar senha

Preencha os campos abaixo, e clique em "Confirma alteração" para confirmar a mudança.

Dados não encontrados!

Você ainda não é nosso assinante!

Mas é facil resolver isso, clique abaixo e veja como fazer parte da comunidade Correio *

ASSINE

Reformada com 50 mil folhas de ouro, Catedral Basílica é reaberta hoje

Veja como está o templo, que ficou fechado por três anos e oito meses para reforma

  • Foto do(a) author(a) Alexandre Lyrio
  • Alexandre Lyrio

Publicado em 14 de setembro de 2018 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO
Catedral tem 13 altares: seis de cada lado, além do altar-mor por Foto: Marina Silva/CORREIO

Pároco da Catedral, o padre Lázaro Muniz festejou o resultado (Foto: Marina Silva/CORREIO) As imagens dessa página podem dar uma noção do brilho dos 13 altares folheados a ouro. Mas, se você fizer uma visita pessoalmente, a partir desta sexta-feira (14), involuntariamente, suas pupilas irão se contrair. A nova menina dos olhos da Igreja Católica na Bahia, a Catedral Basílica de Salvador retomou todo o seu esplendor após uma reforma de três anos e oito meses, que consumiu R$ 17 milhões, 50 mil folhas de ouro, 5 mil folhas de prata e muito, muito trabalho. 

Demorou um pouco, mas aí está. Da fachada em pedras de lioz - encontradas apenas em Portugal - ao altar-mor, o quarto templo religioso a ser construído na Bahia, no século XVII, está novíssimo, praticamente do jeito original. E o que são três anos e oito meses perto dos 18 anos que o templo levou para ser construído?

No período da reforma, a nave da igreja virou um imenso ateliê de restauro. “Uma obra muito organizada, quase uma linha de produção. Estudantes e pesquisadores vieram aqui acompanhar. Estamos muito satisfeitos”, afirmou o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) na Bahia, Bruno Tavares. Os 18 meses iniciais de previsão para finalização da obra se tornaram 44. O CORREIO teve acesso ao espaço e mostra como ficou.

O que seria apenas a reforma dos altares teve de ser ampliada. “Em uma obra como essa, sempre se encontram surpresas boas e ruins”, disse Bruno. Tanto que o projeto ganhou muito mais volume. A própria restauração da fachada se tornou necessária por conta da infiltração que poderia voltar a degradar os painéis de azulejo e o forro. “Por isso, foi feita a vedação e consolidação da fachada e das torres. Um trabalho muito complicado”, afirma Bruno.

No final das contas, foram restaurados os 13 altares, pinturas em telas, painéis de azulejos, o forro sob o coro, o piso e a fachada. Até as lápides que guardam as sepulturas de gente importante como Mem de Sá - terceiro governador-geral do Brasil -, de 1573, ficaram brilhando. Forro da Catedral foi restaurado há 20 anos (Foto: Marina Silva/CORREIO) O forro da igreja, que tem um medalhão impressionante no centro, foi um dos poucos locais que praticamente não necessitaram de intervenção, já que sofreu reforma há 20 anos. Assim, o que inicialmente seriam R$ 12,5 milhões, tornaram-se R$ 17 milhões, destinados integralmente pelo Governo Federal.

Achados  A reforma mais pesada ficou por conta dos 13 altares do templo – seis de cada lado, além do altar-mor. Alguns deles revelaram achados inimagináveis. No altar do Santíssimo, descobriu-se que, em vez de ouro, ele era de prata. Coberto com repinturas e até com purpurina dourada para imitar o ouro, um trabalho minucioso foi realizado até se descobrir que, na verdade, ele era prateado.“Foi muito interessante saber que esse altar é em prata. Ninguém imaginava”, surpreendeu-se padre Lázaro Muniz, pároco da Catedral.Foi aí que, para compensar o desgaste que a prata sofreu pelas repinturas, foi necessário importar 200 cadernos de prata, cada um com 25 folhas. Mas, antes de folhear novamente a parede, era preciso saber como tirar todo o “lixo”. “Tivemos que fazer uma série de testes químicos para saber qual a melhor forma de remover os materiais”, explicou a restauradora Thayane Martins.

Tanto a tinta quanto a purpurina, que já estava oxidada, davam uma impressão de que o altar estava sujo. “Aquilo estava verde e cinza”, lembrou a restauradora, apontando também para as telas em madeira do próprio altar, que, da mesma forma, estavam cobertas. Para remover as tintas, foi preciso fazer um trabalho de remoção mecânica com bisturis em cada peça.“Ele teve de ser totalmente desmontado e remontado novamente”, destaca Laura Lima de Souza, arquiteta do Ipahn e fiscal da obra.   Crânios humanos foram encontrados atrás das paredes do altar de Santo Inácio de Loiola (Foto: Marina Silva/CORREIO) Ao lado do altar do Santíssimo, o altar de Santo Inácio de Loiola também escondia uma surpresa, mas não em suas paredes e sim por detrás delas, em uma parte oca. Através de uma abertura em sua base, foi possível entrar e encontrar crânios humanos com centenas de anos. Acontece que era muito incomum se colocar restos mortais em altares. A preferência, dentro das igrejas, era pelas lápides.“Nos causou muita surpresa esses crânios estarem aí”, confirmou a arquiteta que coordenou as atividades da obra, Jéssica Garcia.  No caso do altar-mor, todo o seu esplendor esteve literalmente coberto por muito tempo. Desde o início dos anos 2000, a cortina de uma obra de restauro que começou e não terminou simplesmente cobriu suas pinturas esculturas, imagens de santos, talhas e as 92 cabeças de anjo encravadas nas paredes de ouro. “Mesmo no período que a igreja estava funcionando, o altar-mor ficava escondido”, lembra Bruno Tavares. Tudo foi restaurado e o altar pode ser novamente revelado.  

Mas, no alto do altar-mor, outro achado. Trata-se de duas portas de madeira enormes -cada uma com cem quilos - cobertas por uma pintura colorida de São Francisco Xavier, Santo Inácio de Loiola e o próprio Cristo, estavam escondidas nas paredes laterais. São duas portas de correr que guardam o Cristo Crucificado, imagem que sempre foi aparente na igreja.

Mas, as duas portas, uma imensa obra de arte, está ali para escondê-lo - ou não. Durante muito tempo, o Cristo Crucificado ficou desprotegido e não se sabia da existência das portas. Ainda no altar-mor, um imenso quebra-cabeça. Um painel de obras de arte estava completamente desmontado. “As pinturas estavam guardadas na biblioteca, peça por peça”, diz Laura Lima de Souza.   Bustos relicários ficaram por 15 anos no Museu de Arte Sacra (Foto: Marina Silva/CORREIO) Bustos relicários Com a reforma da Catedral Basílica, ela se tornou mais segura. Tanto que inúmeras obras de arte que haviam sido retiradas de lá, pouco a pouco, vão se devolvidas. As primeiras peças foram os 30 bustos relicários que estavam no Museu de Arte Sacra da Bahia.

Algumas das principais relíquias sacras da Bahia, que tem o maior acervo sacro do Brasil, eles estão de volta aos espaços encravados nas paredes douradas de dois dos altares. Ficam por trás de duas portas. No caso, duas obras de arte que deixam os bustos à mostra ou não.

Peças de terracota do século XVII, os bustos reproduzem os bustos de mártires. Eles ficaram 15 anos sob a guarda do Museu de Arte Sacra, mas agora voltaram para o local de origem. 

Barroca? Igreja tem até influências orientais As centenas de obras de arte da Catedral Basílica têm um valor incalculável. Até porque, da maioria delas, não se conhece sequer a autoria. O próprio templo é considerado barroco, mas a quantidade de estilos ali dentro o torna mais complexo, artisticamente falando.“Não dá para ser simplista e dizer que a Basílica é apenas barroca. Cada retábulo tem um estilo diferente. Aqui tem rococó, neoclássico. A gente percebe influencias indígenas e até orientais”, afirmou a arquiteta Laura Lima.Antes de se tornar um templo dessa magnitude, a Catedral Basílica era a capela do Colégio dos Jesuítas, que funcionava onde hoje é a Faculdade de Medicina.

A atual Catedral é a quarta igreja e último remanescente do conjunto arquitetônico do Colégio. Sua planta é típica das igrejas luso-brasileiras, construída sob projeto do irmão Francisco Dias, chegado à Bahia em 1577 para construir o Colégio. A Catedral Basílica pertence à Arquidiocese de São Salvador e foi, individualmente, tombada pelo Iphan em 25 de maio de 1938, incluindo todo o seu acervo, um dos mais valiosos do Brasil.

[[galeria]]"Alegria e preocupação", diz pároco após reforma Poderíamos dizer que o pároco da Catedral Basílica de Salvador, padre Lázaro Silva Muniz, é só alegria após o restauro da sua igreja. Mas, ele também conta que está preocupado. Padre Lázaro diz que o maior desafio, agora, é fazer a manutenção desse patrimônio.“Estou com o coração cheio de alegria, mas também cheio de preocupação. É um patrimônio fantástico que precisa ser preservado. A obra é grande demais. É preciso toda uma equipe para manter tudo isso”, disse padre Lázaro, que busca parcerias para as manutenções.“Estamos conversando com o próprio Iphan, com o Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia), com as comissões da Arquidiocese e de Arte Sacra para encontramos as melhores formas de cuidado”, completou.

Padre Lázaro quer a catedral movimentada. Quanto mais movimento, mas vai ter gente interessada em ajudar: “Controle de vazamentos, o forro, telhado. Sem falar na manutenção artística”, explicou. “Queremos fazer com que esse espaço seja um espaço cultural, sem perder a dimensão da fé e da oração”. Catedral Basílica será monitorada por 25 câmeras (Foto: Marina Silva/CORREIO) Segurança: templo tem 109 sensores de incêndio Enquanto o Museu Nacional ardia em chamas no Rio de Janeiro, a instalação do novo sistema de segurança da Catedral Basílica de Salvador era finalizada. A ideia é que todo esse patrimônio histórico do templo possa conviver com um moderno sistema de segurança.

Sensores de incêndio ligados a uma central disparam alertas em celulares e tablets da administração – e do próprio padre - se houver algo de errado. “Ele é capaz de mostrar onde exatamente ocorreu o problema”, explicou a arquiteta Jéssica Garcia, que coordenou a obra.

O sistema elétrico foi totalmente trocado: quadros, luminárias, lâmpadas, tomadas. “Gambiarras não irão existir mais neste local. Já colocamos uma quantidade ‘X’ de tomadas pensando desde o carregamento de celulares até ventiladores”, afirmou o superintendente do Iphan.“Essa questão de incêndio em imóvel antigo é sempre um risco maior. Muita madeira e material mais antigo. Mas, aqui, os riscos são bem reduzidos”, declarou Bruno Tavares.O novo sistema de sonorização, testado  ontem, tem uma mesa central com 32 canais e 28 caixas de som espalhadas pela nave, sacristia e outros pontos.Reabertura será hoje Ajustes Além da colocação dos bancos, almofadas e tapetes, ontem eram feitos os últimos retoques nos rejuntes do piso, também de lioz, no adro da igreja. Os tapumes da obra, na área externa, também eram retirados. Quase tudo pronto para a cerimônia de abertura.

Horário Hoje, às 17h, no Terreiro de Jesus, Pelourinho.

Presenças O presidente do Iphan, o ministro da Cultura e do Turismo, além do secretário geral da Presidência.

 Missa: A primeira missa será na próxima quarta-feira, dia 19 de setembro, às 7h30, em ação de graças pelo aniversário de Dom Murilo Krieger.