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Alexandre Lyrio
Publicado em 7 de outubro de 2017 às 22:58
- Atualizado há 2 anos
Discrição e simplicidade foram duas características que lhe acompanharam ao longo da vida, mesmo quando a popularidade do marido atingiu o mais alto grau. Embora casada com o mais influente político baiano, Arlette Maron de Magalhães mantinha distanciamento regulamentar do universo em que ACM gravitava desde que foi eleito deputado estadual em 1954. No entanto, era à esposa que ele recorria antes de selecionar novas amizades e firmar alianças políticas.>
Nas conversas com os amigos mais próximos, ACM costumava elogiar a capacidade de Dona Arlette em separar joios e trigos. “Se sua mulher não gostar de alguém, é sinal de que a pessoa não presta. E a minha me ajuda bastante nisso”, dizia. Para frequentar a residência do casal, era necessário passar sem ranhuras pelo funil da esposa, conhecida pela cautela em escolher quem podia ou não desfrutar da intimidade familiar, traço que remonta a sua origem árabe.>
Filha de Carlos e Odete Maron, imigrantes libaneses que desembarcaram no Sul da Bahia no início do século XX, Arlette nasceu em Itabuna no dia 15 de novembro de 1930. À época, os Maron já haviam se consolidado como uma das mais respeitadas e ricas famílias de cacauicultores da região, donos de grandes fazendas e imóveis. Para aprofundar os estudos, foi morar em Salvador, onde conheceu o futuro marido, ainda estudante da Faculdade de Medicina da Ufba. Católica praticante, Dona Arlette encontrou o papa João Paulo II na visita do pontífice à Bahia (Foto: Arquivo/CORREIO) Apaixonados, se casaram em 1952, mesmo ano em que o jovem Antonio Carlos Magalhães se formou médico. Ela rica, ele de classe média e no início de carreira. A princípio, moraram na casa dos pais de Arlette, localizada na Penha, então área nobre da Cidade Baixa. Anos depois, ACM contou aos amigos mais próximos que, inicialmente, o sogro não enxergava nele um futuro promissor, ao contrário do que pensava a filha.>
Nos anos seguintes, Arlette foi testemunha da ascensão do marido, com quem teve quatro filhos: Antonio Carlos Júnior, Teresa, Ana Lúcia e Luís Eduardo, os dois últimos já falecidos. Apesar da visibilidade de ACM, ela manteve o temperamento discreto e avesso a badalações. Sempre evitou envolvimento com política e holofotes, mesmo nas três vezes em que foi primeira-dama da Bahia.>
Embora fosse rica de berço e casada com uma personalidade central da República, Dona Arlette nunca deu espaço para o luxo ostensivo. Vestia-se com elegância, mas sem vaidades comuns aos altos círculos de poder. >
Preferia cuidar da casa e dos filhos, organizar a rotina pessoal do marido, ajudá-lo a tomar decisões em momentos importantes e receber amigos, como o casal Jorge Amado e Zélia Gattai. Um de seus hobbies prediletos era assistir às novelas das 20h com ACM, fã não assumido dos folhetins televisivos. >
Apesar da timidez de Dona Arlette diante de pessoas com as quais não tinha intimidade, os amigos a descrevem como uma mulher extremamente simpática, cordial e generosa. Para os familiares, era também doce, amável, presente, atenta e hábil conselheira. Católica praticante, ia às missas todos os domingos e tinha devoção fervorosa por Santo Expedito, o das causas urgentes e justas.>
Como presidente das Voluntárias Sociais, deu vazão a outra marca de seu caráter: a solidariedade, expressa através do apoio aos órgãos assistenciais da Igreja e entidades da sociedade civil, sempre sem alarde. Até a morte, continuou fazendo o que mais a realizava: ajudar o próximo sem pedir qualquer aplauso.>