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Tailane Muniz
Publicado em 7 de junho de 2019 às 21:41
- Atualizado há 2 anos
Já não era sem tempo. Por pouco não completou 70 anos desde a última requalificação do Largo do Terreiro de Jesus, no Centro Histórico de Salvador. A praça, localizada no coração do Pelourinho, é uma das mais importantes da cidade e, para os turistas, parada quase obrigatória. >
O equipamento, bem em frente à Catedral Basílica da capital, foi entregue aos soteropolitanos na noite desta sexta-feira (7), após passar nove meses sob intervenções - que vão desde a iluminação até a mobília. O chafariz, no centro da praça, anunciava as mudanças ali. É que o equipamento, do século 19, não funcionava há dez anos.>
A obra no local, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), custou cerca de R$ 1,4 milhão. Essa é a segunda requalificação realizada no Terreiro de Jesus desde a década de 50, quando passou por uma reforma idealizada pelo arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx. Agora, tem arborização, iluminação em LED e, ainda, paisagismo.>
O novo piso foi um dos pontos destacados pelo secretário municipal de Cultura e Turismo, Cláudio Tinoco, que lembrou o dia em que, em setembro, o prefeito ACM Neto assinou a ordem de serviço do equipamento, inaugurado ao som da banda de percussão do Projeto Axé. Chafariz estava parado há dez anos (Foto: Betto Jr.CORREIO) “Nossa intenção é que as pessoas entendam a grandiosidade de tudo isso. As pedras [portuguesas], elas vieram de muito longe, tiveram que ser testadas com todo cuidado para que pudéssemos reabrir com toda a beleza”, afirmou Tinoco, acrescentando que o projeto foi criado e coordenado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF).>
‘Mais bonito do que nunca’ Quem vive ou trabalha na região não só aprovou a reestruturação do Terreiro de Jesus, como também aposta que os turistas, ao conhecerem o local, vão retornar. Antes mesmo de nascer, a ambulante Eliana Aragão, 29 anos, já tinha uma relação com o lugar.>
A mãe dela, também vendedora ambulante, passou metade da vida sobre a banca de salgados instalada no Terreiro, incluindo o período de gestação. O ponto, que passou para Eliana logo que completou a maioridade, ficou parado durante os meses de obra. A pausa, entretanto, era “mais que necessária”, garante Eliana, que participou da inauguração.“O movimento caiu muito durante esse tempo, mas nós entendemos que era para o melhor do Pelourinho e também o melhor para a gente, que agora temos um lugar muito mais bonito para trabalhar. Estamos muito felizes”, afirmou a vendedora, que mora no Centro Histórico. Reforma ficou pronta em nove meses (Foto: Betto Jr./CORREIO) Na hora de eleger o que mais gostou da ‘nova cara’ do lugar, ficou indecisa. “Muito difícil! Tudo lindo, não sei o que gostei mais. Bancos, luzes, plantas, tudo muito bonito. Agora é cuidar do patrimônio para que o turista venha, e volte”.>
Segundo o prefeito ACM Neto, há a intenção de ordenar os vendedores que, assim como Eliana, antes trabalhavam na praça. "De um lado, existe nós, da prefeitura, que temos a obrigação de garantir o o ordenamento do espaço público e, do outro, as pessoas de bem que utilizam do lugar para trabalhar e ganhar o pão. Eu queria dizer que nós estamos do mesmo lado", garantiu Neto, ao comentar que os vendedores serão reorganizados.>
Ocupação Embora a parte visual seja a mais elogiada por quem conhece bem o local, o prefeito ACM Neto afirmou que a intervenção é, especialmente, uma tentativa de ocupar o Pelourinho. "Não estamos falando apenas de uma obra que traz o embelezamento, mas estamos pensando também na ocupação do Centro Histórico, que, infelizmente, ainda é visto com preconceito por muitos moradores de Salvador, inclusive das regiões próximas", disse.Neto também comentou que a ideia é que todas as secretarias da prefeitura passem a funcionar na região até 2020. "Em nenhuma outra capital do Brasil, há um Centro Histórico rico como o de Salvador. Nós temos aqui, além do próprio Terreiro, a vista da Catedral Basílica, da Igreja de São Domingos, da Igreja de São Pedro dos Clérigos, é impossível não se orgulhar de ser baiano".>
Orgulho é o sentimento que contempla, também, um dos mais velhos comerciantes do Pelourinho, Clarindo Silva, que está à frente do restaurante Cantina da Lua há 48 anos. "Isso é uma realização e, mais que isso, significa o resgate de nossa história, para ser contada não só aos turistas, mas também aos baianos que não conhecem a Bahia. Antes de ser bom para quem é de fora, tem que ser bom para nós", comentou ele. Clarindo também afirmou que a maior preocupação é que as pessoas "preservem e cuidem do lugar", que é "onde bate o coração do Pelourinho". Praça fica em frente à Catedral Basílica de Salvador (Foto: Betto Jr./CORREIO) Intervenções Secretário de Infraestrutura e Obras Públicas, Bruno Reis classificou a inauguração do local como "um momento histórico para Salvador", porque é de onde parte a energia que "irradia toda a capital". "Todas as obras da prefeitura têm o objetivo de gerar emprego e renda para a população. Queremos atrair recursos para o Centro Histórico, que é o coração da cidade", disse."Aqui, no terreiro, recuperamos a pavimentação, as pedras, os jardins e o monumento em homenagem à deusa Ceres. Trabalhamos na iluminação para que tudo ficasse alinhado ao ambiente de um dos lugares mais bonitos do mundo", destacou, ao comentar que a preocupação do prefeito ACM Neto era concluir a obra até o início da Copa América, na próxima semana.Bruno comentou, ainda, sobre a reintrodução do canteiro, com planto de espécies herbáceas e arbustivas, seguindo o projeto original, além do resgate da massa arbórea proposta originalmente, proporcionando considerável aumento de área sombreada.>
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Outras ações Segundo a prefeitura, a região do Centro Histórico tem sido alvo de um conjunto de iniciativas que tem como principal objetivo a reocupação. No Comércio, já foram entregues a nova Praça da Inglaterra, além do Hub Salvador. Na mesma região, estão em andamento as obras de requalificação da Rua Miguel Calmon, Praça Cairu e da Praça Marechal Deodoro. O Comércio vai ganhar, ainda, o Polo de Economia Criativa, além da recuperação do Elevador do Taboão, que não funciona há mais de 50 anos e já teve as obras iniciadas.>
A prefeitura também destacou a revitalização da Avenida Sete de Setembro, Praça Castro Alves e Mercado de São Miguel (Baixa dos Sapateiros). Estão previstas reformas nos terminais rodoviários da Barroquinha e do Aquidabã, além da Rua Cônego Pereira já está em andamento. >
A lista de ações no Centro Histórico contempla a reforma da muralha do frontispício e dos arcos da Ladeira da Montanha, que, de acordo com a prefeitura, serão autorizadas, e a implantação do Museu da Música e do Arquivo Público Municipal, no Comércio. Ao todo, as intervenções somam R$ 360 milhões e fazem parte do programa Salvador 360.>