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Vinicius Nascimento
Publicado em 20 de junho de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Saia rodada, torço, panela entre as pernas e colher de pau em punho, preparando a massa do acarajé. È desse jeito que o artista plástico Bel Borba confecionou a estátua em homenagem às baianas de acarajé, que ficará no trecho da Orla entre os bairros da Pituba e Amaralina
O lugar que vai abrigar essa obra não é difícil de adivinhar: o Largo de Amaralina, que também e conhecido como Largo das Baianas. Feita em concreto e pintada de branco, a composição mede quatro metros de altura e pesa 16 toneladas. De acordo com Bel, a produção, que durou três meses, levou em conta possíveis vulnerabilidades, riscos de danos por eventuais vandalismos, além de uso de materiais que facilitem manutenção.
“Para mim é uma honra imensa e indescritível ter a oportunidade de deixar mais um legado para minha cidade. Acho que é uma justa homenagem que a Prefeitura está fazendo para as baianas, por tudo que elas representam para a nossa cultura e iconografia”, conta Bel Borba. O artista afirmou que a pandemia acabou atrasando os planos e dobrou o prazo de entrega da estátua. No planejamento de Borba, ela seria entregue em 45 dias. Momento da Baiana, em Amaralina, quando ainda estava em construção (Foto: Fernanda Varela/CORREIO) Além de escultura, o mesmo largo ganhará quiosque em madeira com acomodação para dez baianas de acarajé e espaço para uma roda de capoeira. Também serão instalados um parque infantil, equipamentos para academia de ginástica e quiosque para a comercialização de coco.
Presidente da Associação Nacional das Baiana de Acarajé (Abam), Rita Santos afirma que toda a construção do projeto contou com a participação das trabalhadoras e também de grupos de capoeiristas da cidade. A homenagem serve de alento para mulheres que estão enfrentando sérias dificuldades durante a pandemia: sem vendas, não tem comida em casa. Além disso, muitas dessas profissionais estão dentro dos grupos de risco. Idade elevada e doenças como pressão alta e diabetes não são raridade entre elas.
A Abam fez uma vaquinha virtual e, segundo Rita Santos, uma série de doações têm sido fundamentais para montar kits de cestas básicas e distribuir por todo o estado. Algumas empresas também ofereceram ajuda e dessa forma a associação vai tentando prestar um suporte às mulheres que não podem trabalhar. Isso sem contar os casos de baianas que se infectarem e precisaram de internação por causa da covid-19.
"Já perdemos algumas colegas para a Covid-19. Agora por exemplo estamos tentando resolver a internação de uma que é lá de Liberdade e se contaminou. Além disso, eu tenho preocupação de saber para quem as baianas vão vender quando acabar tudo isso. Algumas arriscaram voltar agora e vendem um, dois acarajés. Ou seja, fazem o investimento e não têm retorno", conta.
Segundo a Abam, a orla da Amaralina já contou com 40 baianas credenciadas trabalhando no local durante o período áureo, cerca de 10 anos atrás. Agora, esse número se reduziu. Segundo Rita Santos, a prioridade dos quiosques que serão construídos pela Prefeitura é para as trabalhadoras que já atuam na região.
Requalificação
Um total de R$38,8 milhões será investido mas obras da nova orla Amaralina/Pituba, que estão sendo executadas pelo Consórcio Orla Marítima em um trecho de 3,3 quilômetros de extensão, a partir do Quartel de Amaralina até a Vila Jardim dos Namorados. De acordo com a Prefeitura, 53% das obras de requalificação estão completas.
A revitalização preter dar ao local mais harmonia no paisagismo e elementos que proporcionarão maior uso e apropriação da população ao espaço público. As intervenções englobam a instalação de acessos à praia em todas as paradas de ônibus, que serão dotados de rampas, escadas e pérgula, atendendo a quesitos de acessibilidade.
Ao longo de todo o trecho ainda haverá guarda-corpo e muretas, além de semáforos inteligentes e iluminação LED. A Prefeitura implantará também a primeira Colônia de Pescadores de Amaralina, com 87 metros quadrados, que dará suporte a 20 pescadores que atuam na região.
Desde 2013, a Prefeitura de Salvador já requalificou 22 trechos de orla nos seguintes locais: São Tomé de Paripe, Tubarão, Rua Almeida Brandão, Ribeira, Barra, Ondina, Rio Vermelho, Boca do Rio, Jardim de Alah, Piatã, Itapuã, Farol de Itapuã, Praça Wilson Lins na Pituba e Ponta do Humaitá.
Outros 3 trechos estão com obras em andamento, são eles: Boa Viagem, Amaralina e Prainha do Lobato. Adicional a isso, o trecho de Stella Maris/Praia do Flamengo também está sendo reformado, mas sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult).
*Com supervisão da subeditora Clarissa Pacheco