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Em todo canto: 30% dos bancários se afastam do trabalho por covid-19 na Bahia

Só neste mês, mais de 50 agências fecharam as portas temporariamente por conta da doença

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  • Da Redação

Publicado em 26 de janeiro de 2022 às 05:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Divulgação

Tosse, febre, mal-estar e dor de garganta. A recomendação é clara para quem apresenta esses sintomas: testagem e isolamento. Com 19.995 casos ativos na Bahia, segundo o último boletim divulgado na segunda-feira (24) pela Secretaria de Saúde (Sesab), muitos profissionais estão afastados do trabalho. As baixas atingem setores diversos e, em alguns casos, trazem transtorno à população. 

No setor bancário, 30% dos funcionários do estado foram afastados em janeiro por causa da contaminação por covid-19, o que representa 5.100 pessoas. Na terça-feira (25), dez agências estavam fechadas devido aos surtos, sendo nove delas na capital e uma em Itapetinga. Só neste mês, mais de 50 agências fecharam as portas temporariamente pelo mesmo motivo. “Com esse alto número de funcionários afastados, aumenta a sobrecarga de trabalho e as dificuldades de atendimento à população, tendo em vista que as pessoas recorrem para outras unidades, impactando em mais filas, estresse e adoecimento ocupacional”, afirma o presidente do Sindicato dos Bancários Augusto Vasconcelos. Os bancos não exigem comprovante de vacinação, mas o presidente do sindicato apresentou um projeto na Câmara de Vereadores de Salvador em dezembro do ano passado, que prevê a necessidade do passaporte vacinal para conter o avanço da disseminação da doença.  Agência do Bradesco na Avenida Joana Angélica fechada por conta de surto da covid-19 “Se nosso projeto for aprovado, será obrigatória a vacinação dos funcionários e clientes para entrar nas agências. Exceto na hipótese de o cidadão ter um atestado de saúde que impeça de tomar a vacina”, explica Vasconcelos. O projeto deve ser votado na retomada das sessões da câmara em fevereiro. 

Saúde

Entre os profissionais de saúde, a contaminação também avança. Entre o primeiro dia do ano e o dia 25 de janeiro, 2.610 profissionais da área tiveram covid-19 no estado, segundo dados da Sesab. Os mais afetados são os auxiliares e técnicos de enfermagem, que já acumulam 15.855 infectados ao longo de 2021 e 2022. Os médicos ocupam o segundo lugar com 4.801 contaminados na Bahia. Só na segunda-feira (24), 142 trabalhadores da saúde testaram positivo para a covid-19, de acordo com a Sesab. 

No total, 55.303 profissionais já se infectaram com a covid-19. Um médico que trabalha no setor de urgência em um hospital em Jequié, no centro-sul do estado, começou a apresentar sintomas da doença na primeira semana de janeiro. Ele conta que como possui vínculo jurídico com o hospital e não é regido pelas normas da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), só poderia faltar ao trabalho caso conseguisse outro profissional para cobrir seus plantões. 

“Tentei passar os plantões para outros colegas, mas não consegui. Tive que trabalhar doente, mas mantendo os cuidados”, relata. Para piorar o cenário, ele conta que na época não havia testes disponíveis na cidade. Mas sintomas como falta de olfato e paladar o fazem acreditar que foi realmente contaminação pelo coronavírus.

A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado da Bahia (Sindsaúde), Ivanilde Brito, afirma que o cenário de profissionais afastados está exigindo remanejamentos.

“Alguns setores estão tendo dificuldades, mas está havendo remanejamentos para que os serviços essenciais continuem funcionando. Temos que ter jogo de cintura”, afirma a presidente. Segundo Ivanilde, o Hospital Geral do Estado (HGE) chamou funcionários que estavam de férias para cobrir a falta dos colegas que estão afastados pela covid-19. 

O Hospital Aristides Maltez, em Salvador, também sente os impactos das baixas. Na segunda-feira (24), os atendimentos da triagem, ambulatórios gerais e cirurgias eletivas foram suspensos, após 176 funcionários da equipe médica terem resultado positivo para a covid-19. O número representa 10% da equipe. Cirurgias de urgência e emergência, funcionamento de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e tratamentos de radio e quimioterapia estão mantidos.

“A cidade está cheia de turistas, o que é bom para a economia, mas não temos os devidos cuidados que deveríamos ter. A covid não acabou, estamos tendo um retrocesso novamente”, diz Ivanilde Brito. A presidente do Sindsaúde também cobra controle de capacidade e higienização dos transportes públicos da cidade que, segundo ela, contribuem para a disseminação do vírus. 

Lea Santos Lima é coordenadora de reabilitação na secretaria de Saúde de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, e está afastada por conta da covid-19. “Hoje completam sete dias e devo fazer o teste de antígeno para voltar a trabalhar”, conta. A recepcionista do local onde trabalha também testou positivo e está em casa. 

“Como eu sou coordenadora, quando alguém chega com sintomas gripais eu já afasto e mando fazer o teste, mas nem todo mundo consegue”, relata Lea. Segundo ela, funcionários acabam tendo dificuldades em fazer a testagem e vão para o trabalho mesmo assim. Ela também atua como fisioterapeuta em um hospital da rede privada na capital: “Lá tem muitos colegas afastados por causa da covid. Estão tendo remanejamentos para funcionários cobrirem setor diferentes, mas atuando na mesma área”. 

Educação

O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB) demonstra receio com o retorno das aulas por conta do aumento do contágio. O presidente da APLB, Rui Oliveira, estima que cerca de 10% dos profissionais da educação do estado estejam afastados. Ele conta que só na direção do sindicato em Salvador, dez pessoas estão contaminadas. 

“Falei para a Secretária de Educação que não acho conveniente fazer a semana pedagógica de forma presencial, nem na rede estadual e nem na municipal. Por conta da disseminação da covid-19 pela variante Ômicron”, afirma o presidente. Rui explica que como as aulas presenciais ainda não retornaram, é difícil ter um número exato de profissionais doentes. 

Comércio

Nos shoppings da capital a situação não é diferente. Nas Casas Bahia do Shopping Piedade, em Salvador, houve um surto de covid-19 em funcionários este mês, segundo Alfredo Santiago, coordenador jurídico do Sindicato dos Comerciários. “Ainda estamos compilando os dados de 2022, mas eles já mostram uma preocupação muito grande. Estamos vendo surtos em muitos shoppings", afirma. Ainda segundo Alfredo, o Shopping da Bahia foi o que mais recebeu denúncias sobre casos de contágio em lojas.

O Sindicato dos Comerciários estima que cerca de 15% da categoria esteja afastada devido à contaminação. Alfredo Santiago relata que muitas empresas relutam em liberar os funcionários sintomáticos: "Os trabalhadores são, em sua maioria, forçados a trabalhar mesmo com os sintomas, têm dificuldades em se afastar e ainda são ameaçados". A reportagem tentou entrar em contato com a Associação Brasileira de Shoppings Centers na Bahia, mas não obteve retorno. 

Outros setores também possuem funcionários afastados. A Polícia Militar da Bahia informou que 182 oficiais estão afastados no estado por conta da covid-19, o que representa 0,86% do total de trabalhadores. A reportagem também solicitou dados da Polícia Civil, mas ainda não teve retorno. Em Feira de Santana, 17 trabalhadores de uma agência dos Correios, no bairro Vila Olímpia, estão afastados por conta da doença. 

Em outra agência da cidade, no bairro Capuchinhos, três funcionários estão afastados. Os Correios não informaram a quantidade total de trabalhadores com atestado na Bahia, mas disseram que nenhuma agência precisou ser fechada. A Associação Geral dos Taxistas (AGT) divulgou que, em janeiro, 41 casos de covid-19 foram confirmados entre os motoristas. Só em 2021, 76 profissionais foram à óbito por conta da doença no estado.

A Secretaria Municipal de Gestão (Semge) foi procurada, mas informou que ainda não possui dados sobre os profissionais afastados no município. Já a Secretária de Administração do Estado da Bahia (Saeb) afirmou que não compila esses dados, uma vez que o afastamento de funcionários infectados é automático e não passa por nenhum outro setor burocrático. 

Ministério da Saúde diminui para dez dias o prazo de afastamento por covid-19

Em uma portaria publicada na terça-feira (25), o Ministério da Saúde determinou a diminuição de 15 para dez dias o prazo de afastamento de trabalhadores com casos confirmados de covid-19, suspeitos ou que tiveram contato com casos suspeitos. O texto diz ainda que o período pode ser reduzido para sete dias, se o funcionário apresentar resultado negativo em teste do tipo RT-PCR ou RT-LAMP. Ou ainda teste de antígeno a partir do quinto dia após o contato. 

A redução vale para casos suspeitos, caso o trabalhador não tenha apresentado febre nas últimas 24 horas, sem tomar remédios antitérmicos e com a melhora dos sintomas respiratórios. O texto também diz que as empresas devem adotar medidas para evitar aglomerações e manter o registro atualizado sobre contaminados à disposição dos órgãos de fiscalização. 

A nova medida altera a portaria de junho de 2020, que determinou regras para a adoção do teletrabalho. Agora, na ocorrência de casos suspeitos ou confirmados, o empregador pode adotar o trabalho remoto como uma das medidas para evitar aglomerações. A portaria foi assinada em conjunto pelos Ministérios do Trabalho e Previdência.

Com casos ativos perto de 20 mil, trabalho remoto volta a ser opção

O aumento de casos ativos de covid-19 tem feito com que setores retomem o trabalho remoto para diminuir os riscos de contaminação. O Ministério Público do Estado (MP-BA) adotou o formato híbrido até o dia 31 deste mês. O órgão estava funcionando somente em caráter presencial desde novembro do ano passado. 

Segundo a determinação, os servidores só podem exercer suas atividades presencialmente em quantitativo diário de 30% do quadro de pessoal da unidade e em escala de rodízio. A recomendação é que os atos administrativos, sempre que possível, sejam realizados em vídeos conferências. O MP-BA levou em consideração o aumento da transmissibilidade do coronavírus devido à variante Ômicron e o surto de gripe, causado pelo vírus Influenza. 

A Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) também adotou o mesmo protocolo de restrições do início da pandemia, em março de 2020. Até o dia 31 de janeiro, apenas serviços essenciais terão acesso às dependências da Assembleia, sendo vetado o acesso do público externo. A decisão foi tomada levando em consideração o avanço da Ômicron e, como o Legislativo está em recesso, não será necessária a realização de sessões plenárias remotas. 

A Câmara de Vereadores de Salvador também empregou o sistema remoto até o dia 31 de janeiro. Somente atividades de manutenção predial, informática, serviços gerais e segurança patrimonial podem ser realizadas presencialmente. O presidente Geraldo Júnior, recomendou que todos os vereadores e servidores mantenham as medidas preventivas contra o coronavírus durante o período.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.