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Da Redação
Publicado em 24 de outubro de 2012 às 06:49
Leo [email protected] “Bora, passa essa porra!”. Diante da sentença do ladrão, o que você faz? A) Entrega tudo; B) Corre ou grita; C) Resolve não levar desaforo para casa e vai pra cima do bandido? A primeira escolha da tatuadora Paloza Cersosimo, 30 anos, foi a alternativa C— considerada a incorreta pela Polícia Militar. A reação a uma tentativa de assalto, sábado à tarde, na praia de Amaralina, resultou em uma marca no rosto e um desabafo no Facebook, que até a noite de ontem foi compartilhado por mais de 700 internautas da rede social. Em São Paulo, a reação da adolescente Caroline Silva Lee, 15, foi fatal: ela foi morta com dois tiros durante assalto na madrugada de domingo por não entregar de imediato a mochila e o celular exigidos por três bandidos, em Higienópolis, bairro nobre da cidade. “É o que acontece com quem reage”, afirmou, em depoimento à polícia, o acusado de ser o autor dos disparos.De tocaiaEm Salvador, Paloza estava sentada, conversando com uma amiga, quando um casal de adolescentes tentou levar o celular. “A gente se deu conta de que estavam nos olhando, mas achei que não aconteceria nada. Cinco minutos depois, tentaram segurar meu celular e eu disse que não ia dar”, lembra.Na luta para não entregar o aparelho, ela chutou o ladrão, que caiu, enquanto a comparsa correu. O que Paloza não esperava era que uma galera surgisse na praia para agredi-la.“Corri pra pegar a menina e recebi um murro com uma pedra. Não vi quem foi, só sei que tinha mais umas cinco pessoas. Ainda assim fui pra cima deles e todos correram”. Paloza procurou a polícia e, segundo ela, não encontrou. “Entrei num táxi para não perder de vista os ladrões que seguiam em direção ao Largo das Baianas. Rodei procurando a polícia, mas não encontrei uma viatura”, lamentou.A tatuadora confessa que agiu por impulso. “Eles estavam de mãos vazias. Não parei pra pensar. Achei muita cara de pau um pivete querer tirar o que é meu”, relatou. Hoje, de cabeça fria, diz que faria diferente. “Não reagiria novamente, mas estou muito desacreditada de proteção em Salvador. Semana passada, vi um desfile de viaturas novas, mas quando precisei de uma não encontrei em lugar nenhum”, criticou Paloza, referindo-se às 250 viaturas entregues semana passada pelo governo do estado. Ela garantiu que ainda ligou para o 190, mas não recebeu atendimento eficaz. “Em Amaralina, apesar de ser movimentado, é muito perigoso. Deveria ter policiamento constante. O jeito foi agir por mim mesma”, relatou.De acordo com o coronel Ivanildo Castro, diretor operacional da Superintendência de Telecomunicações (Stelecom) da Secretaria da Segurança Pública (SSP), quem tiver reclamações relacionadas ao serviço 190 pode procurar a sede do órgão no Quartel da PM, no Centro Administrativo da Bahia (CAB). “Desconheço o fato, mas estamos dispostos a apurar a reclamação e tomar as medidas disciplinares cabíveis. Esse tipo de reclamação não é comum”, assegurou.óculos quebrados Com o mesmo entendimento da tatuadora, o gestor de redes sociais Raoni Ferreira, 23, acabou “saindo na mão” com um assaltante em pleno feriado do Dois de Julho. Sem acatar a ordem do bandido para entregar o celular, Raoni colocou o aparelho no bolso. “Falei que não ia entregar e ele veio pra cima. Tomei dois murros e dei um. Além de perder o celular, tive os óculos quebrados”.Mesmo tendo sido vítima de diversas abordagens, Raoni admitiu que reagiria novamente. “Não gostei de me sentir vítima da violência e encarei. Se perceber que o ladrão não está armado, nem adianta. Do contrário, recuo”.E para quem acha que a atitude impensada é reservada aos jovens, a jornalista Ana Virgínia Oliveira, 28, conta que a mãe dela já partiu para cima de um bandido que encostou na janela do veículo com um caco de vidro.“Ele queria minha bolsa e o celular. Minha mãe olhou feio pra ele, abriu a porta do carro e saiu com a bolsa como se fosse bater nele”, disse. O caso aconteceu na Chapada do Rio Vermelho, perto da Corregedoria da Polícia Civil.Com a fuga do ladrão, as duas caíram na risada. “Ele deve ter achado que ela era policial, que estava armada, ou era frouxo mesmo. Minha mãe se acabou de rir da situação”. Depois do susto e da brincadeira, Ana diz que a ação foi impensada. “Não se deve reagir a assaltos, porque não se sabe a disposição e o estado psicológico do criminoso”. A PM orienta que, em casos de assalto, a vítima não reaja e acione o órgão pelo 190.Como agirNão reajaEm caso de assalto, não tente fugir; responda apenas o que lhe for perguntado, jamais encare os assaltantes e tente manter a calma.Não faça movimentos bruscosE alerte o criminoso sobre os gestos que pretende realizar, como pegar uma carteira. Lembre-se sempre de que pode haver outra pessoa dando cobertura ao crime.Prefira locais iluminadosEvite locais com pouco movimento ou escuros.Na bolsa Evite carregar mais de um cartão de crédito, grande quantia de dinheiro ou todo o talão de cheque; não ostente joias.Contra furtosMantenha sempre a bolsa segura entre o braço e o corpo, com a mão sobre o fecho. Em locais movimentados, leve-a na frente do corpo.Fique de olhoMantenha-se alerta e não pare para atender pessoas que lhe despertem desconfiança.RegistroSempre registre a ocorrência numa delegacia policial.Fonte: Polícia MilitarReação provoca resposta maior do marginal, diz especialistapor Alexandro MotaNão reagir a um assalto ainda é a melhor atitude. As palavras são do coordenador do Observatório da Segurança Pública e professor do doutorado em Desenvolvimento Urbano da Unifacs Carlos Alberto Costa Gomes. O especialista, no entanto, pondera que ser obediente e não esboçar reação não é uma forma de proteção.“Com a reação, é possível uma resposta maior ainda do marginal. Mas não podemos afirmar que não reagir é uma garantia de que o criminoso vá deixar a pessoa em paz”, explica.A imprevisibilidade é ilustrada com o caso de um assalto a uma padaria no Costa Azul — mesmo não reagindo, a caixa foi alvo de bandidos. “O sujeito mostrou a arma para a caixa da padaria, colocou o dinheiro no bolso e saía em direção ao carro. Do nada, se virou e deu um tiro em direção a moça, que se salvou por causa de um material de metal do balcão. Ela não reagiu”, conta. Para o professor, um comportamento preventivo e precauções básicas de segurança deveriam vir antes do autoquestionamento sobre reagir ou não quando o sujeito estiver em uma situação de um assalto.“A cidade não tem um policiamento básico e os criminosos se utilizam justamente do fator surpresa. Mas, se tem uma coisa que é possível cada uma ter controle é o seu grau de exposição”, afirma.Ele lista situações em que as pessoas ficam mais vulneráveis: ouvir música na rua, com fone de ouvido, ou falar ao celular. “É uma vítima fácil, está distraída, sem ver o perigo. Isso deve ser evitado”, alerta.Para o especialista, é falacioso afirmar que se submeter ao assaltante evita uma agressão como as sofridas pela tatuadora Paloza Cersosimo, 30, em Amaralina.“Se tornou algo cultural apontar como errada a pessoa que reage a um assalto, há uma censura social. Isso é um absurdo, é a pessoa que está sendo violentada, está tendo um bem subtraído”. CORREIO mostrou falhas na segurança em praiasA praia de Amaralina, local onde a tatuadora Paloza Cersosimo sofreu uma tentativa de assalto no sábado, está entre os pontos críticos da orla de Salvador, apontados por frequentadores em reportagem publicada pelo CORREIO no dia 17 de outubro.Paloza diz que, no sábado, dia da agressão, procurou a polícia e, segundo ela, não encontrou nenhuma viatura ou policial militar pelo caminho. Ela seguiu os criminosos de táxi em direção ao Largo das Baianas.Em nota, a assessoria de comunicação da PM informou que o policiamento nas imediações do quiosque das baianas, na região de Amaralina, é realizado através de radiopatrulhamento - com uma guarnição de policiais militares que, além de permanecer no local, realiza rondas em toda a localidade.Além da praia do Budião, em Amaralina, quem costuma ir às praias da capital reclama da falta de segurança em outros trechos, como o Jardim dos Namorados, Aeroclube, praia do Corsário, areal de Piatã e Farol de Itapuã.De acordo com a assessoria de comunicação da PM, todos os dias é realizada na orla a Operação Cooper, com 62 policias e 3 viaturas, entre 5h e 10h. À noite, são 150 policiais divididos entre a orla e outros pontos turísticos, mais 6 viaturas, das 18h às 23h. Em toda a extensão, a orla é coberta por 5 companhias independentes, além dos esquadrões Águia e da Polícia Montada, e pela Rondesp.Com relação ao 190, segundo o diretor operacional da Stelecom, coronel Ivanildo Castro, o serviço funciona 24 horas por dia com até 17 atendentes em horário de pico. “Por dia, são mais de 8 mil ligações e 25% delas são trote. O número de atendentes é suficiente para atender Salvador e Região Metropolitana”, observou.Paloza reforça que encontrou dificuldades para acionar o 190. “Eles ficam transferindo as ligações. Daqui que a polícia chegue, é capaz da vítima já estar morta. Amaralina deveria ter policiamento constante”, sugeriu a tatuadora.