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'Era o melhor calígrafo de Salvador', diz professora sobre artista morto a tiro

O sonho do grafiteiro era ter uma exposição com suas obras. Amigos se organizam para ajudar a realizar o enterro

  • Foto do(a) author(a) Hilza Cordeiro
  • Hilza Cordeiro

Publicado em 13 de fevereiro de 2020 às 21:18

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Imagem cedida por Djan Cripta
. por Reprodução/Acervo familiar

Amigos e familiares do grafiteiro espancado e morto a tiro na madrugada desta quinta-feira (13), no Imbuí, organizaram um encontro na pista de skate dos Barris para reunir afeto e levantar apoio financeiro para custear o enterro. O artista Jailson Galdino Souza dos Santos, 27 anos, conhecido como Scank foi assassinado enquanto trabalhava com um amigo, que também foi espancado, em uma obra na Avenida Jorge Amado.   Professora de antropologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e ex-sogra dele, Roca Alencar esteve no ato e falou com o CORREIO sobre a trajetória artística de Scank em Salvador. Ele tinha 19 anos quando a docente o conheceu num evento na Ufba sobre arte de rua, que reuniu pesquisadores de São Paulo, entre eles Djan Cripta, pichador paulista reconhecido internacionalmente. “Ele era alguém que você via o brilho no olhar. Desde 2011, vínhamos ajudando a alavancar a carreira dele porque ele era um grande talento, era genial. Era o melhor calígrafo de Salvador”, comentou a professora universitária Roca Alencar.O pichador Djan Cripta também manifestou tristeza pela morte do artista. " É muito triste porque a expectativa que a gente tava nele era muito grande, um talento sem igual. Tinha certeza que ele ia despontar. Mas é isso, a gente vai seguir na luta com a memória dele", comentou.

Scank foi o artista responsável pela pintura de uma das vacas da CowParade, leiloada e exposta atualmente no Centro de Treinamento do Bahia, em Dias D'ávila. O grafiteiro pertencia ao Coletivo Lama Original Marginal, que realiza festivais de rap na cidade e que inclui na programação atividades audiovisuais, de pixação e poesia. Scank era irmão do ator e cantor Vírus, artista apresentado pelo rapper Baco Exu do Blues.

No Instagram, Vírus escreveu que a morte de Scank significava a perda de um dos "maiores artistas plásticos/pichador de todos os tempos". O pichador era irmão mais velho do cantor. Vírus disse ainda que Scank lhe ensinou muito, que se espelhava no irmão e que era seu maior fã, mesmo com as diferenças entre eles. "Hoje não foi um dia fácil", resumiu ele, ao agradecer as condolências de conhecidos.

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Em nota, o Coletivo Lama também se manifestou sobre o falecimento. "Ainda não caiu nossa ficha também. Qualquer pessoa que acompanhe minimamente a pixação sabe da relevância dele para o movimento em Salvador e no Brasil. Mais do que isso era nosso amigo e também um dos organizadores de tudo que fizemos até hoje com esse coletivo. Não temos palavras para descrever o que sentimos nesse momento", escreveram eles, que reuniram dinheiro do caixa do coletivo para ajudar no sepultamento. Baco, inclusive, repostou nos stories do Instagram a foto-mensagem. 

Ainda segundo Roca Alencar, o sonho do rapaz era ter uma exposição. Scank chegou perto de realizar. Em memória dele, amigos estão tentando organizar uma mostra na Casa Mídia Ninja, no Rio Vermelho.

O sepultamento do rapaz será nesta sexta-feira (14), às 14h, no Cemitério de Brotas. As pessoas que quiserem ajudar a realizar o sepultamento do artista podem fazer um depósito para Roselene Cássia de Alencar (Roca Alencar) na Caixa Econômica Federal, com os seguintes dados: Agência 1021,conta corrente 7558-8, CPF 31325246549

Scank posa ao lado da vaca que grafitou para a CowParade. A obra foi leiloada e hoje está no Centro de Treinamento do Bahia (Foto: Reprodução/Acervo familiar)

Relembre

O grafiteiro Jailson Galdino Souza dos Santos, 27 anos, conhecido popularmente como Scank, foi morto com um tiro pelas costas enquanto trabalhava com um amigo na Avenida Jorge Amado, próximo à entrada do Bate Facho, bairro do Imbuí, na madrugada desta quinta-feira (13). O amigo dele, identificado como Jerry, foi espancado e socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Marback. Não há informações sobre os autores do crime.

De acordo com familiares, Scank e Jerry estavam parados e conversando antes de iniciar a pintura de um muro na Jorge Amado, quando cerca de cinco homens armados surgiram e começaram o espancamento. Ao tentar fugir, Scank foi baleado com um único tiro e morreu no local. Os familiares, no entanto, garantem que os rapazes não tinham qualquer rixa com alguém que possa ter cometido o crime.

"Eles estavam trabalhando, fazendo o que mais gostavam. Não sabemos o que aconteceu de fato, era de madrugada. Quando fomos avisados, já tinha uma equipe da polícia no local aguardando a remoção do corpo", contou a ex-sogra do grafiteiro, Roca Alencar.

Ao CORREIO, a mãe do artista, a autônoma Leonice Gaudino, contou que o filho não tinha nenhuma relação com o local do crime e ele que estava apenas trabalhando com o amigo, a quem conhecia há mais de 10 anos e com quem trabalhava junto em projetos.

"Meu filho não andava naquela região, ele foi ali somente para fazer o trabalho dele. Não sei como aconteceu. Só me falaram que mataram ele pelas costas, com um único tiro. Ele fazia as pinturas dele e, nas horas vagas, me ajudava com as vendas e entregas das minhas quentinhas", afirmou.

O corpo de Jailson ainda está no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML) aguardando liberação dos familiares. No entanto, o enterro do rapaz já foi agendado para as 14h desta sexta-feira (14), no Cemitério Municipal de Brotas.

Em nota, a Polícia Militar diz que foi acionada e já encontrou Scank ferido na rua. "No início da manhã desta quinta-feira (13), o Cicom informou que havia um elemento caído ao solo na Avenida Jorge Amado, no Imbuí. Uma viatura da 39ª CIPM chegou e isolou a área. O DHPP e o DPT estiveram no local. O corpo foi removido ao IML", diz o texto. Já a Polícia Civil informou que o caso está sendo investigado pela 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico). 

Confira algumas grafitagens de Scank espalhadas por Salvador:

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Do ano passado

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