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Luan Santos
Publicado em 14 de junho de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
O médico Antônio Cardoso, 70 anos, saiu de Itabaiana, no estado de Sergipe, para acompanhar a missa em homenagem a Santo Antônio no Santuário de Irmã Dulce, no Bonfim, na manhã dessa quinta-feira (13). Devoto da freira baiana, que, em breve, será proclamada a primeira santa brasileira, ele levou a família para a celebração a Santo Antônio, de quem Irmã Dulce era devota, e para visitar o santuário, que ficou lotado.
"Para nós, a canonização de Irmã Dulce é uma grande realização, pois reconhece o tanto que ela fez e continua fazendo", diz Cardoso. O movimento registrado nessa quinta-feira reflete o expressivo aumento de visitantes no Santuário da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres desde o anúncio do Vaticano de que Irmã Dulce se tornaria santa, com o reconhecimento de um segundo milagre atribuído a ela. Família do médico Antônio Cardoso visita santuário (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Nesta sexta-feira (14), completa um mês desde o comunicado, que alterou completamente a rotina no local: o aumento no número de visitantes mais que dobrou neste período. Até o dia 14 de maio, 1.746 pessoas haviam passado pelo Memorial Irmã Dulce (MID) no período de um mês. De lá até essa quinta, esse número saltou para 3.667 - o que representa crescimento de 110%.
E esse volume pode ser ainda maior, pois esse controle é feito a partir de assinaturas no livro que fica na entrada do memorial. "Tem gente que não assina. Só na primeira semana, o aumento foi de 220%. É algo novo para nós. Costumo dizer que a Bahia será outra após a canonização de Irmã Dulce", conta Osvaldo Gouveia, assessor de Memória e Cultura das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid).
Ao traçar um perfil desses visitantes, Gouveia diz que houve um incremento da população de Salvador, "como se tivesse redescoberto o santuário", mas também de turistas. Do total de 3.667 visitantes, 40% são da capital, 25% do interior e 35% de fora da Bahia.
Entre os estados, o maior volume de turistas vem de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Sergipe e Minas Gerais. Do exterior, Argentina, Estados Unidos, Portugal e México são os principais países de origem dos visitantes. Gouveia, que fica à frente do MID, diz que tem aumentado muito a demanda por visitas ao local. "Hoje temos uma demanda imensa de agências, comitivas para marcar visitas", conta.
Um dos visitantes de Sergipe foi Antônio Cardoso. O caso dele, contudo, vai muito além de uma mera visita. Ele foi o obstetra que atendeu Cláudia Cristiane dos Santos, que relatou ter tido hemorragia após dar à luz e foi curada após um padre rogar a Irmã Dulce. É o primeiro milagre de Irmã Dulce, em 2001.
"Ela passou pela primeira cirurgia, pela segunda, pela terceira. Pensei que ela iria a óbito. Pouco depois, uma auxiliar de enfermagem veio me chamar para dizer que ela estava chamando e queria ver o filho", revela. "Fui um instrumento dela", complementa, orgulhoso, o médico.
A aposentada Iara Nascimento, 65 anos, também foi à missa. Entretanto, ao contrário de Antônio Cardoso, ela já é frequentadora assídua do santuário e inclusive ajuda nos trabalhos sociais. "A obra de Irmã Dulce é grandiosa e muito bonita. Ela fez e continua fazendo muito pelos mais pobres", afirma.
Território santo O crescimento do fluxo de fiéis, devotos e turistas mobilizou diversos grupos sociais, que se organizaram em torno do Projeto Território Santo, cujo objetivo é fortalecer as atividades do turismo religioso no entorno das Osid. Além da Osid, a ação envolve o trecho da Igreja da Conceição da Praia até o Mosteiro de Coutos. A primeira etapa do projeto, contudo, é de Irmã Dulce até a Igreja do Bonfim. Santo Antônio era o santo de devoção de Irmã Dulce (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A iniciativa envolve uma gama de entidades: Arquidiocese de Salvador, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) e Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Também integram o projeto o Sindicato dos Guias de Turismo do Estado (Singtur), Unifacs, Câmara Empresarial do Turismo da Fecomércio (CET), Conselho Baiano de Turismo (CBTUR), Secretaria de Turismo do município (Secult) e moradores da região.
Estas entidades já estão trabalhando em grupos que atuam no desenvolvimento do projeto, a partir de três equipes: atrativos turísticos, marketing turístico e infraestrutura e articulação institucional. Segundo a coordenadora do projeto, Rosemma Maluf, que é também representante do Conselho das Obras Sociais Irmã Dulce, o grupo vai fazer visita técnica a todos os atrativos turísticos para identificação dos aspectos a melhorar e desenvolver serviços nas áreas onde irmã Dulce trabalhou.
Também está prevista a criação de um aplicativo de apoio ao turista religioso com mapas, listas de produtos e serviços. "Vamos realizar pesquisa de satisfação e perfil dos visitantes, definir ações de marketing e divulgação dos negócios", conta.
O grupo iniciou os trabalhos antes do anúncio do Vaticano e, depois dele, tem intensificado a atuação. O projeto prevê, ainda, realização de microdrenagem nas ruas, revitalização de espaços, estabelecimentos comerciais, criação de hotéis, bares, restaurantes e lojas no entorno, sinalização do caminho (desde a Conceição da Praia até o Bonfim), incorporação da praça Irmã Dulce e estacionamento do Largo de Roma ao Santuário.
Rosemma conta que também está prevista a criação de novos espaços para visitação, como os passos de Irmã Dulce na Ribeira, Santo Antônio Além do Carmo, Alagados e Feira de São Joaquim. "Uma das ações é colocar um totem em cada ponto desse para contar a história do que Irmã Dulce fazia ali, para que o visitante possa conhecer o trabalho que ela fez", diz.
Outra iniciativa é a criação de um espaço de acolhimento para os acompanhantes de pacientes tratados nas Osid, além da população em situação de rua.
Rosemma ressalta que o projeto é, acima de tudo, movido pela fé. "Isso tudo que está nos movendo é a fé que temos em Irmã Dulce, grande força motriz que temos. Não é empresarial, de turismo, mas é a fé que temos em Santa Irmã Dulce", complementa.
Negócio social Coordenadora de Turismo do Sebrae, Hirlene Pereira também participa do grupo e conta que a instalação do café e da lojinha de Irmã Dulce no local já são fruto deste trabalho. Ela ressalta que há um ponto importante no que está sendo planejado em relação aos demais negócios: este é um negócio social.
Houve crescimento na venda dos produtos mais procurados da loja: medalhas (500% de aumento), canetas (100%), imagens (30%), chaveiro (100%) e incenso (65%).
"O foco é no turismo católico e cultural. Irmã Dulce é um ícone para a Bahia e para o mundo. A obra dela continua gerando frutos", diz. Nesse sentido, há um trabalho para a qualificação da mão de obra, dos meios de hospedagem, diálogo com as agências de viagem, para fornecerem, nos seus portfólios, um roteiro para a região.
"É uma nova rota de peregrinação para o turismo religioso e também para o turismo cultural. Vai gerar frutos para as obras sociais, além de desenvolver o território, melhorar a qualidade de vida dos moradores e dos negócios", pontua.
Hirlene ressalta que o turismo católico é fiel, não tem sazonalidade. "Estamos mostrando a força dessa participação do turismo religioso. Naquela região, bares e restaurante têm boa estrutura, mas hospedagem nem tanto. É preciso se pensar em incentivos para que empresas se instalem no lugar, aproveitando inclusive a estrutura de prédios desocupados", frisa.