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Áudio atribuído a PMs revolta famílias de mortos em ação no Derba; ouça

Parentes citam relatos de sobrevivente e dizem que vão à Corregedoria

  • Foto do(a) author(a) Bruno Wendel
  • Bruno Wendel

Publicado em 28 de fevereiro de 2018 às 17:00

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Foto: Reprodução/CORREIO

Não bastasse a dor, o deboche: “A situação foi a seguinte. Foi mais ou menos assim: 'três ladrão (sic) foram assaltar, mas não contavam com a Gêmeos por lá. A Gêmeos pegou: pá pá pá pá! Nenhum ladrão voltou de lá' (gargalhadas)”.

O trecho é de um áudio que circula no aplicativo WhatsApp e é atribuído a policiais militares envolvidos na ação que terminou com três jovens mortos na Estrada do Derba, em Salvador, na nesta terça-feira (27). A Gêmeos é a unidade da PM especializada no combate a roubos e furtos em coletivos. Marcos, Herbert e Fabrício foram mortos pela PM na Estrada do Derba (Foto: Reprodução/CORREIO) Para a família dos jovens, houve uma execução. “Eles sequer têm pena de nossa dor. Trataram nossos filhos como bicho. Assassinaram e ainda fizeram um áudio e espalharam no WhatsApp”, disse a mãe de Fabrício Nanã Fiuza de Jesus, 17 anos, um dos jovens mortos. A comerciante, que terá o nome preservado, fez o desabafo enquanto liberava o corpo do filho no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), na manhã desta quarta-feira (28).

Além da gravação, fotos dos corpos em macas de um hospital foram disseminadas na rede social. Também circula no aplicativo uma foto da equipe 5.0104 da Operação Gêmeos, apontada por parentes como a responsável pelas supostas execuções. A PM, no entanto, diz que os três eram ladrões de carros.

A mãe de Fabrício e os outros parentes pretendem ir à Corregedoria da Polícia Militar e usar as imagens e o áudio - paródia de uma canção de domínio público que ficou famosa no Brasil numa versão gravada pela apresentadora Xuxa - como prova contra os policiais.“Vamos buscar justiça. Isso não vai ficar assim. Meu filho trabalhava com o pai, dono de uma empresa que reforma caminhões e ônibus na Brasilgás. O áudio é mais uma prova de que houve uma execução”, afirmou a comerciante. A gravação tem 20 segundos e pelo menos duas vozes aparecem durante a zombaria. Já no final, é emitido duas vezes um ruído semelhante a um equipamento de comunicação usado em viaturas da polícia.

Já a versão apresentada pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) diz que guarnições da Operação Gêmeos trocaram tiros com quatro suspeitos de pertencer a uma quadrilha especializada em roubos de veículos em Salvador – três acabaram mortos e um, mesmo baleado, conseguiu escapar. 

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Abordagem A mãe de Fabrício disse que o filho morava em Salinas da Margarida, no Recôncavo, e que estava há duas semanas em Salvador para providenciar os documentos necessários para o alistamento militar.

Além dele, outros dois mortos também eram da mesma cidade: Herbert Brito Conceição dos Santos, 26, e Marcos Rodrigo dos Santos Campos, 24.

A versão apresentada pela mãe de Fabrício é baseada no relato do rapaz que conseguiu escapar do cerco dos policiais.“Na hora, ele fugiu, mas ficou de longe vendo tudo. Viu quando os três meninos foram postos no porta-malas da viatura. Nenhum deles estava armado. Ele presenciou tudo. Ligou para a gente, dizendo com eles tinham sido presos, que eram para a gente procurá-los nas delegacias. No entanto, logo soubemos que os meninos estavam mortos no Hospital do Subúrbio”, contou ela, que disse não lembrar o nome do sobrevivente.Fabrício saiu da empresa do pai, por volta das 10h, para encontrar com três amigos – ele iria levá-los para fazer um serviço na empresa do pai, quando foram abordados pela equipe da Gêmeos na Estrada do Derba.

Os quatro estavam numa picape Fiat Strada, que pertence, segundo a família, ao quarto rapaz que escapou e testemunhou toda a ação dos PMs. “A polícia parou o carro porque dois deles estavam na carroceria. Como o carro estava com uma documentação irregular, o dono correu. Meu filho chegou a correr também, mas voltou porque disse que não devia nada. Foi quando os três foram colocados na viatura”, disse a mãe de Fabrício.

Execução No IML, a mãe de Fabrício era consolada por parentes. “Meu filho era tudo para mim. Era ele quem me ajudava, e muito. Era ele quem levava o irmão caçula, de microcefalia, para a escola, médico... Ele sequer foi levado para uma delegacia”, lamentou. 

Mas ela não era a única. A mãe de Marcos, uma marisqueira que também não terá o nome divulgado, foi outra que desabafou.“A polícia disse que foi confronto, mas como explicar a situação dos corpos? Todos estavam com uma perfuração igualzinha na região do tórax. Isso foi uma execução. Meu filho nunca teve passagem”, afirmou.Segundo ela, Marcos passou o Carnaval em Salinas, mas voltou para Salvador, onde morava com a namorada no bairro de São Caetano. “Ele saiu de casa cedo, por volta das 8h. Eu estava dormindo quando ele saiu em um carro”, contou a namorada. 

Parentes de Herbert também acusam a polícia de assassinato. “O sobrevivente disse que foi execução e isso não temos dúvida. Herbert era um rapaz do bem. Foi motorista da prefeitura de Salinas da Margarida e estava em Salvador em busca de emprego”, contou um deles.

Familiares relataram que um dos quatro tem ficha criminal. “Eu sei que não foi Herbert. Ele nunca foi preso, mas um deles tinha saído do presídio há três meses”, declarou outro parente. O pai dele pediu para não identificar o rapaz.

Herbert será enterrado às 16h desta quarta no cemitério da Baixa de Quintas, em Salvador. Não há informações sobre os sepultamentos de Fabrício e Marcos.

PM desconhece áudio Em nota, a assessoria da Polícia Militar orientou a família a procurar a Corregedoria, para formalizar a denúncia, e disse desconhecer a existência da gravação publicada nas redes sociais. 

"A respeito das denúncias sobre a atuação dos policiais a PM disponibiliza ao cidadão o contato da Ouvidoria (0800-284-0011) ou www.pm.ba.gov.br/ouvidoria) para recepcionar denúncia sobre a atuação de policiais militares. A família pode também formalizar a denúncia na Corregedoria da PM. E sobre o suposto áudio este Departamento desconhece a existência do mesmo", diz o comunicado enviado ao CORREIO.