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Secretário Leo Prates defende antecipação de prazo de aplicação da 2ª dose
Marcela Vilar
Publicado em 17 de julho de 2021 às 05:01
- Atualizado há 2 anos
Com 48 mil unidades da Oxford/AstraZeneca paradas no estoque da Prefeitura de Salvador para serem usadas como vacina de reforço, o secretário de Saúde da capital, Leo Prates, elevou a pressão para antecipar o prazo de quem já tomou a primeira dose do imunizante e acelerar a cobertura plena contra a covid.
Na Bahia, o contingente é de 440 mil doses retidas na fila de espera sem serventia alguma, segundos dados da própria Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). E elas já poderiam estar no braço da população.
Descontada a soma de Salvador, há cerca de 400 mil segundas doses da AstraZeneca paradas no restante do estado. Esse contingente serviria para completar mais rapidamente a vacinação com o imunizante em uma fatia substancial dos baianos de outros 416 municípios. Contudo, o secretário estadual da Saúde, Fabio Vilas-Boas, defende que qualquer alteração no cronograma deve ser fruto de “decisão pactuada nacionalmente”. O chefe da Sesab, por outro lado, não respondeu se é a favor ou contra a antecipação da segunda dose.
Na contramão da Sesab, Leo Prates busca sensibilizar o Ministério da Saúde a aceitar alterações no cronograma. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a segunda dose da AstraZeneca deve ser usada entre 4 e 12 semanas. Mas a recomendação do ministério é que o prazo seja o maior possível, ou seja, três meses, com base nos índices de eficácia definidos pelo laboratório que desenvolveu o imunizante.
A bula da vacina, disponível no site da Anvisa, indica que, entre 9 e 11 semanas de diferença entre as duas doses, a AstraZeneca tem 72,3% de eficácia. Já no período igual ou acima de 12 semanas, o percentual chega a 80%. Para Leo Prates, esses 8% a menos não fazem tanta diferença. Opinião compartilhada por especialistas ouvidos pela reportagem. “Minha defesa é que o Ministério da Saúde mantenha o aprazamento de 12 semanas, colocando a possibilidade de antecipação para nove semanas, caso haja D2 (segunda dose) em estoque. O que não queremos são doses paradas! Salvador está com 48 mil doses que só começarão a ser aplicadas a partir do dia 22/07 e foram recebidas dia 09/07. Tá certo isso?”, argumentou o secretário, em postagem feita, sexta-feira (16) de manhã, em seu perfil no Twitter. Contra a retenção Leo Prates alegou que é mais vantajoso antecipar a segunda dose, até porque a eficácia da vacina ainda seria maior que a de concorrentes como a Coronavac (50,48%) e a Janssen (66%). A justificativa é a de que mais pessoas estariam imunizadas com o esquema completo, e o armazenamento das vacinas seria evitado. Atualmente, o Distrito Federal e sete capitais decidiram adotar a estratégia de aplicar o reforço da AstraZeneca em oito semanas: Rio Branco, Fortaleza, Vitória, Campo Grande, Recife, Florianópolis e Palmas.
A movimentação de Leo Prates esbarra não só no ministério. A Sesab, em reunião da Comissão Intergestora Bipartite (CIB), que define semanalmente a destinação das doses, rejeitou a proposta de antecipar o prazo. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vai no mesmo caminho.
“A Fiocruz reforça as orientações do PNI (Programa Nacional de Vacinação) e da Nota técnica conjunta da Sociedade Brasileira de Imunizações e da Sociedade Brasileira de Pediatria, publicada na terça-feira (13), quanto à manutenção do intervalo de 12 semanas da vacina”, defendeu a fundação, por meio de nota.
A Fiocruz acrescenta também que a resposta imunológica é maior quando o intervalo entre as doses for aumentando. “Adicionalmente, o regime de 12 semanas permite ainda acelerar a campanha de vacinação, garantindo a proteção de um maior número de pessoas”, destacou.
Eficácia da Oxford/AstraZeneca - intervalo entre 1ª e 2ª dose:Menor que 6 semanas: 55,1% de eficácia
Entre 6 e 8 semanas: 59,7% de eficácia
Entre 9 e 11 semanas: 72,3% de eficácia
Maior ou igual a 12 semanas: 80% de eficáciaBenefícios da antecipação em meio às variantes
Especialistas consultados endossam a posição de acelerar a segunda dose quando houver estoque parado. “Se estão disponíveis para antecipar, podem ser usadas entre quatro semanas e três meses. Só esse tempo mínimo, de um mês, que deve ser respeitado, mas postergar não tem problema, até porque os números da eficácia são próximos e, na prática, se misturam”, explica a infectologista Clarissa Ramos.
O epidemiologista Eduardo Martins Netto defende a vacinação antecipada, sobretudo, por conta das variantes. “Como existe a ameaça da delta, o adequado a se pensar é adiantar. Não seria grande perda na eficácia, porque cobriria mais a população, protegendo contra a mortalidade, e aliviaria o sistema de saúde. Esses 8% não fazem muita diferença”, argumenta Netto.
Além da delta, identificada na Índia, existe também a beta, da África do Sul. Pesquisa publicada no último dia 8 pela renomada revista científica Nature aponta que uma dose da AstraZeneca ou da Pfizer não são suficientes para combater essas variantes, apenas duas. Para a Fiocruz, há dados que atestam a alta eficácia da primeira dose da AstraZeneca para a delta.
*Com a orientação da sub-chefe de reportagem Monique Lôbo.