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Da Redação
Publicado em 6 de fevereiro de 2023 às 15:41
- Atualizado há 2 anos
As mortes de 12 pessoas pela Polícia Militar na comunidade de Vila Moisés, em Salvador, que ficaram conhecidas no Brasil como “Chacina do Cabula”, completaram nesta segunda-feira (6) oito anos. Na ocasião, uma operação conduzida por nove policiais militares, divididos em três guarnições, acabou com 12 pessoas mortas e seis gravemente feridas - todas as vítimas com idade entre 15 e 28 anos.>
O processo tramita em segredo de justiça. A última atualização que se tem conhecimento ocorreu em fevereiro de 2019, quando a Procuradoria-geral da República recorreu da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que negou a federalização do caso. >
De acordo com a PGR, o STJ reconheceu haver grave violação a direitos humanos e risco de responsabilização internacional para o Brasil se o caso não foi devidamente investigado. No entanto, em decisão proferida em 28 de novembro de 2018, o tribunal entendeu que, após anulação da sentença absolutória expedida pelo Tribunal de Justiça da Bahia, não há mais fatores que impliquem na incapacidade de as autoridades estaduais julgarem o caso.>
Federalização O pedido de julgamento na esfera federal foi realizado em junho de 2016 pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot. À época, ele sustentou a ação com uma “ausência da necessária neutralidade/isenção na condução das investigações” realizadas na Bahia, além das ameaças sofridas pelo promotor de Justiça atuante no caso, que pediu afastamento. >
Os policiais militares foram denunciados pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) em maio de 2015 e a denúncia foi recebida pelo juiz Vilebaldo José de Freitas Pereira, da 2ª Vara do Júri, em junho do mesmo ano. No entanto, Vilebaldo saiu de férias e foi substituído por Marivalda, que tomou a decisão monocrática (individual) de inocentar os policiais, poucos meses depois, “após analisar as provas técnicas do processo”, conforme informou o TJ-BA na época.>
Chacinas No mesmo dia em que a Chacina do Cabula completa oito anos, o Instituto Fogo Cruzado divulgou dados sobre o acumulado de chacinas em Salvador e Região Metropolitana. Entre julho e dezembro de 2022, foram registradas 18 chacinas em Salvador e Região Metropolitana, onde 60 pessoas foram mortas e sete feridas. Das 18 matanças, 13 ocorreram durante ações e operações policiais, com 45 mortos. Uma média de duas chacinas policiais por mês.>
Dentre os casos marcantes de chacinas policiais, contabilizadas entre os meses de julho e dezembro de 2022, é o caso do motorista por aplicativo Ednoel Santos Moura, 40, que foi baleado e morto enquanto estava trancado no porta-malas do próprio veículo. Ele foi atingido durante uma perseguição policial que resultou na morte de outras três pessoas que também estavam no carro. No dia 2 de agosto, outras sete pessoas foram baleadas: três delas morreram, durante um tiroteio no bairro da Liberdade, em Salvador.>
Tiroteios No último semestre de 2022, o Fogo Cruzado contabilizou o total de 753 tiroteios ou disparos de arma de fogo em Salvador e região metropolitana, 244 deles em ações e operações policiais. >
Os registros apontam que no total 499 pessoas foram mortas na região em seis meses. Considerando apenas operações policiais, 172 pessoas foram mortas, representando 34% dos mortos mapeados em toda Salvador e Região Metropolitana entre julho e dezembro de 2022. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, a Bahia é responsável por um dos maiores números de mortes decorrentes de intervenção policial do país. Entre 2015 e 2020, 17% de todas as mortes violentas no estado foram em decorrência de atuação policial. >