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Quatro anos após desabamento, antigo Centro de Convenções aguarda estudo para ir a leilão

Governador diz que atraso é resultado da pandemia e que vai tentar definir modalidade do leilão em reunião nesta quarta-feira com PGE

  • Foto do(a) author(a) Marcela Vilar
  • Marcela Vilar

Publicado em 24 de setembro de 2020 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Marina Silva/CORREIO
Trabalhadores constroem muros para tapar buraco onde cerca caiu por Marina Silva/CORREIO

Quatro anos após o desabamento do antigo Centro de Convenções de Salvador, ocorrido em 23 de setembro de 2016,  as respostas sobre o futuro deste equipamento ainda são incertas. O que outrora   sediou  inúmeros congressos, feiras, shows e eventos que movimentavam a cadeia turística da cidade tornou-se um patrimônio degradado, sem a devida manutenção. O CORREIO foi até o local e observou ferrugem nos portões, paredes descascadas e o único frequentador dali era um cachorro vira-lata que curtia a sombra próximo aos seguranças.

 Após os episódios de furto de alguns materiais, como ar-condicionado e até pedaços de metal, o governo do estado mobilizou uma equipe para construir um muro de cerca de 3m de altura para tapar os pedaços que haviam caído das cercas do perímetro. A solução foi anunciada pelo governador Rui Costa, em dezembro de 2019, de que o espaço do Centro de Convenções iria a leilão, assim como os terrenos da Rodoviária e do Detran.

Nove meses depois, não se sabe ainda qual será a modalidade em que os terrenos serão leiloados, questão que o gestor espera resolver hoje com a Procuradora Geral do Estado (PGE). Além disso, o governador disse que seria preciso fazer um estudo da área antes que o espaço seja vendido, para valorizar o terreno e coletar propostas de investidores. 

“Vamos publicizar no mercado nacional e internacional as oportunidades de negócios. Vamos convidar os  interessados em conhecer as áreas e a documentação e, a partir daí, elaborar projetos. Daqui há alguns meses a gente faz um processo de leilão”, justificou o governador Rui Costa. 

Ele disse ainda que a pandemia causou este atraso na captação de investidores. “Não adiantava chamar investidor para conhecer as áreas com tudo paralisado e voo suspenso”, considerou. Enquanto isso, o taxista Agostinho dos Santos, que trabalha naquela região há 15 anos, lamenta a demora no processo: “Quando tinha esse Centro de Convenções, o movimento era muito bom para nós taxistas. Aqui não parava, tinha congresso de domingo a domingo. Mas depois que desabou a gente ficou sem nada, tirou o nosso ganha pão”. Agostinho conta que cerca de 30 táxis trabalhavam por ali à época. Hoje só restaram dois, que ficam no ponto em frente ao Farol Inn, hotel que reabriu após o Sotero decretar falência. 

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Prejuízo Morador do bairro, o estudante de odontologia Marco Menezes comenta que o sentimento de ver aquele espaço sem ser usufruído é de decepção: “A sensação foi de decepção, porque a cidade estava precisando. A gente passa por aqui todo dia e se lembra que o governo gastou 15 milhões com a reforma e é isso que temos”. Porteiro de um dos prédios em frente ao antigo Centro de Convenções, Denivaldo Novaes também demonstra aflição em ver o espaço parado: “Tá cheio de mato, tudo enferrujado e ninguém toma providência. Fizeram só cercar  e agora que tão botando bloco porque os muros começaram a cair”. 

 A causa do desabamento em 2016, como apontou o laudo pericial do Departamento de Polícia Técnica, foi a falta de manutenção, gerando “efeitos irreversíveis na oxidação do aço, o que causou o rompimento da estrutura no local do acidente”. Presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação, Silvio Pessoa lembra que desde 2012 alertava ao governo estadual sobre a necessidade de reforma: “Mas o governo veio levando o problema com a barriga até culminar no desabamento”.

 Sem o Centro de Convenções,  Salvador perdeu um nicho de mercado. “Só em diárias de hospedagem, perdemos cerca de R$ 1,4 bilhão em receita, entre 2014 e 2018. Todos os eventos migraram para Recife e Fortaleza”, completa Pessoa. Presidente da Salvador Destination, Roberto Duran compartilha o mesmo ponto de vista:  “Aquele equipamento já vinha precisando de reformas e o desempenho dele já vinha sendo prejudicado há muito tempo.  Não era qualquer evento que você conseguia  fazer ali”. 

Ele ressalta ainda que, com o novo Centro de Convenções construído pelo prefeito ACM Neto aliado à atuação  da Salvador Destination, há um  novo trabalho para dar visibilidade a Salvador no cenário nacional e internacional: “A crise foi causada por falta de representatividade  do destino Salvador e do comportamento do governo do estado que não deu prioridade ao turismo, que representa 20% da arrecadação de impostos e 25% dos empregos. Foram 30 hotéis fechados nos últimos quatro anos. Com a nova entidade Salvador Destination, o prefeito de Salvador voltou a trabalhar esse programa”.

Após o a resposta do governador, a Secretaria Estadual de Turismo (Secult) e a Secretaria de Administração (Saeb) não quiserem se pronunciar sobre o fato. Elas haviam sido procurados pela reportagem no início da manhã de ontem. Sobre o andamento do processo que penhorou o Centro de Convenções por dívidas trabalhistas de R$ 50 milhões da Bahiatursa, o Tribunal Regional do Trabalho (TRT) respondeu que está em fase de perícia contábil, isto é, de calcular o valor a ser pago para cada funcionário. Dessa decisão, cabe recurso. 

Cronologia do caso

23 de setembro de 2016 - Centro de Convenções desaba e deixa três pessoas feridas, um vigilante e um policial militar, nenhuma em estado grave

27 de setembro de 2016 - governo do estado informa que vai demolir o Centro de Convenções por desmonte

29 de setembro de 2016 - três peritos criminais vão ao local examinar quais seriam os motivos do desabamento 

Outubro de 2016 - governo do estado define que a construtora Magalhães Júnior Locações e Serviços seria responsável pelo desmonte do trecho que havia desabado e que a obra deveria ser realizada em 120 dias contados a partir da ordem de serviço, no valor de R$ 1,89 milhão

23 de novembro de 2016 - juíza Ana Paola Diniz, do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região, penhora o Centro de Convenções e a suspende qualquer obra no local em garantia a uma dívida trabalhista, avaliada em R$ 50 milhões, da Bahiatursa

20 de fevereiro de 2017 - peritos fazem nova visita ao Centro de Convenções, acompanhados do engenheiro que projetou o espaço em 1970, Carlos Strauch

Abril 2017 - Justiça do Trabalho suspende a demolição do equipamento porque ele seria usado como garantia de pagamento de dívidas trabalhistas de R$ 50 milhões da Bahiatursa

Agosto de 2017 - Policiais militares flagram dois homens e uma mulher tentando furtar aparelhos de ar condicionado e fios do Centro de Convenções; os roubos foram relatados por moradores da região ao CORREIO e diziam que estavam sendo recorrentes

9 de novembro de 2017 - Laudo da do DPT aponta que desabamento do Centro de Convenções foi causado por oxidação de estrutura e falta de manutenção

Dezembro de 2017 - governo do estado realiza obras de demolição para remover a estrutura remanescente da área que desabou, a fim de eliminar risco às localidades vizinhas e pessoas que passam pelas áreas próximas, segundo a Saeb

Julho de 2019 - Rui Costa anuncia que novo Centro de Convenções será construído no Comércio

Dezembro de 2019 - governador Rui Costa anuncia que vai leiloar o espaço do Centro de Convenções

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro