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Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2021 às 14:02
- Atualizado há 2 anos
O advogado José Luiz de Brito Meira Júnior foi denunciado pelo Ministério Público estadual por feminicídio cometido por motivo fútil contra a namorada, Kézia Stefany da Silva Ribeiro. A denúncia foi oferecida na quinta-feira (4) pelo promotor de Justiça Ariomar Figueiredo, que se manifestou favorável à manutenção da prisão preventiva do acusado. O crime aconteceu no último dia 17 de outubro, no apartamento do advogado no Rio Vermelho.
O laudo cadavérico mostra que Kézia morreu com um tiro na boca. Além disso, o promotor destaca que os peritos não encontraram resíduos de disparo de arma de fogo nas mãos direita e esquerda da vítima. Para ele, isso contraria a versão do advogado de que Kézia estava com a pistola na mão no momento em que aconteceu o tiro - segundo ele, de maneira acidental, enquanto tentava desarmá-la.
O promotor destaca também que se trata de um feminicídio, por se tratar de um crime cometido contra uma mulher, em razão do sexo feminino, em situação de violência doméstica.
A denúncia aponta que atos violentos já haviam sido cometidos antes pelo advogado contra a namorada, o que motivou Kézia a ter o desejo de terminar o relacionamento, depois de se aconselhar com parentes. No dia do crime, os dois brigaram por conta de um desentendimento em relação ao "uso recreativo de entorpecente", segundo a investigação policial. Isso motivou o crime, o que caracteriza um motivo fútil, acrescenta o MP.
Ferimento Um instrumento de ação cortante e contundente. Segundo laudo do Departamento de Polícia Técnica (DPT), foi isso que causou as lesões encontradas no corpo do advogado criminalista José Luiz de Britto Meira Júnior, 50 anos, preso acusado de matar com um tiro a namorada Kezia Stefany, de 21 anos, no último dia 17. O exame de lesões corporais foi realizado 12h após o crime, conforme documento ao qual o CORREIO teve acesso. Em seu depoimento à polícia, José Luiz disse que a namorada usou uma tesoura para atacá-lo durante briga que antecedeu ao disparo que a matou. Foto: Arquivo pessoal O laudo é assinado pelo perito médico legal Marcelo Barreto Bastos e aponta que o advogado tem um corte no braço direito. “Ferida cortante em terço médio do braço direito medindo 40 mm e 30 mm em sua face externa”, diz trecho do documento, que coincide com o interrogatório do acusado no DHPP, ao qual o CORREIO também teve acesso. “Que Kezia pegou uma tesoura e agrediu o interrogado com o aludido instrumento, dentro do banheiro; Que o interrogado foi ferido no braço direito, na altura do ombro; Que o interrogado conseguiu tomar a tesoura das mãos de Kezia”, diz o depoimento.
Para a polícia, o advogado contou que em seguida houve uma luta corporal e, logo depois, ele tentou tomar a pistola de 9 mm que lhe pertencia, e que Kezia teria pego no cofre, que estava quebrado e, por isso, sem travas. Ainda segundo o acusado, a arma acabou disparando, acertando a namorada na boca. A versão de que o tiro foi acidental é questionada pela família da vítima.
O irmão de Kezia, o motorista de carro-forte Devid Francis Silva, afirmou que os dois brigavam constantemente e que, por conta da privação de liberdade que ela sofreria, Kezia já tinha dito que queria terminar o relacionamento.
“Eles se agrediam. Já presenciamos várias situações de os dois estarem arranhados. Os dois trocavam agressões por causa dos ciúmes dele”, disse Devid, no último dia 18. As brigas foram confirmadas por um porteiro que trabalha no condomínio Terrazzo Rio Vermelho, onde ocorreu o crime no dia 17.
Ainda de acordo com o laudo de lesões corporais, José Luiz apresentou equimoses (extravasamento de sangue dos vasos sanguíneos da pele que se rompem formando uma área de cor roxa), que surgem após a pessoa sofrer algum trauma no local, como socos, chutes ou pancada provocada por objetos. O perito aponta também escoriações, que são arranhões, nas regiões orbitaria (ao redor do olho), malar, braços, mesogástrico (abdômen superior) e hipogástrico (abdômen inferior), além de punho e lábio.
Na portaria Instantes depois de chegar ao condomínio na companhia do namorado, a jovem Kezia Stefany da Silva Ribeiro retornou à portaria ensanguentada pedindo ajuda. “Luiz quer me matar ”, disse a vítima, de acordo com o depoimento desse mesmo porteiro que confirmou as brigas do casal. Ele estava de plantão no dia do crime.
O CORREIO teve acesso em primeira mão ao conteúdo do interrogatório do funcionário. Nele, o porteiro disse que, na madrugada do último dia 17, o casal chegou ao Terrazzo Rio Vermelho por volta da 1h30. Cerca de cinco minutos depois, ele percebeu que havia uma confusão no prédio e que uma mulher gritava por socorro. Ele relatou à polícia que, por volta das 2h, Kezia acessou o elevador e chegou à portaria “estando ensanguentada, afirmando: ‘Luiz quer me matar ’”, diz trecho do depoimento, que não especifica o tipo das lesões que causaram o sangramento da vítima.
O porteiro relatou ainda que, na hora, acalmou Kezia, pedindo que ela ficasse na portaria. A namorada do advogado criminalista ficou no local por 15 minutos e depois decidiu retornar ao apartamento onde morava com o acusado. Logo em seguida, o porteiro ouviu um tiro. Minutos depois, Luiz bateu no vidro da portaria, “pedindo auxílio e depois desceu, voltando para o apartamento, trazendo a Sra. Kezia que estava baleada”, conforme trecho do documento.
Um policial perguntou se o porteiro tinha conhecimento de brigas anteriores do casal. “Positivamente, inclusive algumas vezes pediu para proibir a entrada dela no condomínio, mas depois era o próprio sr. Luiz quem a levava ao imóvel.”
Transferido Na tarde desta quinta-feira (21), José Luiz foi transferido para o Batalhão de Polícia de Choque em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ele estava custodiado na Polinter, enquanto aguardava decisão judicial devido à ausência de Sala de Estado Maior para sua reclusão em unidade prisional de Salvador. O Tribunal de Justiça (TJ-BA) determinou a ida dele para o batalhão nesta quarta (20). Uma das testemunhas ouvidas pelo Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), o porteiro de plantão no condomínio Terrazzo Rio Vermelho, disse que o disparou aconteceu por volta das 2h. Meia hora antes, Kezia chegou a ir até a portaria. “Luiz quer me matar ”, disse a vítima, segundo o depoimento do porteiro.
O advogado criminalista foi preso em flagrante, depois de levar a namorada até o Hospital Geral do Estado (HGE) e sair em seguida para casa de um conhecido. Ele foi submetido ao exame de lesões corporais às 14h46, antes de ter sido encaminhado à cela da Polinter.
Gritos e tiro Moradores do condomínio Terrazzo Rio Vermelho, no bairro na Rua Barro Vermelho, relataram à polícia terem ouvido gritos vindos do apartamento onde mora o advogado criminalista. Em denúncia feita à polícia, ainda durante a madrugada, moradores contaram ter visualizado um homem arrastando uma mulher desacordada pelos corredores, deixando um rastro de sangue no caminho. Antes disso, houve disparos de arma de fogo no local, ainda conforme relatos de testemunhas feitos pouco antes da 4h.
No início da manhã deste domingo (17), logo após a madrugada do crime, moradores do condomínio Terrazzo Rio Vermelho que saíram para caminhar ou passear com o cachorro disseram à equipe do CORREIO não terem ouvido nenhum barulho de disparo ou gritos com pedidos de socorro.
No Terrazzo, funcionários confirmaram que algo estranho aconteceu durante a madrugada, mas foram orientados a não comentar nada sobre o caso. Sob anonimato, uma moradora contou que, pela manhã, ainda havia marcas de sangue perto do elevador. Em prédios vizinhos, também pela manhã, moradores recebiam informações em grupos de WhatsApp e já conheciam a identidade do suspeito. Localizado na Rua Barro Vermelho, o condomínio é uma construção à beira-mar, com vista e saída para a badalada Praia do Buracão, e possui segurança 24h, piscina, salão de jogos, spa fitness com jacuzzi, sauna e outros espaços de serviço e lazer.