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Hilza Cordeiro
Publicado em 5 de fevereiro de 2020 às 05:37
- Atualizado há 2 anos
Ele só queria ajudar, mas acabou virando vítima. O rapaz autor do vídeo que mostra um policial militar agredindo um jovem em Paripe no último domingo (2) não está mais ficando em casa após as ameaças indiretas que passou a receber por ter feito a filmagem. Com medo de se identificar, ele deu entrevista ao CORREIO por telefone acompanhado do advogado e de membros do Coletivo de Entidades Negras (CEN), do qual faz parte. (Foto: Reprodução do vídeo) Segundo o rapaz, que é morador da região onde o fato ocorreu, há cinco meses ele também foi abordado de forma truculenta por PMs. “Fui chamado a entrar na viatura, queriam me algemar e me levar. Eu falei para eles que não era ladrão e eles disseram que, se eu não entrasse no carro, iria apanhar igual mala velha. Entrei na viatura sem ser algemado, mas fui com eles e teve troca de tiro lá na área comigo ainda dentro da viatura”, contou. >
Ele diz que a atuação dos policiais no bairro onde nasceu e foi criado sempre foi violenta e que já presenciou outras pessoas sendo abordadas e insultadas por agentes por causa do cabelo e da forma de se vestir.“Quando a gente fica naquela resenha na rua após as aulas, eles chegam de maneira agressiva e sempre falam do cabelo”, denunciou.Na situação que conseguiu filmar, flagrou um PM agredindo com murros e depreciando o cabelo black power de um garoto de 16 anos. “Eu vi a ação, achei errado e decidi gravar, mas não achei que teria essa repercussão”, disse. A partir daí, com os compartilhamentos do vídeo nas redes sociais, o rapaz passou a receber ‘recados’ de outros moradores do bairro alertando que sabiam que ele tinha gravado.>
O autor da gravação diz que é muito conhecido e querido em Paripe e foi avisado por diversas pessoas da região que os policiais já tinham conhecimento da autoria.>
Ameaça “Eu não posso ficar a mercê do que estão comentando, me disseram para abrir o olho”, afirmou ele, que está sendo acolhido por membros do CEN enquanto teme voltar para casa. O rapaz diz que se arrepende de ter gravado o vídeo porque foi afastado da convívio familiar. “Minha família está horrorizada porque eu nem posso pensar em ir lá. A minha mãe está me perguntando porque eu fiz isso de ter gravado. Estou com medo de que algo aconteça comigo ou com a minha família”, disse.>
Conforme informações do Coletivo de Entidades Negras (CEN), a corregedoria da Polícia Militar está sendo acionada pelos advogados da entidade sobre as ameaças. Conselheiro de Direitos Humanos do Estado da Bahia e membro do CEN, Yuri Silva disse à reportagem que também pedirá à Secretaria Estadual de Justiça e Direitos Humanos (SJDHDS) que inclua o autor da filmagem no Programa de Proteção a Defensores de Direitos Humanos. >
Segundo Yuri, nesta quarta-feira (5), o coletivo fará denúncia do caso junto à Defensoria Pública e também à Corregedoria da Polícia Militar. Advogado do rapaz ameaçado, Marcos Alan Brito disse que o jovem tinha total liberdade para filmar a atuação policial. "É uma atitude pública, de um agente público agindo de forma ilícita em via pública", ressaltou.>
Corregedoria da PM vai apurar Por conta do vídeo, uma nota foi divulgada na segunda-feira pela assessoria da Polícia Militar. Nela, a corporação informou que "não preconiza com a violência e rechaça todo e qualquer tipo de conduta violenta". Além disso, confirmou que o vídeo será encaminhado para a Corregedoria-Geral da PM para ser analisado. >
O policial militar filmado agredindo o adolescente de 16 anos já foi afastado das ruas e cumprirá apenas expediente administrativo. O Ministério Público da Bahia (MP-BA) comunicou ao CORREIO que está buscando informações junto à polícia para se inteirar do caso.>