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Vinicius Nascimento
Publicado em 26 de agosto de 2021 às 19:45
- Atualizado há um ano
O eletrotécnico Welbert Lopes, 33, podia ter o dia mais caótico possível, mas tinha a certeza de que tudo começaria vendo seu irmão descer as escadas de casa pontualmente às 5h50 para arrumar o carro e sair para o trabalho. Às vezes, o irmão sequer o via, já que Welbert espiava o trajeto pela basculante da sua cozinha. Mas para Welbert pouco importava. Sabia que o irmão do meio, seu porto seguro e trampolim de felicidade nos dias bons e ruins estava saindo para mais um dia de batalha.
Welbert e o irmão comemoravam o resultado daquela rotina suada no bairro onde moram desde a infância quando duas balas encerraram tudo: a rotina, a descida de escadas, uma parte da vida de Welbert e toda a vida de Welton Lopes Costa, 34, vítima de um idoso de 98 anos conhecido como Tzeu."Velho, eu já acordo chorando. Eu abro os olhos, sento na cama e aí lembro que não vou ver meu irmão hoje. É desesperador. A gente era muito unido e o brincalhão era ele. Se tivesse alguém chateado ou triste aqui, ele batia na porta, me chamava para tomar uma, para ir para o escritório dele que fica no térreo do prédio, me colocava para cima. Ele era maravilhoso, um bom homem, bom pai, bom irmão, bom filho", relata Welbert.Welton era o segundo de três filhos criados por uma cabelereira que suou sangue para dar, sozinha, dignidade aos seus três rapazes. Com o fruto do seu trabalho, comprou um prédio no bairro do 2 De Julho. Por muito tempo, alugou algumas das casas que, depois que os filhos cresceram e criaram família, foram dadas a eles. Welbert relata que a família é muito unida e os irmãos costumavam fazer tudo juntos.
"Todos nós três somos casados, temos família e moramos no mesmo prédio. Estávamos acostumados a ficar juntos, a ter lazer junto, limpar o prédio todo o mundo junto, fazer uma ceia de Natal. Um irmão sajuda o outro, na empresa dele ele sempre precisou de ajuda. Quando não podia ajudar, meu irmão mais velho ia e vice-versa", contou.
Na manhã desta quinta (26), Welbert foi até a Delegacia de Homícidios e Proteção à Pessoa (DHPP) para prestar depoimento. Relatou ao delegado tudo que lembra do acontecimento trágico que testemunhou.
Welton comprou um carro novo ontem e estava celebrando. Todos os envolvidos moram no Dois de Julho. A esposa dele, Jennifer, que trabalha em uma padaria da região, demorou para voltar para casa e ele acabou indo até o local para buscá-la porque os dois filhos estavam com fome. Na volta para casa, os dois começaram a brigar. Welton era conhecido e muito querido no bairro do 2 de Julho (Foto: Divulgação) O suspeito, segundo os moradores, estava bebendo em uma churrascaria próxima desde cedo. Ele viu a discussão e se aproximou. O vídeo mostra que ele seguiu o casal, mas foi ignorado pelos dois. O idoso é conhecido como uma pessoa temperamental e agressiva pelos moradores da região, que dizem que é normal ele andar armado. As imagens não mostram nenhum tipo de agressão - a cena sai de foco, mas logo é possível ouvir os disparos.
Testemunhas contam que ouviram ele dizer: "Olha para cá, seu filho da puta!". Welton chega a virar - momento em que o idoso atira três vezes. Dois tiros atingiram Welton no peito e o terceiro atingiu Jennifer no pé. O filho adolescente, que tinha acompanhado o pai, se afastou ao notar a presença de Tzeu, justamente por saber do histórico dele, mas voltou ao ouvir a confusão e viu o pai ser baleado. Welton chegou a ser socorrido ao Hospital Geral do Estado (HGE), mas não resistiu. Jennifer foi levada para a mesma unidade.
Logo depois do crime, o idoso é dominado pelos moradores. Levado para a delegacia, ele alegou que agiu para se defender após ser agredido no braço, de acordo com as testemunhas. Também contou que Welton estava agredindo a mulher, o que não aparece nas imagens. Os moradores dizem que a lesão no braço dele foi do momento após o crime, quando parte das pessoas tentou linchar o idoso e outra parte impediu. Welton, que filmou Tzeu e o deu voz de prisão, foi um a pedir para que a população não linchasse o assassino de seu irmão.
"Eu posso me vingar e aí o errado deixa de ser ele, acabaria meu irmão sem vida e eu preso por tirar a vida de um assassino desse e não é por aí. Ao longo dos anos, a gente vê que não é a solução partir para a violência ou tirar a vida de uma pessoa. Até a vida daquele assassino é importante e não podemos jamais fazer com outra pessoa o que não quero pra mim. Não é o caminho. A gente tem que abrir mão de qualquer tipo de violência", afirmou Welbert.
O irmão da vítima garante que vai buscar por justiça com todas as forças que tem. Além da mulher, Welton tinha dois filhos - o de 14 anos foi quem presenciou o crime.
O caso segue investigado pela 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS), que ouviu mais testemunhas nesta quinta (26). O idoso foi ouvido e liberado na segunda e segue investigado. Segundo Welbert, ele deixou a casa no 2 de Julho com familiares e foi para um sítio.