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Ronaldo Jacobina
Publicado em 29 de março de 2020 às 16:00
- Atualizado há 2 anos
Tão logo foram anunciados os primeiros casos do novo coronavírus no Brasil, o empresário espanhol Eduardo Valdez, radicado na Bahia há mais de 20 anos, correu para o abraço. Não literalmente, claro, afinal o distanciamento social já era, e continua sendo, uma das principais recomendações das autoridades médicas de todo o mundo para controlar o avanço da pandemia. O abraço veio em forma de ações preventivas para proteger os moradores do condomínio em que mora, o Edifício Pedra do Sol, no Largo da Vitória, onde exerce a função de síndico.
O edifício de nove andares, datado dos anos 1970, reúne, em sua maioria, pessoas idosas, público esse, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é um dos mais vulneráveis às complicações caso seja infectados pelo vírus. “Estava acompanhando a situação na Itália e, sobretudo, na Espanha, o meu país, onde a curva cresceu muito rápido, e pensei: preciso agir rápido para, pelo menos, proteger a minha família e os meus vizinhos”, conta.
Como não podia convocar uma reunião de condomínio emergencial, o síndico decidiu telefonar para todos os apartamentos e falar com cada um dos moradores para sugerir ações e ouvir sugestões sobre as medidas que planejava tomar para evitar a transmissão da doença. “A receptividade foi boa, então me empolguei”, brinca.
A primeira providência foi conversar com os funcionários do prédio para conscientizá-los da situação e pedir o apoio deles. Daí, o síndico partiu para examinar a planta do prédio para saber onde poderia instalar duas pias para a lavagem das mãos. Assim o fez. Uma na portaria e outra na garagem. “Colocamos tubulação externa para não quebrar paredes, afinal, isso é temporário e, além de reduzir custos, exigiria menos tempo para execução. Afinal, a situação era emergencial”, explica. Síndico mostra equipamentos de proteção - Foto: Acervo Pessoal Instaladas as pias, foram colocados, em cada um dos pontos de água, suportes plásticos para sabão e toalhas de papel para que as pessoas pudessem lavar e secar as mãos. Ao lado de cada um dos equipamentos foram fixados cartazes com instruções para a lavagem das mãos e orientações de pegar a toalha de papel para usar no botão e porta dos elevadores, evitando tocar nessas áreas sem proteção.
Da pia até os elevadores, o síndico marcou o piso traçando o caminho para que as pessoas seguissem a trilha obedecendo as áreas demarcadas que ele classificou, e escreveu no chão, área limpa e área suja.
Mas a cautela não parou por aí. Ao lado de cada um dos pontos de lavagem, o síndico colocou no chão umas bandejas com água e solução com uma solução química (água sanitária) para que as pessoas limpassem os sapatos antes de subirem para os seus andares. “Para evitar levar o vírus para cima”, justifica. Eduardo Valdez achava que isso estava de bom tamanho, mas as notícias chegavam o tempo todo e, a cada momento, surgiam novas formas de se infectar, como por exemplo, através das compras que os moradores traziam para casa. “Precisava agir também nessa frente”. A solução encontrada foi colocar uma mesa na portaria e outra na garagem onde instalou cestos com sacos plásticos, para que as pessoas pudessem transferir as compras e descartar ali as embalagens vindas dos mercados. Dali, os itens são transportados nos cestos higienizados para seus apartamentos com a orientação de que lá em cima serem higienizados antes de serem guardados. Após isso, os moradores devolvem os cestos nos elevadores e os porteiros recolhem, higienizam e recolocam na mesa para o próximo que chegar. No total, o condomínio investiu cerca de R$ 1 mil nas iniciativas.Aprovação As iniciativas do síndico vêm sendo aplaudidas pelos moradores. “Uma das primeiras atitudes bacanas que Eduardo fez foi ligar para todos os moradores e perguntar se tínhamos álcool em gel para doar para o condomínio, visto que ele não estava encontrando para comprar. Depois, foi implementando outras ações para proteger os moradores, especialmente os idosos, como minha mãe que tem mais de 80 anos. A gente só tem que aplaudir atitudes como essa, de quem pensa no coletivo”, diz a administradora de empresas Suzana Viana, moradora do prédio há mais de 30 anos. Valdez ressalta que nada disso teria dado certo não fosse o apoio dos moradores e, sobretudo, dos funcionários. “Todo mundo abraçou a causa, isso me estimulou e me deixou satisfeito”, diz. Sobre os funcionários, o síndico ressalta que estes são os primeiros a orientar as pessoas que chegam ao prédio. “Eles compraram a ideia e estão fazendo um excelente trabalho de conscientização e fiscalização”, diz.
E conscientização para além do condomínio, segundo revelou o porteiro Airton dos Santos de Souza. “Não são foram só os moradores que aprovaram as medidas, os visitantes, especialmente os entregadores dos serviços de delivery, gostam de vim aqui porque aproveitam para lavar bem as mãos. Na chegada e na saída”. Que sirva de exemplo!
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