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Wendel de Novais
Publicado em 29 de setembro de 2022 às 11:57
- Atualizado há um ano
Familiares, amigos e colegas de farda lotaram a capela principal do Bosque da Paz, em Salvador, para o sepultamento do subtenente Alberto Alves dos Santos, 51 anos, que foi morto em ação da Polícia Militar da Bahia (PM) na última terça-feira (27) em uma pousada na cidade de Itajuípe, no sul do estado.
Desde as primeiras horas do dia, o cemitério, que fica no bairro do Trobogy, estava muito movimentado. Em parte consternados pela partida do subtenente Alves, como era conhecido, e em outra revoltados pela forma como ele foi morto, os entes mais próximos não conseguiram conter a emoção.
Sem condição de falar com a imprensa, mãe e filhos da vítima ficaram por horas ao lado do caixão. Quem também estava lá era Elisabeth Alves, irmã do subtenente que pediu Justiça e cobrou que a PM assuma que um erro causou a morte dele.
"Chega de impunidade porque meu irmão não era vagabundo e a polícia precisa admitir que eles erraram, entendeu? Ele amava a polícia, tinha 24 anos na polícia e era honrado. Precisam assumir que mataram meu irmão dormindo", falou.
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Elisabeth, que em 1999 perdeu outro irmão policial assassinado, questionou a versão dada pelo comando da PM sobre o caso e ainda fez duras críticas à declaração do governador Rui Costa na última quarta-feira (28).
"A polícia precisa assumir e Rui Costa, mentiroso que falou que meu irmão trocou tiro, é mentira. Ele morreu dormindo, não teve nem defesa. Meu sentimento é de dor e revolta. Quero justiça, não pode ficar impune a morte dele", completou.
Em meio às centenas de pessoas que lotaram toda a extensão da capela e a sua entrada, era possível ver a emoção entre os policiais fardados. Sem querer gravar entrevista, PMs afirmaram que o caso é um golpe duro pelo fato da morte ser resultado de uma ação da corporação.
Um dos colegas de farda, que preferiu não se identificar, chegou a questionar a versão de que os policiais responsáveis pela ação que matou o subtenente teriam os confundido com criminosos.
"Quem é polícia, sabe quando o outro é polícia. Ainda mais daquela forma com o colega dele gritando que era. Não dá para entender o porquê disso e nem o que fez eles atirarem. Dói muito ver um integrante ser morto por ação da própria polícia", afirmou.
Cunhado do subtenente Alves, Raimundo Freitas dos Santos também falou sobre o sentimento de tristeza da família com toda a situação. Ele destacou a personalidade gentil do policial.
"Ele era um exemplo de cidadão, um bom policial e não tinha nada contra ele. Era um homem doce, que não tinha inimigos. Dá pra ver aqui o tanto de amigos que tinha. Ninguém entende porque isso aconteceu. A família está perdida porque realmente não tinha qualquer razão para isso", disse.
O subtenente fazia parte da equipe de segurança do candidato ACM Neto (União Brasil) e estava em Itajuípe para um evento de campanha que aconteceria no dia seguinte em Coaraci. Neto esteve no velório prestando solidariedade à família e também exigindo uma investigação mais rigorosa. "Acima de tudo nesse momento precisamos que tudo seja esclarecido. Esse fato não está esclarecido. A versão oficial do comando da polícia não é verdadeira. Não houve confronto. Os policiais que sobreviveram já se pronunciaram. O subtenente foi brutalmente assassinado enquanto estava dormindo. Na ponta você tem uma operação policial desastrosa. Nada justifica o que aconteceu da forma que aqueles policiais agiram. Chegaram matando. E até agora não ouvimos falar de punições imediatas a esses policiais".
O prefeito Bruno Reis também esteve no enterro e disse que respostas precisam ser dadas. "Sabemos que os PMs trabalham 24h e folgam 72h. Sempre nessas 72h eles fazem outras atividades. Durante 20 anos, ele colaborava com a gente. Já deu assistência muito a nosso trabalho. A gente lamenta hoje a perda de um policial que foi sumariamente assassinado", afirmou. "Por que ocorreu essa operação sem eles terem nem condição de se apresentar?".
Alberto Alves dos Santos foi enterrado por amigos, familiares e colegas de trabalho sob palmas de todos que o conheceram.
Entenda o caso Um subtenente da Polícia Militar identificado como Alberto Alves dos Santos, de 51 anos, foi morto por outros policiais militares em ação na cidade de Itajuípe, no sul da Bahia, no final da noite de terça-feira (27). O policial fazia parte da equipe de segurança de ACM Neto. Um sargento da PM também foi baleado e segue internado.
A SSP informou que a situação se originou com a busca por um assaltante de banco. Identificado como André Marcio Jesus, conhecido como Buiu, ele tem ligação com uma facção criminosa paulista e deixou o Complexo Penitenciário de Lauro de Freitas na terça às 13h30, com benefício de saída temporária, usando tornozeleira eletrônica.
Por volta das 14h30, Buiu rompeu a tornozeleira, quando estava na BR-324, perto de Candeias. A PM deu início nas buscas e quando as equipes estavam em Uruçuca, também no sul do estado, um assaltante de banco identificado como Bismark e um comparsa foram abordados e trocaram tiros com os militares. Os dois foram mortos. Buiú segue como foragido.
Nas buscas, os policiais foram informados sobre a presença de homens armados em um hotel em Itajuípe e foram até lá. No local, dois homens foram abordados e não reagiram. A SSP informou, no entanto, que outros dois homens, armados, reagiram quando os PMs se aproximaram. Segundo a pasta, dois soldados que estavam em serviço foram baleados na ação. No tiroteio, os dois homens que estavam no hotel, posteriormente identificados como policiais, também foram feridos e um deles morreu.
Os homens, identificados como o subtenente Alberto Alves dos Santos e o sargento Adeilton Rodrigues D'Almeida, foram socorridos. O subtenente não resistiu aos ferimentos e o sargento segue internado, mas sem riscos de morte.
Ambos estavam na cidade para compor a equipe de segurança do candidato ao governo da Bahia ACM Neto (União Brasil), em evento no município de Coaraci, cidade vizinha de Itajuípe. Nas redes sociais, Neto lamentou a morte e suspendeu a agenda.
O comandante geral da PM diz que todo o caso será esclarecido. "Lamentamos o confronto. Estamos solidários às famílias e a determinação é que toda a ocorrência seja esclarecida. As armas foram recolhidas e o local do confronto preservado para a realização de perícia", disse o coronel Paulo Coutinho.
Sargento diz que policiais ‘entraram atirando’ O sargento Adeilton Rodrigues D'Almeida, que também faz parte da equipe de segurança do candidato ao governo da Bahia ACM Neto, relatou que estava dormindo quando foi alvejado. “Os policiais entraram quebrando as janelas e as portas, mesmo eu gritando o tempo todo 'sou polícia, sou polícia’", contou.
A vítima também informou que os PMs atiradores não prestaram socorro imediato e que ele precisou rastejar até a porta do hotel onde o grupo estava para buscar ajuda. “Eu implorei: ‘me dê socorro, por favor, me coloque na ambulância’. Ele me ajudou depois, mas de forma hostil”, disse a vítima.
O sargento disse que os policiais pegaram a arma dele e atiraram diversas vezes no quarto para insinuar um confronto.