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Nilson Marinho
Publicado em 26 de fevereiro de 2019 às 10:36
- Atualizado há 2 anos
O empresário Crispim Terral, 34 anos, acusa a Caixa Econômica Federal de racismo, após ter sido expulso de uma agência e retirado à força pela Polícia Militar, que atendeu ao chamado da gerência da unidade, que fica no Relógio de São Pedro, na Avenida Sete de Setembro, em Salvador. A ação, que ocorreu na tarde da terça-feira (19) passada, foi toda gravada e as imagens divulgadas em uma rede social do empresário. Crispim é proprietário da Farmácia Terral, em Salinas das Margaridas, no Recôncavo baiano.
Crispim denunciou que, após esperar por mais de quatro horas na agência, para receber um atendimento, o gerente pediu que ele se retirasse. Após negativa do cliente, o funcionário acionou uma equipe da Polícia Militar.
Em contato com o CORREIO, Crispim contou que, durante dois meses, vem mantendo contato com a agência bancária para receber o comprovante de pagamento de dois cheques. Um no valor de R$1 mil e outro no de R$1.056 - ambos foram devolvidos pela agência, em novembro do ano passado, sob alegação de que não havia saldo na conta para compensá-lo. No entanto, após o pagamento, o valor foi descontado. Ele cobrava o estorno de R$ 2.056, retirado de forma indevida da sua conta, e o comprovante de que o pagamento havia sido efetuado pelo banco.
Espera Após ir sete vezes na agência e não conseguir solucionar o problema, o empresário resolveu procurar atendimento mais uma vez na semana passada - ele estava acompanhado da filha de 15 anos. O empresário disse que foi atendido por um gerente de prenome Mauro."Ele me tratou de forma indiferente em relação aos outros clientes que estavam lá. Eu tive que esperar durante quatro horas até me cansar e ir até à mesa do gerente geral", contou. Cansado da espera, o cliente resolveu tentar solucionar o problema com o gerente geral, identificado por ele como João Paulo. Ele afirma que o funcionário o tratou de forma ríspida ao ser questionado sobre o tempo de espera e o atendimento prestado."Ele então acabou chamando a polícia depois que eu me recusei a sair da mesa dele. Após uma hora, os policiais chegaram no local e, à princípio, não fui maltratado. Eles quiseram me conduzir à delegacia junto com o gerente geral, mas ele afirmou que só iria se 'esse tipo de gente' saísse algemada. Só quem sofre o racismo, sente a dor", contou. Mata-leão Depois de se recusar a ser algemado, o empresário acabou recebendo um "mata-leão" - golpe de estrangulamento - de um dos PMs. O vídeo do momento em que Crispim é imobilizado foi gravado pela filha de 15 anos. "Também acredito que sofri racismo por parte do policial, porque sequer esbocei uma reação, estava tranquilo. Podem até pedir as imagens das câmeras de segurança do banco. Minha filha ficou em pânico", disse.
Crispim afirma que foi conduzido pelos policiais em uma viatura à Central de Flagrantes, onde foi autuado por desobediência e resistência. Logo em seguida, ele procurou uma unidade de saúde - a UPA dos Barris - onde recebeu atendimento por sentir fortes no maxilar, cabeça, pescoço e ombro esquerdo. Ele prestou uma queixa contra os PMs na Corregedoria da Polícia Militar na quarta-feira (20).
Segundo o relato do empresário, registrado na Corregedoria e disponibilizado por ele em uma rede social, os soldados Roque da Silva e Rafaeal Valverde Nolesco iniciaram as agressões físicas contra ele dentro da agência, onde ele foi imobilizado com uma gravata, e levando-o ao solo, diante de sua filha de 15 anos. Registro na Corregedoria da PM (Foto: Reprodução) Respostas Em nota enviada ao CORREIO, a Caixa Econômica afirmou que apura as circunstâncias do caso. "A Caixa informa que está apurando e tomará todas as providências cabíveis. A CAIXA ressalta que repudia atitudes de discriminação cometidas contra qualquer pessoa", disse. Na quarta (27), a Caixa Econômica informou que afastou o funcionário.
“Estamos apurando. Recebemos o vídeo e encaminhamos à Corregedoria (PM) para que fossem ouvidas todas as pessoas envolvidas, inclusive saber da atuação policial e com certeza daremos uma resposta”, disse o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa.
Em nota, a PM informou que o 18º Batalhão da Polícia Militar (BPM/Centro Histórico) foi acionado por prepostos da agência porque um dos clientes se recusava a deixar a agência, mesmo após o término do expediente.
A nota diz ainda que, no local, os policiais militares conversaram com o gerente da agência e ele relatou que o homem estava solicitando um comprovante de transação, que não poderia ser fornecido naquele momento, e pediu a remoção do cidadão do interior do estabelecimento em razão do encerramento do expediente bancário.
"Os policiais, então, dirigiram-se ao homem e solicitaram que ele acompanhasse a equipe junto com o representante da agência bancária à delegacia, para formalização da ocorrência em razão do impasse gerado pelo conflito de interesses. Os policiais relataram que o cidadão começou a se exaltar e dizer que não sairia da agência sem ter a sua demanda atendida, contrariando a recomendação das autoridades que intervieram no conflito", diz a nota.
A PM alega ainda que "houve a necessidade de empregar a força proporcional para fazer cumprir a ordem legal exarada, mesmo após diversas tentativas de conduzi-lo sem o emprego da força. Ele não foi algemado. O vídeo divulgado mostra uma condução técnica dos policiais militares na ação e também observa-se uma edição suprimindo parte do ocorrido".
Ainda segundo a polícia, uma sindicância será instaurada pelo 18º BPM para apurar todas as circunstâncias da intervenção policial. A polícia informa também que, apesar de ser um estabelecimento federal, quando a PM é acionada tem o dever de atender a ocorrência.
Uso de algemas De acordo com o porta-voz da PM, capitão Bruno, o uso das algemas é recomendado aos policiais em situações em que os suspeitos “expõem riscos aos integrantes da polícia ou a si mesmo”.
“Como, por exemplo, quando o indivíduo está se debatendo e fora de controle. Nesse caso, é preciso uma contenção policial”, explicou o capitão.
Ainda de acordo com o porta-voz, parte do vídeo foi suprimido e, por isso, uma sindicância está sendo aberta para tentar resgatar o que aconteceu momento antes do empresário receber o "mata-leão" do policial.
“O vídeo tem uma edição, ele foi editado de forma a induzir esse entendimento. Há um momento que foi suprimido, vamos utilizar também imagens da própria agência para apurar. O relato dos policiais é de que eles tentaram por diversas vezes, e de forma amigável, fazer com que ele se retirasse da agência para acompanhá-los à delegacia, mas ele afirmou que só sairia depois que sua demanda fosse atendida. Ele chegou a se exaltar, falando alto com os PMs”, afirmou.
Posicionamento O presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Augusto Vasconcelos afirmou que a associação repudia qualquer tipo de preconceito. Ele disse ainda que o sindicato está reunido com funcionários e superintendentes da Caixa.
"O sindicato não compactua com nenhuma prática racista, inclusive temos um departamento de combate ao racismo e estamos entre as entidades que mais participam das manifestações de combate ao racismo institucional. Por outro lado, não achamos correto linchar a reputação das pessoas sem ouvir o outro lado. Compreendemos que é necessário que haja apuração antes de se emitir qualquer posicionamento. A priori, o sindicato está reunido com a superintendência da Caixa com os colegas da agência. Existem outras versões para o episódio que consideramos necessários serem ouvidas", disse.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro