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Antigo hospital Couto Maia é invadido por centenas de moradores da Cidade Baixa

Clima é de tensão e de medo entre os moradores de Monte Serrat; ocupantes pedem que o governo construa moradia para famílias

  • D
  • Da Redação

Publicado em 30 de novembro de 2019 às 08:50

 - Atualizado há 2 anos

. Crédito: Leitor CORREIO

Mais de cem famílias que residiam de aluguel ou de favor na região da Cidade Baixa ocuparam o antigo Hospital Couto Maia, no bairro de Monte Serrat, na madrugada deste sábado (30). A ocupação ocorreu por volta das 1h30 e assustou moradores da região. 

Segundo moradores, os manifestantes, muitos com pedaços de madeira na mão, forçaram os portões do local e colocaram faixas e cartazes.

Em contato com o CORREIO, uma secretária que mora no local há 30 anos contou que o clima é de tensão e de medo entre os moradores. "A gente estava dormindo e eles chegaram fazendo zoada e aquela arruaça. Intimidaram o segurança do Couto Maia, abriram o portão com aqueles gritos, acenderam as luzes e isso assutou bastante os moradores. Depois, a gente não conseguiu mais dormir. A gente ficou tão atordoado que não sei precisar a quantidade de pessoas, mas é muita gente. Tem de tudo: criança de colo, adulto, etc. Mas um Hospital grande como esse, fechado, a gente já imaginava que poderia acontecer algo", afirma ela, que pediu para não ser identificada. (Foto: Leitor CORREIO) De acordo com a moradora, as faixas penduradas no prédio do antigo Hospital, que está abandonado há dois anos, atribuem a invasão ao Movimento de Luta, nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Também nessas faixas, os militantes batizam a ocupação de 'Maria Felipa de Oliveira'. Ainda conforme a moradora, policiais militares chegaram a passar pelo local, ainda na madrugada, mas logo saíram. A reportagem tenta contato com a assessoria de comunicação da PM-BA, mas ainda não teve retorno.

Em nota divulgada na página do Facebook do Movimento, os manifestantes se apresentam como Ocupação Maria Felipa de Oliveira, em homenagem a mulher negra que liderou a expulsão total das tropas portuguesas da Bahia em 1823. "As famílias reivindicam o direito à moradia digna garantido pela constituição federal. O Movimento denuncia ainda o desmonte do programa Minha Casa Minha Vida pelo Governo de Bolsonaro", diz a nota.  (Foto: Leitor CORREIO) Ainda na nota, Victor Aicau, coordenador estadual do MLB, afirma que  um dos objetivos é pressionar o governo para 'garantir conquistas como moradia digna".

Já Eslane Paixão, que também faz parte da coordenação do Movimento e é presidente da Unidade Popular (UP), considera que "o abandono desse espaço é uma prova de falta de compromisso do Governo Estadual com a saúde pública". Ambos os posicionamentos estão na nota divulgada a rede social do movimento. 

O Movimento pede que o governo estadual construa moradia para famílias que residiam de aluguel ou de favor na Cidade Baixa; um espaço para o funcionamento da Escola de Formação Popular Carlos Marighella; e pedem a reabertura do Hospital Couto Maia. De acordo com a organização do movimento social, na Ocupação foi montada a Escola de Formação Popular Carlos Marighella.

Em nota, a Sesab informou que está adotando medidas legais sobre a ocupação. Veja, na íntegra: 

O prédio onde funcionava o Hospital Couto Maia, no bairro do Mont Serrat, foi ocupado nesta madrugada por integrantes do Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas. Diante do ocorrido, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) está adotando as medidas legais cabíveis para que as pessoas possam sair da unidade de forma pacífica, sem nenhum dano para o equipamento e com segurança para as pessoas que estão no local.

A Sesab destaca que uma licitação, que será publicada em janeiro, está sendo construída para a reforma  e ampliação do Hospital Couto Maia, que será transformado em um hospital de cuidados paliativos e centro de referência estadual para cuidados paliativos, incluindo o Programa Ambulatorial Amor sem Fim, e a política de gerenciamento de cuidados paliativos dos hospitais do estado.  

O CORREIO também fez contato com o Governo Federal mas  não teve retorno até o momento.  Pavilhões fechados depois da transferência para Águas Claras (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) Em abril deste ano, o CORREIO publicou uma reportagem sobre o abandono do local, que prejudica nao só pacientes, como moradores e comerciantes do bairro de Monte Serrat. Desde o dia 9 de julho de 2018, quando as portas do Hospital Couto Maia abriram pela última vez, o local vive as consequências deixadas pelo vazio. O hospital foi transferido para o Instituto Couto Maia, em Águas Claras.

Os moradores contaram que acompanham as mudanças e os comerciantes sofriam com a queda dos lucros, enquanto esperavam sem nenhuma definição o futuro da unidade que, por 165 anos, delineou parte da vida econômica, urbana e social da região.

Na época, a Sesab afirmou que no local seria instalada uma nova unidade voltada para pacientes que precisam de cuidados paliativos. Mensalmente, 1,5 mil pessoas eram atendidas nos 97 leitos do Couto Maia, de acordo com a Sesab. Além, claro, dos 500 funcionários. Hoje, apenas o Hospital Sagrada Família, também no bairro, não consegue movimentar a economia local como fazia o centro de referência no tratamento de doenças infectocontagiosas na Bahia. Quiosques e rua vazios, no início deste ano, depois da desativação do Couto Maia (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) No dia 25 de janeiro de 2013, na Bolsa de Valores de São Paulo, MRM e SM Gestão Hospitalar comemoravam a vitória na licitação que definiu a parceria público-privada lançada pelo Governo do Estado para a construção do Instituto Couto Maia. Foram R$ 120 milhões investidos para construção de 120 leitos e ampliação para consultas ambulatoriais. Exatos 102 anos atrás, Augusto de Couto Maia estava convencido de que o Hospital de Isolamento de Monte Serrat, como era chamada a unidade, deveria migrar para um bairro mais central como Santo Antônio Além do Carmo ou Brotas. 

Mas a construção dos novos pavilhões do hospital, iniciada 1917, permaneceu no Monte Serrat, por vontade do então Departamento do Serviço, explicou, em abril, a funcionária Maria de Fátima Lorenzo, com mestrado dedicado à história do hospital onde trabalha há 30 anos. Somente em 1925 aconteceu a inauguração. Coincidentemente, também houve intenção de juntar o Hospital Dom Rodrigues de Menezes, para hansenianos, com o Couto Maia. Novamente, a ideia ficou no papel. Mas, foi justamente no local onde funcionava o Rodrigues de Menezes que se ergueu a nova sede do Couto Maia. Novo Couto Maia, em Águas Claras (Foto: Carol Garcia/GOVBA)  Por pouco, inclusive, uma dessas tentativas de mudança não provocou a transferência do Couto Maia para a Avenida Vasco da Gama, próximo ao Hospital Geral do Estado, em 1995. A proposta chegou a ser apresentada pelo então diretor da unidade, José Tavares Neto. Nunca foi à frente. “O hospital tinha condições pequenas de expansão. Por outro lado, o terreno do fundo era grande [...] Aquele hospital foi fundamental ao ensino de gerações”, opinou Tavares.

Diferentemente do que afirmam funcionários ouvidos pelo CORREIO, sob anonimato, a Sesab nega qualquer condenação de área do Couto Maia pela Vigilância Sanitária. "Aquele espaço não tinha condições de funcionar como hospital. Não conseguíamos nos adequar, era uma estrutura obsoleta", disse a atual diretora, Ceuci Nunes, em reportagem publicada em abril. Outros hospitais antigos, no entanto, seguiram em suas primeiras sedes. É o caso, por exemplo, do Hospital Santa Izabel, o mais antigo da Bahia, inaugurado em 1893, em Nazaré. 

E por que não o caso do Couto Maia? É o que se perguntavam principalmente quem permaneceu em Monte Serrat. A maioria costuma falar da demora para realizar grandes intervenções. A última, em 1992, é lembrada por uma placa na entrada do hospital. No dia 12 de dezembro, já com o Couto Maia fechado, o Sindisaúde realizou manifestação contra desativação. Abraçaram simbolicamente a extinta unidade.

O problema não é o novo Couto Maia, inclusive bem recebido pelos funcionários. O hospital quase triplicou de tamanho – de 6 mil m² para 17 mil m² - e expandiu os atendimentos para urgência e emergência. A questão, para quem vive em Monte Serrat e os empregados residentes no bairro, é esperar até que a nova unidade seja aberta.

Crescendo à margem  O século 19 é o século do modelo higienizador. As intervenções urbanas ocorriam de acordo com pautas de saúde e saneamento básico, principalmente. Os hospitais passam a ser criados em locais afastados, como se, assim, estivesse livre das infecções a população. É o caso do Couto Maia, instalado no Monte Serrat em 1853, região pouco habitada de Salvador, com exceção de uma classe média empregada nas fábricas da Penísula de Itapagipe e das famílias em veraneio. 

O historiador e arquiteto Chico Senna contou que, por isso mesmo, a presença das igrejas e dos hospitais Couto Maia e Sagrada Família, de 1943, foram fundamentais para a conformação urbana do Monte Serrat. "Praias bucólicas, local tranquilo, clima bom. O Couto Maia ficava praticamente isolado", explicou. As construções residenciais começavam também em função desses elocais. Hoje são 6,6 mil moradores em Monte Serrat, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)."Se você perceber, naquela área específica, o destaque são os dois hospitais. Principalmente o Couto Maia. A permanência ou retirada causa impacto, porque aquilo ali está inserido no contato da população desde o século 19. [...] A preocupação é qual é o impacto".A área específica da construção do Couto Maia é uma fazenda arrendada pelo Governo. Inicialmente, alguns moradores até resistem. “O impacto era o medo do contágio. Mas a convivência foi mudando”, conta Maria de Fátima. Mas logo acostumam-se e integram o hospital à rotina. "Querendo ou não, era uma referência. A gente vinha quando precisava... O que é absurdo é deixar fechado", lamentou Simone Franco, 46, moradora do bairro, em abril.

No ano de 1997 e novamente em 2013, há tentativa de tombamento da estrutura do hospital junto ao Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. Nenhuma das duas surtiram efeito. Da última vez, informou o IPac, o corpo técnico julgou que a solicitação deveria ser feita no âmbito municipal, o que não ocorreu. "Que ele não se torne uma ruína, nem de depredação ou invasões", torce Fátima, pesquisadora da história do hospital.

É impossível mensurar, hoje, a o impacto oficial da saída do hospital. A atual concessionária responsável pelo Icom não tem responsabilidade sobre o destino do antigo Couto Maia, já que a licitação corresponde apenas à nova unidade. "Estou esperando uma providência de Deus", desabafa Maria do Carmo, no restaurante vazio.

Confira nota enviada pela Sesab ao CORREIO em abril

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) esclarece que com a inauguração do Instituto Couto Maia, em 2018, todos os pacientes foram transferidos para a nova unidade. Diferente do que está sendo especulado em nenhum momento a Vigilância Sanitária interditou ou condenou qualquer área do Hospital Couto Maia. Pelo contrário, apesar dos 166 anos de história, o prédio sempre manteve condições de atendimento da população. Em virtude do novo perfil previsto, focado em cuidados paliativos e não mais em doenças infectocontagiosas, a unidade passará por modernização. A unidade mantinha 97 leitos. O Hospital Couto Maia tinha aproximadamente 500 profissionais e atendia cerca de 1, 5 mil pacientes por mês.