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Priscila Natividade
Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Há 30 anos uma estrutura de 58 metros e 11 andares se destaca na Avenida Tancredo Neves pela sua arquitetura e mais ainda como referência para a atividade comercial do estado. A Casa do Comércio Deraldo Motta vai ganhar de presente uma reforma de adequação na parte elétrica, hidráulica e de tecnologia nos próximos dois meses, conforme adiantou o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio-BA), Carlos Andrade, durante o almoço comemorativo de aniversário de fundação do prédio.
“Nós estamos fazendo uma licitação para iniciar dentro de 30 a 60 dias esta adequação que tem como objetivo manter a estrutura física da casa e também trazer mais inovação. Ainda assim, mais importante que a estrutura física é esse legado e que nós formamos gente”, afirmou Andrade. O evento aconteceu na sede da entidade, que abriga a as administração Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), além do Cine Teatro Casa do Comércio e o restaurante Internacional do Senac.
O projeto original da Casa do Comércio foi assinado pelos arquitetos Jáder Tavares, Otto Gomes e Fernando Frank. Inaugurada em 28 de janeiro de 1988, segundo Otto Gomes, a edificação é “pura matemática” ou “ciência exata em forma de arquitetura”. “O prédio representa o quanto a exatidão é bonita. Montamos a casa do Comércio de cima para baixo. Os críticos na época diziam que o prédio ia ser uma estufa de tão quente. Mas tínhamos as floreiras de bouganville, na época, que faziam todo esse controle térmico”, destaca.
A edificação levou um ano e meio para ser planejada e cerca de seis anos para ficar pronta. “Pediram um prédio que significasse um marco, que representasse a espinha dorsal do desenvolvimento da cidade na área da Paralela. Com isso concebemos uma edificação que misturava dois processos construtivos, o concreto e o metal”, acrescenta Fernando Frank.
Responsável por todos os cálculos da obra, o estruturalista José Luiz Costa Souza, afirma que mesmo vanguardista, o projeto continua atual. “A Casa do Comércio abriu o marco de estruturas mistas no Brasil e mesmo após 30 anos se mantem atualizado”.
Vanguarda
A advogada Sônia Sampaio, de 79 anos, foi uma das funcionárias mais antigas da casa, quando ainda prestava assessoria jurídica para a licitação de construção da sede. Ela conta que a concorrência foi grande para construir o prédio. Cerca de nove empresas disputaram o projeto, justamente pelo seu caráter inovador. “Quando eu vi mesmo as obras iniciarem e o prédio subir foi o momento que mais me marcou. Na época da inauguração recebi o diploma pelos serviços prestados que eu guardo até hoje com muito carinho”.
A iniciativa de fundar um prédio com funcionalidade administrativa e que ao mesmo tempo servisse de centro de formação profissional, gastronomia e cultura partiu da gestão do presidente da Fecomércio-BA, no inicio da década de 80, que dá nome ao edifício. Filho de Deraldo Motta e presidente do Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, relembra o envolvimento do pai com a obra.
Deraldo morreu em julho de 1986, antes da conclusão das obras do prédio. “A gente vinha aqui todo sábado e domingo na balança para acompanhar a obra. É uma construção que eu conheço desde a sua pedra fundamental. Isso aqui era a nossa escola. Só não fui engenheiro porque não gostava”, afirma.
Para ele, daqui em diante, a Casa do Comércio deve potencializar sua atuação no desenvolvimento de estudos voltados para as carências do Nordeste. “30 anos se passaram e a Casa do Comércio se cristalizou como grande referencia na cidade. A sua evolução está em implantar um centro de estudos voltado para resolver estas carências regionais”.
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DESAFIO EM FORMA DE BOLO
Se a construção de uma estrutura mista, com concreto, vidro e metal que servisse de referência para a atividade comercial do estado foi um desafio, reproduzir isso em forma de bolo para homenagear os 30 anos da casa do Comércio também não foi tarefa fácil para a equipe de confeiteiros do Senac.
O bolo de 55 kg que precisou até de arquiteto levou em média duas semanas para ser feito. “O mais difícil foi a reprodução de todos os detalhes da frente da fachada. Precisamos usar a planta média do prédio e fazer uma projeção de volumetria para facilitar o trabalho dos confeiteiros”, conta o gerente do Restaurante Escola, Carlos Alberto Neves.
Foram utilizados 19 kg de pasta americana, 10 kg de recheio e mais 25 kg de bolo, como afirma um dos confeiteiros responsáveis pela execução, Cristiano Ribeiro. “Já tinha feito o Elevador Lacerda, caravela, trem, mas a Casa do Comércio foi o maior e o que mais gastou material de todos os bolos que já fiz. No primeiro momento eu disse que não tinha condições, mas a gente aceitou o desafio e conseguiu executar”.
Formada pelo Senac e premiada na Olimpíada do Conhecimento, Jamile Bispo é outra confeiteira que participou da execução do bolo: “Eu sai do ensino fundamental e entrei aqui com 17 anos. Tudo que eu sou, minha formação completa foi o Senac que me possibilitou. Me ver hoje nesta posição de instrutora para executar este bolo é um momento único”.
Para o também confeiteiro da equipe, João Rodrigues, o trabalho em conjuntou contou bastante: “Pra mim é uma obra de arte. Uma experiência perfeita que não vou esquecer nunca”, define.
Assim como na obra inspiradora, para levantar o edifício foi preciso muito cálculo. Segundo o arquiteto do bolo, Ricardo Dávila, inicialmente, ele achou a ideia impossível. “O bolo não tinha muita estrutura para construir esta volumetria. A ideia foi simplificar o projeto para deixar os elementos que remetessem ao edifício”, conta.