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Jorge Gauthier
Publicado em 29 de março de 2025 às 11:01
Ele é branquelo, mas é gostoso. Macio, fofinho, por vezes, tem a pele levemente dourada e coberta com finas camadas amareladas. Normalmente, disputa a atenção com outros convidados envoltos em cascas crocantes ou chocolate, mas é inevitavelmente o rei das mesas de festas na terra do dendê. O pãozinho delícia - invencionice da jacobinense Elíbia Portela quando ainda tinha 7 anos - ganhou status de estrela seis décadas após sua criação e em qualquer comemoração soteropolitana é presença obrigatória. >
Na disputa das coxinhas, brigadeiros e afins ele dificilmente acaba primeiro, mas é aí que mora o charme do pãozinho. Sua maciez se mantém até a festa caminhar e quando chega a hora dele o deleite é inevitável. “Eu nunca como o pãozinho logo de cara, mas quando ele fica ali na mesa aquela nuvem de queijo me chama. É uma delícia mesmo que só tem aqui na nossa terra. Eu fiz o curso anos atrás com Elíbia e, hoje, até tenho a minha que eu acho até melhor do que o dela”, orgulha-se a aposentada Margarida Novaes, 77 anos, que toda sexta-feira tem a tradição de fazer o petisco para comer com os netos no final de semana. >
Hoje, qualquer padaria, lanchonete, buffet ou festa que se preze precisa ter uma bandeja de pãozinho delícia. Autoproclamada criadora do petisco, Elíbia diz que até sempre se surpreende com o que sua receita virou. “Eu criei o pãozinho porque minha mãe ia jogar fora um resto de massa. Eu nunca imaginei que ele viraria o que é hoje. Nenhuma festa boa pode ficar sem o pãozinho delícia. Hoje, muitas pessoas têm no pãozinho sua fonte de renda e sobrevivência. Isso me deixa orgulhosa”, reflete. >
Cada fornada de pãozinho é única. Inclusive, no processo de modelagem a ‘graça’ deles são as suas bordas irregulares que são cobertas com finas camadas de queijo. Só Elíbia diz ter mais de 200 receitas do pãozinho e cada família sempre acha que a sua é melhor. Umas levam até leite condensado e batata na massa, mas a criadora é categórica: são apenas 7 ingredientes (açúcar, fermento biológico, farinha de trigo, leite morno, manteiga, gemas e sal). As quantidades exatas ela até revelou para a nossa reportagem e fez o modo de preparo para os nossos leitores. Contudo, se recusou a ter o seu ‘segredo revelado’ depois que o vídeo estava pronto. “Prefiro manter isso só nos meus cursos”. >
A receita em si é simples, mas exige certos cuidados no seu modo de preparo, o que faz com que mesmo quem tem muita experiência no pãozinho acabe errando a mão. No final do ano passado, estive na casa de Elíbia para falar sobre a receita e ela fez uma fornada do pãozinho para nós. Gravamos o vídeo, comemos e algumas horas depois chega o aúdio da quituteira: ‘Errei a receita. troquei as farinhas e por isso não ficou fofinho’, desculpou-se Elíbia, que, ao longo da carreira, fez comerciais, deu cursos de culinária com micro-ondas e trabalhou na TV Itapoan, antes de chegar à Band, onde está até hoje. Além do programa na emissora, ela segue compartilhando seu conhecimento em seu canal no YouTube (@elibia_portela). Ah, mesmo 'errado', o pãozinho estava uma delícia. >
O tradicional pãozinho é servido sem recheio ou até mesmo somente com um creme de queijo ou requeijão. Contudo, a evolução da receita já mostra outras variações. Os recheios são múltiplos e até mesmo uns levam chocolate na massa. “Não gosto dessas invencionices. O tradicional é o que vale e pronto”, sentencia Elíbia que já perdeu as contas de quantos pãezinhos fez na vida. “Deve dar para fazer uma volta ao mundo”, brinca. >
Pode até ter alguém que diga que não goste do pãozinho, mas é inegável que ele transforma vidas. Tiago Ribeiro da Silva, de 40 anos, é o administrador do Pãozinho Baianinho (@paozinhobaianinho) , uma das marcas mais queridas do estado quando o assunto é o tradicional pãozinho de festa. A história do negócio começou de forma inusitada, quando Tiago decidiu trocar seu carro pessoal por uma Kombi para entregar doces e salgados, criando uma verdadeira história de amor com a culinária baiana.>
Com o tempo, a demanda foi crescendo, e foi então que ele e sua família tomaram a decisão de abrir uma empresa. "Meus pais na época trabalhavam com um tio meu, e aí foi quando a gente tomou a decisão de unir, juntar as forças e abrir uma empresa e começar", relatou Tiago. A primeira oferta foi o famoso "pão de delícia", que logo se tornou um sucesso, tanto para festas quanto para o atendimento diário a lanchonetes em Salvador.>
A produção diária do Pãozinho Baianinho é impressionante. Tiago revelou que atualmente são produzidos milhares de pães por dia. "Hoje a gente tem uma produção diária em torno de 5 mil pães. A gente atende hoje encomendas de lanches, festas e até mesmo contratos grandes como da loja Game Station em todos os shoppings de Salvador. Como todo dia tem festa na cidade, todo dia é dia de pãozinho", celebra Tiago que oferece 15% de desconto para assinantes do Clube Correio.>
Apesar de ter festa todo dia, Tiago destaca que o período de final de ano é onde acontece a multiplicação da produção. "O período que a gente mais vende não tem erro, é o Natal”, destaca. Uma das grandes inovações do Pãozinho Baianinho foi a ampliação da variedade de recheios. Hoje, tem pãozinho de chocolate, doce de leite, peito de peru, frango defumado, catupiry, entre outros. "Hoje já tem uma infinidade de recheios. A gente brinca, na verdade, com os pães. É uma receita única, um pãozinho básico que você pode trabalhar com diversos sabores", explicou Tiago, destacando que a evolução do cardápio foi um diferencial importante para o sucesso da marca.>
O empresário também falou sobre a importância do pãozinho nas festas e confraternizações. "Hoje eu não consigo enxergar uma festa, um coffee break, sem o pãozinho. O pãozinho se tornou regional da Bahia", afirmou Tiago. Ele ainda revelou que a popularidade do produto é tão grande que há propostas para abrir franquias em outros estados, embora o sabor único da receita seja uma das principais barreiras para essa expansão. "Ninguém consegue fazer um pãozinho igual ao nosso. Isso está provado, e é regional", concluiu Tiago.>
O setor de panificação na Bahia é um dos segmentos mais importantes da indústria alimentícia do estado. Dados do Sebrae Bahia indicam que existem aproximadamente 15.716 micro e pequenas empresas de panificação na Bahia, refletindo a estrutura predominante do setor. Apesar de não haver uma especificação sobre quantos desses negócios fazem o pãozinho delícia, é um mercado em expansão. >
Moradores de Cajazeiras, Sidinea Silva Santos e Davi Oliveira Magalhães fazem 100 pãezinhos delícia por dia na @sidybolos. O quitute foi a porta de saída de Davi do desemprego quando fez junto com sua esposa o curso de panificação do Serviço Social do Comércio (Sesc Bahia). >
“Na época em que fizemos o curso, meu marido estava desempregado. Resolvemos fazer o curso de panificação para ocupar a mente e aprender novas técnicas e receitas. Inicialmente tive receio porque imaginei que ele não aceitaria, mas para minha grata surpresa, ele aceitou. Fizemos o curso e resolvemos incrementar, por exemplo: adaptamos o pãozinho delícia, visto que muitas pessoas não gostam de queijo, e fizemos uma versão doce, com coco ralado e leite condensado. O que tem feito sucesso entre meus clientes”, conta. >
Sidnea lembra que o tamanho da produção depende da demanda: em épocas festivas, como Natal e Ano Novo, a produção aumenta exponencialmente. “Sem pão delícia não tem festa, é como se a gente fizesse uma festa infantil e não tivesse refrigerante para a criançada”, resume. >
Apaixonado por pãozinho delícia, o cobrador de ônibus Wanderlei Novaes, 37 anos, se considera um caçador do quitute. “Eu como todo dia. Sou viciado mesmo. Eu não aguento ver aquela caminha de queijo e que já quero rebolar no queixo”, brinca Wanderlei. Ele - que já comeu o pãozinho nos quatro cantos de Salvador - garante que o melhor de todos é mesmo o de sua família. “O de mainha é o melhor”.>
Cada família tem suas tradições e afetos com o pãozinho delícia. Minha falecida avó Maria Andrade dos Santos gostava muito de fazer a receita para tomarmos café no final da tarde quando eu era criança na cidade de Paripiranga, no interior da Bahia. Aproveitando esse momento especial recuperei a receita >
3 xícaras de farinha de trigo (300g)>
1 envelope de fermento biológico seco ( aproximadamente 10 g) >
2 colheres de sopa de açúcar branco (30g) >
½ xícara de leite morno (tem que ser integral) >
1 colher de chá de sal >
¼ de xícara de óleo de soja >
2 gemas >
3 colheres de sopa de manteiga >
Queijo à gosto >
MODO DE PREPARO >
Faça uma mistura com o fermento, açúcar, o leite, sal, óleo, manteiga e 1 xícara da farinha. Deixe descansar por pelo menos 30 minutos. >
Comece a bater a massa de forma circular (de baixo para cima para não quebrar as bolhas) e vá adicionando aos poucos a manteiga derretida, as gemas e o restante da farinha. >
Quando finalizar de colocar a farinha de trigo, bata até obter uma massa lisa e elástica. >
A massa precisa ficar mole mesmo. >
Cubra com um pano de prato e deixe descansar até dobrar de volume por aproximadamente 1 hora>
Depois que sua massa cresceu bem, passe bastante manteiga nas mãos para começar a modelar os pãezinhos >
Pegue um pouco da massa e deixe ele lisinha na parte de cima>
Coloque os pãezinhos em uma assadeira untada com manteiga ou óleo e cubra com um pano e deixe crescer novamente por 1 hora>
Depois desse tempo leve ao forno preaquecido a 200ºC por 10-12 minutos, o truque é não deixar eles douradinhos>
Após retirar eles do forno, derreta a manteiga e passe em cima dos pãezinhos e coloque queijo por cima. Você pode também rechear com seu recheio de preferência. >
Importante: a massa é muito sensível então feche todas as janelas e não use ventilador. O ambiente não pode ter ar circulando.>
O projeto Aniversário de Salvador é uma realização do jornal Correio, com patrocínio da Drogaria São Paulo, do Salvador Bahia Airport, apoio do Salvador Shopping e apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.
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