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Prefeitura interdita obra irregular de prédio ao lado do terreiro Casa Branca

O caso veio à tona depois que integrantes do terreiro denunciaram construção por medo de desabamento

  • D
  • Da Redação

Publicado em 29 de março de 2023 às 22:38

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (Sedur) de Salvador interditou ontem a obra irregular, de cinco andares, que está sendo construída na parte de cima do terreiro Casa Branca - Ilê Axé Iá Nassô Ocá, o mais antigo do Brasil, no bairro do Engenho Velho da Federação.

Em nota, a pasta informou que a interdição ocorreu após identificar material de construção no local. O órgão ressaltou ainda que a construção já havia sido embargada em setembro de 2022 por não possuir alvará de construção e que vem realizando constantemente fiscalização na área.

A imagem do edifício que está sendo erguido assusta pela proximidade da casa-sede do terreiro.

O caso veio à tona depois que integrantes do Casa Branca - Ilê Axé Iá Nassô Ocá denunciaram a situação nas redes sociais, com medo de que a obra de cinco andares desabe em cima do terreiro de candomblé.

"Já está com cinco andares, desafiando autoridades. Construção segue sem qualquer acompanhamento técnico, e isso só aumenta os riscos. Ao desabar, e os riscos disso acontecer são óbvios, destruirá a Casa Sagrada do Orixá Omolu e matará filhas e filhos de santo da Casa Branca", diz o texto publicado no Instagram.

Ainda de acordo com o texto, o terreiro já acionou diversos órgãos e denunciou a situação formalmente perante o Ministério Público da Bahia, que promoveu uma reunião para tratar do assunto. "Ao participar, um professor da UFBA, expert em Geotécnica, à vista dos riscos, recomendou demolição imediata. O IPHAN até agora alegou entraves internos para garantir a salvaguarda do patrimônio sob seus cuidados porque é tombado", continua o texto da denúncia.

O influenciador digital Roger Cipó também denunciou o caso em suas redes sociais. 

"Eu estou chamando a atenção de vocês para preservação de um território que preserva tradições e cultos seculares nesse país e que está sendo ameaçado sob a luz do dia. Nesse momento, em Salvador, acontece um crime a céu aberto e as autoridades pouco estão fazendo", disse.

O Terreiro Casa Branca do Engenho Velho foi o primeiro tombado pelo Iphan e reconhecido como Patrimônio Cultural Brasileiro, além de ser inscrito nos livros do Tombo Histórico e Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, em 1984.

Segundo o Iphan, o Casa Branca é um exemplar típico do modelo básico jeje-nagô, sendo o centro de culto religioso negro mais antigo de que se tem notícia da Bahia e do Brasil (inaugurado por volta de 1830), considerado com a matriz da nação Nagô.

O Terreiro Ilê Asé Ojise Olodumare, através da Associação Afro-Cultural Casa do Mensageiro, publicou nesta quarta-feira (29) uma nota de repúdio sobre a situação do Casa Branca.

"Há uma disputa territorial que invade os terreiros de Candomblé de todo Brasil e põe à prova a nossa capacidade de adaptação aos avanços da urbanização nos nossos espaços sagrados. O racismo religioso e territorial é um termômetro pontual para compreendermos como as diretrizes políticas estão cuidando e preservando os nossos espaços", diz o pronunciamento. 

O texto segue falando do apoio dado ao terreiro. "Diante do exposto e da gravidade da intercorrência nos colocamos à disposição para lutarmos juntos ao Terreiro da Casa Branca através do tensionamento dos poderes públicos responsáveis, em todas as instâncias, para que a tragédia anunciada não se efetive e para que os nossos espaços sagrados sejam, verdadeiramente, amparados pelos equipamentos governamentais."

Veja o texto na íntegra: O CORREIO não obteve retorno do Iphan, do MP-BA nem do MPF.