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Fonoaudióloga tenta tirar crianças dos pais e assusta famílias na Barra

Pelo menos quatro boletins de ocorrência já foram registrados por pessoas diferentes

  • D
  • Da Redação

Publicado em 15 de setembro de 2022 às 07:57

. Crédito: Shutterstock

Uma mulher se aproxima de pessoas que estão acompanhando uma criança e começa a tentar afastar o menor de idade dos seus conhecidos. Relatos de vítimas que vivenciaram situações como esta na região da Barra, em Salvador, têm circulado nas redes sociais e no WhatsApp. “Se a gente não impedisse, ela ia levar meu filho embora”, diz uma mãe assustada em um dos áudios que foi encaminhado em grupos de pais da capital baiana. Outras mulheres alegam ter sido perseguidas pela mesma pessoa.

Uma mãe que passou pela situação com o filho de 9 anos no domingo (11), registrou um boletim de ocorrência virtual sobre o acontecido na terça-feira (13) e contou à reportagem com detalhes os momentos de tensão. Dani Baqueiro, 39, conta que passeava com o pai e o filho na região do Porto da Barra, quando foram abordados por uma mulher jovem e com perfil de atleta.

Leia também:Fonoaudióloga é levada ao Juliano Moreira após depor sobre tentativa de rapto de crianças​​​​​​​

“Ela começou a fazer polichinelos com meu filho e chamou ele para correr. Nós, que estávamos tranquilos por ela estar próxima, começamos a nos olhar e não gostar da situação. Foi quando ela puxou ele pela mão e começou a se afastar de nós. Gritamos o nome dele e ela corria cada vez mais rápido”, conta Dani. 

Segundo conta, o pai teria corrido bem rápido até conseguir alcançar a mulher e o filho e separar os dois. O medo deles é que a mulher colocasse o menino dentro de algum automóvel e o levasse embora, já que eles ficaram afastados durante um momento. 

Dani afirma que ficou muito assustada e tensa, mas que teve receio de ter interpretado a situação erroneamente e que na verdade a mulher não tinha feito nada demais. Foi quando relatos parecidos começaram a surgir, que ela se preocupou com a proporção do ocorrido. 

“O mesmo sentimento que eu tive, de que poderia ter sido paranoia minha, outras pessoas tiveram e por isso não registraram queixa”, diz. Mesmo após a situação, Dani conta que ficou com medo e viveu momentos de ansiedade.“Eu fiquei com o coração acelerado e tive muitos sintomas de ansiedade ao longo do dia e na segunda-feira. Até ontem eu estava com a sensação de que iria reencontrá-la”, afirma Dani BaqueiroO relato de outra mãe, sobre uma situação parecida e no mesmo dia, também circula nas redes sociais. Maria (nome fictício) é advogada e não mora em Salvador, mas estava em um restaurante na orla próximo ao Porto da Barra no último domingo. No local, ocorria um evento fechado em que participava com sua mãe, uma tia e o filho pequeno. 

Maria conta que ficou ao lado do menino a maior parte do tempo, mas que se afastou por alguns minutos e o deixou com os parentes em uma mesa. Foi nesse momento que a mesma mulher se aproximou de seus familiares, especialmente do filho. Depois de um momento de interação, segurou o menino pelo braço e tentou levá-lo para fora do restaurante. 

“Minha mãe contou que essa mulher chegou na mesa dizendo que era para meu filho não mexer no celular e tentou pegar o aparelho da mão dele. Minha mãe logo de cara não gostou dessa atitude [...] Ela ficou interagindo com meu filho, chamando ele para brincar e correr. Depois ela ficou insistindo para sair com ele, dizendo que era para ‘procurar a mamãe’, foi aí que meu filho deu a mão e ela saiu arrastando ele pelo local”, conta. 

A avó do menino, mãe de Maria, assustada com a situação, levantou e não deixou a mulher levar a criança: “Minha mãe disse que teve que puxar ele pela mão, falou desaforos para ela e a mulher ainda saiu rindo”. Depois disso, ela teria continuado no estabelecimento, até que foi abordada por uma responsável do local e convidada a se retirar, já que o evento era privado. 

Maria não ficou sabendo da situação de cara porque sua mãe só veio contar o que tinha acontecido horas depois, com medo de qual seria a reação da filha. “Só me falaram de tarde porque as pessoas sabem que eu iria atrás dela naquele momento”, diz. Foi aí que Maria gravou um áudio relatando a situação para amigos, que encaminharam a mensagem de voz. Apareceram então cerca de 10 relatos parecidos de até um ano atrás envolvendo a mulher, uma fonoaudióloga que mora em Salvador.

Segundo Maria, pessoas que a conhecem chegaram a afirmar que é possível que ela esteja sofrendo de problemas psíquicos. O receio de Maria é que a fonoaudióloga acabe se metendo em brigas por conta de sua postura.“Ao que tudo indica, ela é uma pessoa vulnerável que pode estar precisando de ajuda. Mas ela pode acabar apanhando e se machucando porque está se metendo com os filhos das pessoas”, afirma. Os relatos acabaram se cruzando nos grupos de WhatsApp e mais pessoas disseram conhecer a mulher suspeita e ter presenciado situações parecidas. Com os áudios e fotos viralizando, a fonoaudióloga acabou sendo identificada. Como há suspeita de que a mulher sofra de problemas psiquiátricos, a reportagem decidiu preservar a identidade dela. 

Denúncias Procurada, a Polícia Civil informou que tomou conhecimento da notícia crime por meio das redes sociais, entrou em contato com os pais das supostas vítimas e agendou oitivas. A delegada responsável pela Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca) solicitou a presença deles na unidade policial para prestar esclarecimentos. 

O Conselho Regional de Fonoaudiologia da 4º Região (Crefono 4), responsável pelo estado da Bahia, confirmou que a suspeita é inscrita no conselho regional. A instituição ainda afirmou que recebeu algumas denúncias contra a profissional, que foram encaminhadas à Comissão de Orientação e Fiscalização para que sejam apuradas e tomadas as medidas cabíveis. 

O Crefono 4 não disse qual o teor das denúncias, nem a quantidade ou quando foram feitas. O Conselho reforçou ainda que todo cidadão pode fazer denúncias de irregularidades na Fonoaudiologia através do site. 

A suspeita se apresenta como fonoaudióloga especialista em sua biografia no Instagram. A especialidade, no entanto, não consta no site oficial do Conselho Federal de Fonoaudiologia. Segundo fontes do Conselho, caso fosse especialista, sua inscrição deveria constar no site de abrangência nacional. Ela foi procurada, através das redes sociais, mas não deu retorno. Em seu perfil no LinkedIn, consta que ela se formou na faculdade Unime e que possui pós-graduação em autismo. 

Perseguições

A Polícia Civil também afirmou que outro boletim de ocorrência registrado na terça-feira (13) envolvendo a fonoaudióloga será encaminhado à 14º Delegacia Territorial da Barra. A publicitária Michelle Chelles, 28, que diz ter sido abordada pela mulher também no domingo (11) foi a responsável por registrar a ocorrência. Ela será intimada para prestar esclarecimentos, segundo a polícia. 

Michelle conta que corria na orla da Barra quando foi abordada pela suspeita próximo ao Morro do Cristo. A fonoaudióloga teria tratado Michelle como se elas se conhecessem e começou a correr muito próximo dela. Chegou um momento em que a suspeita chegou a filmá-la enquanto a mulher corria. 

“Ela colou no meu ombro e começou a correr no meu ritmo, sem parar de me seguir. Ela ficava dizendo que ia colocar o ‘exército dela na rua’ e eu não dei atenção em momento algum. Chegando em Ondina, ela começou a pedir para eu pegar meu celular”, conta a publicitária. “Nisso ela pegou o celular dela na pochete que usava, eu até fiquei com medo do que ela tiraria de lá. Foi quando ela começou a me filmar [...] Depois eu consegui me esconder no meio de algumas pessoas e percebi que ela ficou me procurando”, completa. 

Em um vídeo postado no Instagram na quarta-feira (14), a escritora Bárbara Carine, que tem mais de 90 mil seguidores, relata que também já foi perseguida pela mulher e que já prestou queixas. Bárbara é idealizadora da Escolinha Maria Felipa e conta, no vídeo, que a fonoaudióloga chegou a ir diversas vezes na escola para persegui-la. 

“Ela entrou no banco de trás do carro e sentou do lado da minha filha e eu abri a porta do carro e pedi para ela sair [...] Depois daquele dia ela passou a perturbar muito e começou a ir bastante na escola nos horários que as famílias chegam. Ficava dizendo que a ‘mulher dela estava lá dentro e a filha dela também’, chegou a chutar o portão”, diz Bárbara Carine. A escritora afirma que espera uma medida judicial para que a suspeita não possa mais se aproximar dela. Bárbara foi procurada, mas não retornou aos questionamentos da reportagem. 

*Com orientação de Monique Lôbo.