Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Thais Borges
Publicado em 10 de junho de 2018 às 06:17
- Atualizado há 2 anos
O primeiro sintoma veio há dois anos: olhos ressecados. O empresário e corretor de seguros Marcelo Matos, 46 anos, trabalha diariamente com o celular e o computador – fora o uso nas horas livres. “Eu fico com celular o dia todo e, segundo meu oftalmologista, eu pisco muito pouco. Isso dificulta a lubrificação e sinto esse ardor”, explica.
O primeiro diagnóstico foi há dois anos. De lá para cá, passou a usar um colírio lubrificante quatro vezes ao dia. Na semana passada, voltou a se consultar com o oftalmologista e a prescrição do medicamento continuou. “Quando eu utilizo, não sinto nada. Mas, se eu esquecer, os olhos ardem bastante”.
Marcelo não está sozinho – a situação é muito frequente, devido ao aumento do uso de dispositivos eletrônicos. Uma pesquisa da Johnson & Johnson Vision revelou que esse uso tem feito com que as pessoas cheguem a piscar cinco vezes menos.“O que acontece é que, quando você está focado em qualquer matéria, você acaba piscando menos. Você não lubrifica o olho e começa a ter um desconforto, a arder. Muita gente tem falado que chega um momento que embaça”, explica a oftalmologista Tatiana Souto, da Johnson & Johnson Vision. Embora seja involuntário, piscar é essencial para que as pessoas tenham conforto na visão. Em condições normais, um olho chega a piscar oito mil vezes por dia – ou seja, entre cinco e seis vezes por minuto. Nesse cenário, o olho ressecado pode piscar uma vez por minuto.
No consultório do oftalmologista Amilton Sampaio, presidente da Sociedade Baiana de Oftalmologia (Sofba), é comum que pacientes cheguem com essa queixa. Foi assim com o empresário e corretor Marcelo, que é atendido por ele. “Além disso, o ambiente com ar-condicionado contribui para o ressecamento”, diz o médico.
Segundo ele, há diferentes tipos de ressecamento: o leve, o moderado e o severo. No quadro mais leve, não há muitos problemas. Já quando o ressecamento é moderado, é comum que os pacientes reclamem de embaçamento.
“Geralmente, o mais comum (no caso do uso contínuo de telas) é o mais leve, mas, se além do uso do dispositivo, o paciente tem algum problema ou contribuição de outros fatores, pode passar a ter sintomas moderados”.
O quadro mais grave, por sua vez, costuma acontecer em casos extremos e pode levar à perda da visão. Não é comum que aconteça unicamente pelo uso de dispositivos eletrônicos, mas, geralmente, devido a alguma doença que contribua ou interfira no ressecamento.
Dor e óculos Entre os sintomas, estão o desconforto, a fadiga e o ressecamento em si. Há quem sinta até mesmo dor de cabeça, como aconteceu com o fotógrafo Eduardo Mafra, 27. De tanto ficar focado em telas, principalmente devido a horas no computador, precisou usar óculos para astigmatismo. “Já sentia incômodo em geral, por ficar muito tempo focado em telas que emitam luz, sobretudo por conta das infinitas horas no computador tratando fotos, o que acontecia também com o celular. Se fizer isso hoje, com computador ou celular por muito tempo me dá cansaço e às vezes dor de cabeça”, revela. Ele diz que tem tentado reduzir o tempo em frente a telas, mas, passa, em média, seis horas por dia assim. A depender da demanda de trabalho, isso pode aumentar. Por enquanto, não usa colírios, mas a situação melhora com os óculos.
No caso da estudante Brenda Aguiar, 17, nem os óculos fazem a situação melhorar. Ela conta que a ardência chega a incomodar tanto que, às vezes, não consegue manter os olhos abertos. “Parece até que tem areia dentro. Eu uso o notebook também, mas o principal mesmo é o celular, principalmente para rede social. Passo pelo menos umas cinco horas direto na internet”, diz.
Brenda só sente alívio quando se afasta de alguma tela por um tempo. E essa é justamente uma das recomendações dos médicos. “O principal seria dar pausas realmente, dar alguns intervalos realmente, olha para outros lugares. Vai conversar um pouquinho e tira o olhar da tela, não fica fixado ali”, orienta a oftalmologista Tatiana, da Johnson & Johnson Vision.
Quem usa lentes de contato deve ter atenção especial porque o desconforto pode ser ainda maior, já que as lentes tornam o filme lacrimal mais fino. Foi durante os estudos para a criação de uma lente que a empresa descobriu a redução das piscadas em cinco vezes. “Eles avaliaram conforto, visão e satisfação e perceberam que a queda no desempenho de algumas lentes estava associada à questão dos aparelhos digitais. Por isso, foi desenvolvida uma lente para usuários de aparelhos digitais”, afirma, referindo-se à lente Acuvue Oasys 1-Day.
Já o oftalmologista Amilton Sampaio, presidente da Sofba, recomenda o uso de colírios lubrificantes, além de uma avaliação com um médico especialista, para, assim, identificar se há algum outro fator associado.“Algumas pessoas que têm a pele oleosa, por exemplo, porque a produção da oleosidade da pele interfere na qualidade da lágrima. Existem suplementos vitamínicos que estudos têm mostrado benefícios, mas nada deve ser feito sem avaliação médica”. O uso excessivo dos dispositivos, de acordo com ele, também tem aumentado o índice de miopia na população – especialmente, em crianças. Por isso, ele também indica que se mantenha certa distância entre o aparelho e os olhos.
“Quanto mais próximo do rosto, pior. O ideal é manter algo em torno de 30, 40 centímetros. A gente costuma ver nossas crianças com a mania de ficar com o celular perto do rosto, então, a distância interfere e o excesso de horas também”, pontua o presidente da Sofba.