Calor e longas filas fazem eleitores passarem mal nos locais de votação

Pessoas desmaiaram enquanto aguardavam para votar em diferentes locais da cidade

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  • Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Maysa Polcri/CORREIO

Mais de 3 horas na fila de votação. Seções eleitorais sem ventilação e um domingo de sol forte esquentaram a cabeça dos eleitores ontem. Resultado: pessoas passaram mal e desmaiaram enquanto aguardavam para votar.  Na Universidade Federal da Bahia (Ufba), a artista Clara Boa Sorte não aguentou a espera e decidiu se sentar no chão do Pavilhão de Aulas da Federação 3 (PAF3). Ela estava sem se alimentar e sofreu com o calor. “A fila deu uma estacionada”. 

A médica Anne Ladeia aguardou por uma hora e meia no PAF1 e foi buscar uma explicação. “Fui perguntar na coordenação e disseram que cada seção tem uma dinâmica própria. É desrespeitoso porque aqui é um lugar quente, não tem nenhum tipo de conforto para votar e estamos aqui esperando. Tem muita gente idosa na fila, muita criança. Está difícil”, desabafou.

De acordo com coordenadores que preferiram não se identificar, os motivos para as filas longas na Ufba foram diversos: a dificuldade com a identificação por biometria, o esquecimento dos números dos candidatos pelos eleitores e a falta de padronização da equipe de voluntários na condução das seções.

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA), Roberto Maynard Frank, explicou que longas filas ocorreram em todo o país, mas que a Bahia tinha particularidades: foi o estado que “percentualmente mais cresceu em seu eleitorado, praticamente 1 milhão de eleitores além de 2020”, disse. “Isso, associado ainda a uma eleição com regulamentação do TSE de entrega do celular, cuja participação do eleitorado foi híbrida, eleitores biometrizados e não biometrizados”, completou.  O TRE não informou se havia números sobre atendimento médico a eleitores nas zonas eleitorais.  

Desmaios  No Colégio Sátiro Dias, na Pituba, a agente de saúde Niedja Bandeira, 60 anos, foi com a intenção de votar pela manhã, mas desistiu ao ver a lotação do colégio. “Por volta das 9h estava terrível. Tinha muita gente e ninguém para dar informação. Desisti e retornei 13h. Fiquei uma hora na fila, o que acho até razoável em comparação com de manhã”, afirmou.

Para o comerciante Edson Costa Santos, 48 anos, as filas enormes foram uma surpresa e, por isso, sugeriu mudanças. “Poderia ter uma cabine extra, um horário específico ou abrir um pouco mais cedo para as pessoas de idade avançada”. 

A pressão de Aida Souza, de 65 anos, baixou por conta do calor e a senhora chegou a desmaiar no Colégio Mário Augusto Teixeira de Freitas, na Mouraria, enquanto esperava na fila. Segundo a idosa, como a maioria dos ventiladores estava desligada, outros idosos também passaram mal durante a espera. A reportagem visitou o local por volta de 11h e observou filas que formavam caracóis em escadas do prédio e muitos eleitores reclamavam da demora. 

“Quando eu cheguei aqui soube que uma pessoa tinha desmaiado. Já tem mais de uma hora que estou na fila e aqui não tem ventilação. Está fazendo muito calor mesmo”, disse Laura Alves de Araújo, 59, que aguardava sua vez de votar. Um dos motivos para a demora no local foi a junção de duas seções eleitorais, o que aconteceu em cinco salas. Além disso, pelo menos oito mesários que trabalhariam no local faltaram. 

A filha de 7 anos da personal trainer Débora Leite, 39, também passou mal na manhã de domingo. "Eu fui votar no Colégio Cândido Portinari por volta das 10 horas e as filas estavam gigantescas. Estávamos do lado de fora na fila e o sol estava muito quente. Quando eu olhei para o lado, vi minha filha caída no chão, com olhos bem baixos e o lábios brancos", conta Débora. 

Logo após o susto, os responsáveis pelo local deixaram Débora e a filha passarem na frente como prioridade na fila. "Foram me levando para a frente da fila e o mesário me cedeu a água dele. Ela foi melhorando com o tempo e eu acabei tendo prioridade no voto", afirma. 

Já em Itapuã, uma senhora desmaiou depois de aguardar duas horas na fila para a votação no Colégio Sophia. Uma mulher que estava no local e acompanhou a cena, disse que a idosa estava acompanhada de duas crianças. "Ela não aguentou, a pressão baixou e ela desmaiou. Depois que a acordaram, colocaram na sala de votação e mandaram ela ir embora. Foi uma total falta de respeito", contou a eleitora que preferiu não se identificar. 

Na Uniceusa, no bairro da Boca do Rio, duas pessoas também desmaiaram. Para solucionar o problema, uma sala de "equalização" foi criada em um espaço com ar-condicionado. No local, uma das maiores dificuldades foi lutar contra o calor. As filas chegavam a se misturar, no espaço apertado entre as salas que recebiam as seções. Durante a manhã, ao menos duas pessoas desmaiaram, segundo a coordenação do colégio eleitoral. A enfermeira Edlene Sobral, 42, ajudou a socorrer uma delas. Segundo ela, havia despreparo para lidar com situações assim.  Filas na Uniceusa, no Imbuí, fizeram com que ao menos duas pessoas desmaiassem, somente na parte da manhã (Foto: Marina Silva/CORREIO) “Uma senhora passou mal, teve uma síncope. Como sou socorrista, tentei não deixá-la desfalecer. Aqui falta ventilação, falta preparo e falta espaço. Essa logística não funcionou. Ainda estamos saindo de uma pandemia e está todo mundo se encostando”, criticou. Ela passou mais de uma hora esperando por sua vez. “Fiquei aqui porque vim para tentar mudar algo. É o meu dever cívico. Estou aqui por ele”, disse, indicando o filho João, 9, que a acompanhava.  No Imbuí, Samuelson levou o berimbau para aguentar a demora (Foto: Marina Silva/CORREIO) Com tanta fila no local, o jeito que o fisioterapeuta Samuelson Nascimento, 31, encontrou foi tocar berimbau. “Tem que ter muito axé para aguentar essa fila”, brincou. Antes de votar, tinha aproveitado para tocar o instrumento em um local e levava para casa. “Nós somos seres políticos. Se a gente não se move para ver uma mudança e acompanhar, tudo continua igual. Infelizmente, muita gente não acompanha”, completa. 

*Com orientação de Monique Lôbo e colaboração de Thais Borges e Laiz Menezes