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Só um terço das família autoriza transplante; média de espera na fila é de 2 anos
Gil Santos
Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 02:00
- Atualizado há 2 anos
Quem espera por um transplante de órgão na Bahia precisa ter paciência. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), apenas 30% das famílias autorizam a doação de órgãos ou tecidos. O número coloca os baianos entre os três estados com o maior índice de negativa familiar para a doação de órgãos no país.
Em média, os pacientes levam dois anos aguardando por um órgão, mas essa espera é maior em muitos casos porque nem sempre o doador é compatível. A coordenadora da Central de Transplantes da Bahia, Rita de Cássia Pedrosa, acredita que a recusa é uma questão cultural e está atrelada à falta de informação."Os baianos são conhecidos por serem acolhedores, por serem solidários, mas quando essa solidariedade tem que acontecer pra valer a resposta que temos é 'não'. Existe uma questão cultural e um desconhecimento do processo de doação. A legislação que rege a doação de órgãos no Brasil é uma das mais rigorosas do mundo, mas por questões religiosas as pessoas deixam de fazer o bem", analisou.A Bahia é credenciada para fazer transplantes de coração, pulmão, córnea, rim e fígado. Em 2017, foram realizados 939 procedimentos como esse no estado, sendo que os doadores, na maioria dos casos, são vítimas de traumas e acidentes.
Nesta quinta-feira (15), a família do estudante de engenharia mecânica Kaíque Moreira Abreu, 22 anos, autorizou a doação dos órgãos do jovem. Ele foi agredido na sexta-feira, quando voltava do Carnaval, no bairro da Graça, e teve morte cerebral confirmada nesta quarta (14). A família não divulgou quais órgãos serão doados.
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Procedimento Até esta quinta, havia 838 pacientes na fila esperando por um rim. Já o número de pessoas aguardando por córnea era de 776. Outras seis aguardam por um fígado, e quatro por um pulmão. Depois que a morte é atestada, o hospital comunica a Central de Transplantes e é essa equipe a responsável por entrar em contato com as famílias para fazer o pedido."Algumas pessoas não autorizam a doação dizendo que não querem que o corpo seja mexido, mas quando ele é encaminhado para o IML, ele será aberto. Uma vítima de trauma, por exemplo, terá o crânio aberto para se identificar a causa da morte. Então, esse argumento é contraditório", argumenta Rita Pedrosa. Ainda segundo a coordenadora, "alguns dizem que não sabem se o familiar queria ser doador". "É simples, ele era uma pessoa boa? Uma pessoa que gostava de fazer o bem? Então ele iria querer ajudar alguém que está sofrendo na fila esperando por um transplante", complementa.
Contra o tempo Depois da morte, o coração e o pulmão precisam ser transplantados em até 4h. O fígado resiste por 6h. Já o rim pode ser aproveitado de 24h a 36h. A córnea é o mais resistente, podendo ser transplantado em até 12 dias após o falecimento. Nos casos de morte cerebral é preciso aguardar 6h após a constatação para que seja iniciado o procedimento de doação.
Para que o transplante seja realizado são feitos, pelo menos, três exames: dois clínicos e um de imagem, para verificar a qualidade do órgão. Atualmente, além de Salvador, os municípios de Feira de Santana, no Centro-Norte, e Itabuna, no Extremo-Sul, realizam transplantes de órgão no estado.
Na capital, as unidades que realizam esses procedimentos são: Hospitalar Professor Edgard Santos (Hospital das Clínicas), no Canela; Hospital Ana Neri, no Pau Miúdo; Hospital Santa Izabel, em Nazaré; Hospital Português, na Barra; e Hospital São Rafael, em São Marcos. O Hospital Geral Roberto Santos, no Cabula, foi o último a ser credenciado para fazer os transplantes, mas ainda não começou os atendimentos.
A doação de órgãos e tecidos é gratuita. Quem tiver dúvidas sobre o procedimento pode entrar em contato com a Central de Informações pelo número: 0800 284 0444. É importante também conversar com os familiares e deixar claro o desejo de ser doador. Segundo os médicos, cada doador pode salvar, pelo menos, sete vidas.