Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 9 de novembro de 2020 às 18:38
- Atualizado há um ano
Railan assistia a um baba na rua onde morava quando foi atingido por disparo (Foto: Reprodução) Um garoto autista, de apenas 7 anos, morreu após ser baleado, neste domingo (8), no bairro do Curuzu, em Salvador. Segundo familiares, Railan Santos da Silva foi atingido por um disparo durante um tiroteio envolvendo a Polícia Militar. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos.
De acordo com a tia da criança, Maria Aparecida Alves de Lima, Railan estava acompanhando uma partida de futebol amador no local quando os policiais chegaram fazendo disparos.“Ninguém sabia o que estava acontecendo. A polícia entrou atirando. Não foi para o alto, foi para matar”, disse.O avô, identificado como Roberto, disse que estava na porta de casa quando ouviu os tiros. "Ele era um menino inocente, autista. Sempre a polícia chega lá e faz isso, já chega atirando. Nós queremos justiça. Ele não é o primeiro, tem vários. Quero ver qual a providência vai ser tomada", desabafou, durante o sepultamento, que aconteceu na tarde desta segunda-feira (9), no Cemitério da Quinta dos Lázaros.
"Uma coisa é morrer por doença ou por acidente. Mas ele morreu por causa de ignorantes com uma arma na mão", completou o irmão da vítima, que preferiu não se identificar.
A mãe de Railan, Fernanda Oliveira, também lamentou e pediu justiça. "Como alguém pode dar um tiro nas costas de meu filho? Ele era uma criança inocente. Isso é muito covardia, muita covardia"."Enquanto a gente ficar falando, eles sempre vão fazer. Como tiram a vida de uma criança especial?", completou a mãe do garoto.Socorro Segundo a tia, Maria Aparecida, os policiais não queriam deixar que Railan fosse socorrido, mas um morador insistiu e o levou, de moto, até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Avenida San Martin. "Pode atirar nas minhas costas, mas eu vou prestar socorro”, teria dito o morador, segundo a tia da criança.
Ainda conforme a tia, os policiais recolheram as cápsulas das balas disparadas no local."A polícia é para proteger. Muitos honram a farda, mas muitos não honram, parecem mais bandidos", afirmou. Railan adorava futebol, sonhava em ser jogador e sempre acompanhava as partidas que aconteciam no bairro, inclusive ajudando a buscar a bola quando ela saía do campo. “Era uma criança inocente e sem maldade na cabeça”, descreve a tia Maria Aparecida.
Versão da polícia Segundo a Polícia Civil (PC), os policiais envolvidos na ação já foram ouvidos no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), assim como os familiares do garoto.
Além disso, a PC comunicou que o inquérito para apurar o caso já foi instaurado e que o laudo para descobrir de onde partiu o tiro que atingiu Railan deve ser concluído em 30 dias. O caso está sendo investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS).
Em nota, o Departamento de Comunicação da Polícia Militar informou que homens da 37ª CIPM realizavam rondas de motocicletas na rua dos Frades, no Curuzu, no domingo, por volta das 10h40, quando "ao passar na avenida principal, onde estava havendo uma partida de futebol no meio da rua, populares levantaram a rede usada como alambrado para as viaturas passarem".
"Nesse momento diversos suspeitos dispararam contra a guarnição, enquanto fugiam no sentido contrário ao da concentração de pessoas. Houve revide por parte da guarnição, contudo, os suspeitos conseguiram fugir do local", informa nota da PM.
Ainda segundo a assessoria, os policiais militares apreenderam quatro estojos de munição 9mm, dois de munição calibre 45 intactas e um projétil deflagrado, indo em seguida para o DHPP registrar o fato.
"Posteriormente, os policiais foram informados que deu entrada na UPA da San Martin uma criança de 7 anos, alvejada no peito, na rua da Contenda, na Liberdade. A criança foi socorrida por populares, mas não resistiu ao ferimento e veio a óbito. Populares relataram que dois indivíduos em uma moto fizeram os disparos. O DHPP vai investigar o caso", conclui o comunicado da PM.
Situação recorrente Segundo a tia do garoto, não é a primeira vez que uma situação envolvendo policiais acontece na sua família. “Eu tenho um neto de 13 anos, e na semana retrasada a polícia entrou aqui na San Martin e foi a mesma coisa. Chamaram ele de ‘coisa ruim’, pegaram o celular e disseram que ele estava mandando mensagem pra alguém. Isso tem que parar, não pode ficar mais assim", pede, emocionada.
Ainda de acordo com amigos e familiares, uma vizinha de Railan também morreu após o epísódio. A mulher teria sofrido um infarto após os tiroteio e deixou nove filhos.
*Colaborou Nara Gentil.