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Da Redação
Publicado em 3 de agosto de 2022 às 06:00
“Giro um simples compasso e num círculo faço o mundo”, cantou o compositor Toquinho em Aquarela, ainda na década de 80. É a capacidade de imaginar, tão bem representada na música, uma das qualidades mais latentes nos seres humanos durante a infância. Na primeira semana deste mês, alunos de duas escolas da rede pública na Região Metropolitana de Salvador estão tendo a oportunidade de exercitar justamente a criatividade em oficinas de música, literatura e pintura.
O estudante Gabriel Santos, de 12 anos, nunca tinha entrado em contato com uma máquina fotográfica até participar de uma das atividades promovidas pelo Instituto Brasil Solidário, na Escola Municipal Maria Bacelar de Santana, em Dias d’Ávila. As ações realizadas durante os últimos dois dias colocaram os estudantes no centro do processo de aprendizagem e, nesta quarta-feira (3), os alunos vão apresentar os projetos que desenvolveram para toda a comunidade escolar.
Gabriel não vê a hora de expor para os colegas e professores as imagens que registrou e conta como as atividades práticas fazem a diferença na hora de aprender. “Eu aprendi a mexer na câmera e sobre luzes e enquadramento. A escola já é legal, mas se fosse assim sempre, eu iria amar”, disse o aluno. Entre os dias 4 e 8, as atividades voltarão acontecer, dessa vez na escola Laurita de Souza Ribeiro, em Camaçari. O aluno Gabriel Santos nunca havia manuseado uma máquina fotográfica antes de participar da oficina (Foto: Davi Probo) O Instituto Brasil Solidário espera mobilizar mais de 450 pessoas com as atividades. Em um país em que a desigualdade social eleva os índices de evasão escolar, o presidente do instituto e mentor da oficina de fotografia, Luis Salvatore, explica que atividades lúdicas tornam as escolas mais atrativas para as crianças e jovens.
“Todas as formações possuem uma parte teórica, sempre seguida de uma atividade prática, que dê sentido para aquilo que estamos ensinando. Assim, os alunos vão percebendo uma construção coletiva em que são protagonistas do processo pedagógico para que a escola seja um ambiente de desejo”, afirma Luis Salvatore. Na primeira escola, alunos de até 12 anos foram contemplados, já em Camaçari, o foco são os estudantes que possuem entre 12 e 17 anos.
Alguns professores dos colégios foram capacitados para ministrar as atividades de formação aos alunos. Um deles é Eliomar Augusto, que deixou a Educação Física de lado durante três dias para dar aulas de música para os alunos. Ele conta como os novos ensinamentos mobilizaram os alunos que se envolveram com as oficinas. “A escola passou por uma transformação total e esse momento vai ficar marcado na história da comunidade da Concórdia. Os alunos ficaram bem entusiasmados com tudo que está acontecendo”, diz. Professor há três anos de Educação Física na escola, Eliomar foi capacitado para ministrar a oficina de música (Foto: Davi Probo) Sustentabilidade Além da música e da fotografia, foram ofertadas formações em xilogravura, artes cênicas, pintura e desenho, além de uma capacitação em mediação de leitura. Apesar de diferentes, as oficinas foram pensadas para terem pelo menos um elo de ligação: a sustentabilidade. Alunos construíram pufes, prateleiras e almofadas a partir de materiais recicláveis.
Já na oficina de música, os estudantes construíram instrumentos com materiais reutilizados, aproveitando carteiras, canos de PVC e garrafas de vidro para criarem garrafones e vidrofones. Acostumado a fazer uso de materiais recicláveis devido à falta de materiais na rede pública, o professor Eliomar Augusto auxiliou as crianças nas confecções.
“Nas nossas práticas na escola reutilizamos materiais como garrafas PETs e tampas de garrafas. Na minha disciplina mesmo, tem momentos em que construímos brinquedos para reutilizarmos porque muitas vezes faltam materiais na escola pública e temos que nos virar”, afirma o professor.
Para Luis Salvatore, presidente do Instituto, valores de sustentabilidade e redução de resíduos despejados no planeta devem ser incentivados desde cedo pelos estudantes. “Esse é um incentivo à compreensão de que somos todos humanos, fazemos parte do ecossistema e que sem respeito à natureza não vivemos. Além disso, temos o incentivo à reutilização de materiais para reduzir o consumo de matérias primas convencionais”, explica. O Instituto também vai doar 500 livros para as bibliotecas de cada uma das escolas envolvidas no projeto.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo.