Irmandade do Bonfim nega 'perseguição' e explica CLT do padre Edson

Destinação de arrecadações das missas das sextas-feiras é um dos pontos de conflito entre o religioso e a Irmandade

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  • Da Redação

Publicado em 29 de maio de 2023 às 10:47

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A disputa envolvendo o padre Edson de Menezes, 65 anos, pároco da Basílica do Senhor do Bonfim, e a Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim, entidade que administra o templo, ganhou mais um capítulo. Em nota enviada ao CORREIO, a Irmandade negou as acusações feitas pelo religioso, segundo as quais, a nova gestão da Irmandade estaria alimentando um clima de "perseguição" e "competição". Conforme o documento, as mudanças administrativas sugeridas recentemente, que incluem a decisão pela assinatura da Carteira de Trabalho do padre e limitação deste quanto ao recebimento das arrecadações financeiras das missas de sextas-feiras e das caixas laterais da igreja, são adequações para a garantia do "cumprimento das disposições estatutárias e do Regimento Interno da Irmandade". 

Na última semana, a disputa que envolve o religioso e parte da Irmandade se tornou pública e motivou reações de ambos os lados. Uma reunião extraordinária chegou a ser convocada pela Irmandade, a ser realizada no dia 1 de junho. O conflito entre o padre e a Irmandade, de acordo com representante da administração, começou após a posse do novo juiz, Jorge Nunes Contreiras, ocorrida este ano. 

No texto, a Irmandade diz que, de acordo com o regimento, "é uma sociedade civil regida pelo direito privado sendo proprietária de todo o seu acervo, ou seja, igreja, casas dos romeiros, imóveis e demais bens que a compõem, na forma das disposições estatutárias devidamente homologadas pelo Senhor Arcebispo Primaz, (art 50)". 

"Desta maneira, para não permanecer espancando os Estatutos, é que o padre, na condição de empregado da Devoção, não poderá continuar a receber as coletas de todas as sextas-feiras, e metade da arrecadação dos dois cofres laterais da Igreja, já que esse fato vinha sendo praticado indevidamente, com a permissão das administrações anteriores em manifesto desrespeito ao Estatuto, chegando a auferir aproximados R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) mensais, sem a devida prestação de contas."

A fim de reforçar o seu direito administrativo sobre o templo, peças e iniciativas ligadas à Basílica do Bonfim, a Irmandade resgata uma manifestação feita por Pe. Edson para fins judiciais, em outubro de 2019: "... a Devoção do Senhor Bom Jesus do Bomfim é a proprietária do imóvel onde está edificada a Igreja do Bonfim, e de todas as obras, imagens sacro sagradas além de todo o seu acervo de obras religiosas que guarnece a Igreja. Portanto, é a sua instituição mantenedora legal, sendo responsável por sua manutenção em geral”.

"Por essas razões, em virtude de a Igreja não pertencer à Arquidiocese, o padre Edson Menezes, que possui apenas atribuições eclesiásticas e litúrgicas, contrariando a sua vontade, terá que ser empregado dessa Irmandade, sob a regência da C.L.T., na forma do parágrafo único, do art.51 do Regimento Interno da Devoção do Senhor do Bonfim, aprovado pelo próprio Cardeal", diz a Irmandade. 

A Devoção do Senhor Bom Jesus do Bonfim também apontou como não verdadeira a declaração do pároco, segundo a qual ele presta contas mensais à arquidiocese e as arrecadações realizadas por ele, nas sextas-feiras, são destinadas aos serviços de manutenção da igreja. 

O que diz o padre Edson Menezes?

Em entrevista ao CORREIO, o padre afirmou que a situação está sendo acompanhada pelo arcebispo de Salvador, Dom Sérgio Cardeal da Rocha. O religioso também questionou a decisão de assinatura da sua Carteira de Trabalho, o que o tornaria um funcionário da Irmandade. "A finalidade é que ele assine minha carteira para eu ficar submisso a ele. Padre não tem carteira assinada, recebe uma côngrua determinada pela arquidiocese, no meu caso sendo reitor posso receber de 3 a 5 salários, uma determinação da arquidiocese", disse Edson. 

Edson é reitor da Basílica do Senhor do Bonfim há 16 anos. Segundo ele, o novo juiz da Irmandade que administra a Igreja é "um tirano", com atitude "de confronto, rivalidade e competição comigo". 

"Sou muito querido pelos devotos e devotas, pelas pessoas que frequentam o Bonfim, que ele não conhece, não sabe das demandas da igreja, desconhece a movimentação da igreja e nunca me perguntou como funciona. Só que já chegou aqui ditando regras".

Na versão dele, a "perseguição" é provocada por fatores como as estruturas criadas por ele, como o projeto social Bom Samaritano e as ações cotidianas na igreja. 

O novo juiz da Irmandade tomou posse em janeiro deste ano. A eleição é decidida por membros da própria Irmandade - são, aproximadamente, 100 - e membros da sociedade civil. Há 277 anos, a Irmandade do Senhor do Bonfim foi criada com o objetivo de zelar pela integridade, o patrimônio e as atividades da igreja. A parte clerical, no entanto, é de responsabilidade da Arquidiocese de Salvador.

Procurada pelo CORREIO, a Arquidiocese de Salvador não quis se manifestar.