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Fernanda Santana
Publicado em 15 de março de 2019 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
A Ordem dos Advogados do Brasil , seção Bahia, (OAB-BA) pedirá ao Tribunal de Justiça (TJ-BA) que reedite o decreto que proíbe a entrada de pessoas com qualquer objeto sobre a cabeça, considerando, desta vez, as exceções. O ofício, que deve ser protocolado nesta sexta-feira (15), ocorre depois que o advogado Matheus Maciel, 26 anos, foi barrado nos fóruns João Mendes e Ruy Barbosa porque usava o eketé, acessório usado no candomblé durante a fase de obrigação religiosa. O uso de bonés e chapéus é proibido. >
O TJ já foi contatado, nessa quinta-feira (14), para permitir que Matheus frequente os fóruns sem desrespeitar suas obrigações religiosas.>
O advogado disse que processará o TJ pelos constrangimentos vividos na última quarta-feira (13), quando tentava entrar nos fóruns João Mendes e Ruy Barbosa. Um policial e, depois, um funcionário tentaram impedi-lo de entrar nos espaços pelo fato de usar uma boina. O acessório, no entanto, faz parte de uma fase de obrigação religiosa, como tentou explicar. O advogado Matheus Maciel na frente do Fórum Ruy Barbosa (Foto: Acervo pessoal) Os representantes da Comissão de Direitos e Prerrogativas, Adriano Ferreira, e de Combate à Intolerância Religiosa da OAB, Maíra Vida, reuniram-se nessa quinta com o advogado.“Recomendaremos a consideração da exceção e que se reformule o decreto. A questão deve ser tratada em sessão com os interessados, como a presidência da OAB”, comentou Maíra Vida.O advogado frisou que é preciso estar atento à Constituição Federal. “Um decreto administrativo está abaixo da Constituição, que assegura a liberdade de culto. É um preceito constitucional”, acrescentou.>
Ele também espera que não apenas sua situação seja considerada, mas a de outras pessoas em cumprimento de obrigações. O eketé, ojá ou boinas são acessórios usados pelo candomblé para defender dos perigos externos o ori (a cabeça) dos iniciados ou de quem está em fase de confirmação na crença.>
Pelo direito da expressão Os períodos de resguardo são comuns no candomblé. Continuar trabalhando normalmente, independentemente da função exercida, não é proibido, mas, segundo Leonel Matos, presidente da Associação Brasileira de Preservação da Cultura Afro-Ameríndia (AFA), deve-se sempre respeitar e acolher a diversidade.“Imagine sair para rua depois de uma operação, de uma cirurgia sem um curativo. É a mesma coisa. Não existe!”Leonel até compreende a ação dos profissionais e diz entender que eles apenas cumprem regras, mas questiona a inexistência de leis. “Compreendo as regras de segurança, mas sabemos que existe o desconhecimento e a intolerância. E deve mesmo ter sido esse o caso”, opinou.>
A AFA prepara um projeto para enviar ao Ministério Público do Estado (MP-BA) contra a intolerância disfarçada de burocracia em ambientes institucionais.>
Quando saía do Fórum Ruy Barbosa, inclusive, Matheus diz que o funcionário começou a cantar uma música gospel. Um provável recado de intolerância. "Deve existir um livre exercício da religião também nesses espaços", espera o advogado.>
A OAB-BA diz que agirá nesse sentido: de tratar os desiguais na medida de suas desigualdades. O objetivo é que imperem a autonomia e a diversidade.>
* Com supervisão da editora Mariana Rios>