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Piloto trabalhou 15 dias seguidos antes de acidente fatal na Barra, diz Cenipa

André Textor fazia acrobacias aéreas; acidente foi em 2015

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 16 de julho de 2018 às 18:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: .

O último voo do piloto Robson André Textor, 30 anos, aconteceu no dia 31 de outubro de 2015, diante de centenas de pessoas, enquanto fazia acrobacias aéreas, na praia do Farol da Barra. Naquele dia, a aeronave conduzida por ele perdeu altura e colidiu com o mar - André, como era mais conhecido, não resistiu. Quase três anos depois, as causas do acidente ainda eram desconhecidas. 

De acordo com o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), é possível destacar cinco fatores contribuintes para o desfecho trágico da apresentação da Esquadrilha Textor Air Show, que era composta por André, seu pai e seu irmão. O relatório final do órgão foi concluído em março deste ano. O CORREIO teve acesso ao documento completo nesta segunda-feira (16).  André fazia acrobacias quando o avião caiu no mar (Fotos: Betto Jr./Arquivo CORREIO) Pelo menos quatro desses fatores são atribuídos ao próprio estado físico e emocional do piloto: atenção, julgamento de pilotagem, motivação e percepção.Quanto à atenção, o Cenipa, afirma que existia um possível cansaço decorrente da própria rotina anterior de trabalho que poderia “ter comprometido o nível de atenção requerido para o tipo de voo que realizava e, consequentemente, prejudicado a resposta psicomotora do piloto”. André era piloto agrícola – a família tinha uma empresa do ramo e ele trabalhava diretamente combatendo pragas em lavouras e incêndios florestais. Durante a apuração do acidente, o Cenipa identificou que ele vinha de 15 dias seguidos de trabalho na empresa, devido ao período de safra. Ao fim desse ciclo, na véspera do acidente, ele se encontrou com a família em uma casa de veraneio na Bahia.  André tinha nove mil horas de voo de experiência (Foto: Reprodução) Além disso, o órgão aponta que “existe a possibilidade de o piloto não ter avaliado corretamente a altura necessária para a recuperação da acrobacia” – é o que chamam de ‘julgamento de pilotagem’. Naquele momento da apresentação, André fazia um looping, seguido de uma manobra chamada lanceváque. De acordo com o Cenipa, esse movimento deve ocorrer entre 60° e 90° em relação ao solo. 

No entanto, o órgão acredita que André não tenha começado a manobra nessa inclinação: pela análise, o ângulo da trajetória teria sido iniciado entre 45° e 60°. O próprio Cenipa diz que, na melhor das hipóteses, era o limite mínimo para realizar o movimento. O Cenipa, órgão do Comando da Aeronáutica responsável pela investigação de acidentes aéreos, classifica o acidente como "manobras à baixa altura". André chegou a ser resgatado e levado a um hospital (Foto: Betto Jr./CORREIO) Motivação e percepção Os outros dois fatores – motivação e percepção – também refletiriam condições externas. Primeiro porque André tinha acabado de vencer um campeonato brasileiro de acrobacias; sua próxima meta era conseguir um título mundial. Isso teria “elevado o nível de motivação dele”, que teria passado a considerar a apresentação em Salvador como uma chance de se aperfeiçoar nas manobras. 

Para o Cenipa, isso seria capaz de comprometer a capacidade de ele avaliar os parâmetros de voo e desempenho da aeronave. Por fim, a própria percepção dele teria sofrido influência dessa motivação, além das experiências e expectativas. “Essa condição pode ter contribuído para o rebaixamento de sua consciência situacional durante a operação, afetando processos perceptivos demandados em um voo de demonstração aérea com acrobacias”, afirma o centro. O quinto fator contribuinte seria a aplicação dos comandos. “O uso dos comandos, durante a realização da acrobacia, pode ter colocado a aeronave numa condição não prevista, inviabilizando a recuperação, concorrendo para o desfecho catastrófico”, completam. Não há como afirmar, porém, qual aspecto teria sido mais importante. O nível de contribuição de cada um dos fatores é considerado ‘indeterminado’ pelo Cenipa. André se apresentava com o pai, Ruy, e o irmão, Tiago (Foto: Reprodução/Facebook) Danos na queda Embora a aeronave tenha sofrido “danos substanciais”, o Cenipa concluiu que tudo teria sido causado pelo impacto contra o mar, durante a queda. O motor do avião, um Slick 540, foi examinado e nada que pudesse impedir o funcionamento adequado do voo foi encontrado, segundo o texto do relatório. “Os três segmentos da pá da hélice que permaneceram conectados ao motor apresentavam características de que o sistema propulsor da aeronave desenvolvia rotação antes do acidente”, diz o Cenipa.  O relatório do Cenipa não significa que existe “presunção de culpa ou responsabilidade civil, penal ou administrativa”. Neste caso, o órgão destaca que o objetivo da recomendação é alertar pilotos e operadores da aviação civil sobre os riscos que existem na realização de acrobacias aéreas – em especial, aquelas que ocorrem à baixa altura.

Segundo o relatório, não foram adotadas ações corretivas nem preventivas. A família de André também foi contactada e ainda não se pronunciou sobre o documento.

Perfil  Durante a acrobacia, a aeronave pilotada por André colidiu contra a superfície do mar da Barra - a 300 metros da praia. O avião afundou após o impacto, ficou submerso a 11 metros de profundidade. Equipes de resgate foram acionadas e conseguiram retirar André da aeronave. O piloto foi removido para um hospital porém não reagiu às tentativas de reanimação e morreu.

Os destroços da aeronave foram retirados do mar cerca de quatro dias após o acidente. Segundo o Cenipa, André era considerado um profissional atencioso, estudioso e comprometido com a aviação."Procurava estar sempre atualizado e preparado para a atividade operacional, tendo sua postura profissional marcada pela sistematização e organização. Acompanhava pessoalmente todos os processos de manutenção realizados nos aviões que voava", diz trecho do documento.Para o relatório, o Cenipa reuniu informações obtidas por meio das entrevistas com familiares e pessoas, que conheciam o piloto. O profissional é descrito como experiente - com mais de 12 anos na aviação agrícola e mais de 10 anos de envolvimento na aviação de exibição aérea.

No entanto, era a primeira vez que o piloto realizava um voo de demonstração aérea com acrobacias sobre o mar - mas já havia executado a atividade sobre rios.

O piloto realizou o curso de Piloto Privado - Avião (PPR) no Aeroclube Rio Grande do Sul, RS, em 2003 e possuía licenças válidas de Piloto Comercial - Avião (PCM) e estava com as habilitações técnicas de Piloto de Acrobacia (ACRO) e Piloto de Demonstração Aérea (DMAE).