'Não conheço um traidor premiado. O povo vai lá e derrota', diz ACM Neto sobre Geraldo Júnior

Vice-presidente nacional do União Brasil declarou que seu grupo saiu forte do pleito e chegará competitivo para a disputa eleitoral ao governo da Bahia daqui a dois anos

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  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 9 de outubro de 2024 às 09:30

Vice-presidente eleito do União Brasil, ACM Neto
Vice-presidente eleito do União Brasil, ACM Neto Crédito: Marina Silva/Correio

O vice-presidente nacional do União Brasil, ACM Neto, faz em entrevista ao CORREIO um balanço das eleições de 2024. Para Neto, o grupo da oposição - liderado por ele - saiu forte do pleito e chegará competitivo para a disputa eleitoral ao governo da Bahia daqui a dois anos.

Qual é o seu balanço das eleições de 2024?

Não podia ter sido melhor para gente por um conjunto de coisas. Começando por Salvador, Bruno (Reis) ter tido quase 79% dos votos e, é claro, pela terceira colocação do candidato Geraldo Júnior, que é o vice-governador do estado da Bahia. Então, o peso dessa vitória é muito maior, o simbolismo é muito maior. É (uma vitória) consagradora do trabalho de Bruno. Depois, uma demonstração clara e flagrante do fracasso até agora de Jerônimo Rodrigues. O principal derrotado da eleição é ele (Jerônimo). Afinal de contas, o vice-governador dele, o candidato dele, ficou em terceiro lugar na eleição. O resultado de Salvador é um resultado que tem uma ampla repercussão nacional. Isso por si só já seria motivo de grande comemoração.

"O principal derrotado da eleição é ele (Jerônimo). Afinal de contas, o vice-governador dele, o candidato dele, ficou em terceiro lugar na eleição"

ACM Neto
Vice-presidente nacional do União Brasil

Eu sempre tracei como objetivo do União Brasil ter um grande desempenho nos maiores colégios eleitorais do estado. Eu nunca me preocupei com quantidades e disse isso claramente. E o nosso resultado foi ainda melhor do que eu esperava. E quando a gente olha o nosso grupo político, das 30 maiores cidades, nós ganhamos 22. Uma está em segundo turno, que é Camaçari. Com algumas vitórias simbólicas, Feira de Santana, na eleição super dura que aconteceu, Vitória da Conquista, tendo que enfrentar a perseguição. E ganhamos em Lauro de Freitas e Ilhéus, duas cidades que a gente tira do campo do governo e traz para o nosso campo. Então, o resultado não podia ter sido melhor, e é claro, a gente aqui está comemorando bastante, mas com a convicção, com a tranquilidade, que é um aumento. Isso quer dizer que nós estamos muito vivos e muito fortes nessa disputa de correlação de forças políticas do estado.

Ao que o senhor atribui este desempenho aquém de Geraldo Júnior?

Ninguém podia imaginar que esse cara ia acabar a campanha em terceiro lugar. O motivo é ele. Claro, tem um contexto de um governo desgastado, de um governador, que é Jerônimo Rodrigues, que é mal posicionado. Tem um governo que não é aprovado pelos soteropolitanos. E com um candidato que, na primeira semana de campanha, nós conseguimos mostrar que é uma farsa. Há pouco tempo, ele me chamava de líder. Dizia que ele era bolsonarista. Depois, o líder dele deixa de ser ACM Neto e passa a ser Jerônimo. Deixa de ser bolsonarista e passa a ser lulista. Deixa de usar azul e passa a usar vermelho. Não conheço um traidor premiado. O povo vai lá e derrota.

O resultado obtido por Bruno Reis em Salvador sepulta o discurso da nacionalização da eleição em Salvador?

Nunca houve (nacionalização), né? A gente já disse isso várias vezes, mas é difícil ficar enfrentando essa conversa deles que é mofada, que é ultrapassada. Sempre dizemos que é a eleição para o prefeito, quem resolve é o prefeito. Ganhamos quatro eleições consecutivas em Salvador, sempre enfrentando o presidente da República, sempre enfrentando o PT e sempre com votações extraordinárias. Uma coisa que até agora ninguém disse é que é a primeira vez na história da cidade que um prefeito elege o seu sucessor, que se reelege. São três eleições consecutivas, decididas no primeiro turno. Então, enfim, zero influência (nacional). Zero influência de ninguém, mas principalmente de Lula que nem na Bahia veio.

Em Camaçari, o candidato do União Brasil, Flávio Matos, ficou atrás de Luiz Caetano (PT). Será possível reverter mesmo no segundo turno?

Eles diziam que tinham 20 pontos de diferença e iriam ganhar a eleição no primeiro turno. Quem criou toda a expectativa de que iria vencer no primeiro turno com folga, foram eles. A gente dizia que a eleição estava empatada. Agora, é uma nova eleição e vamos entrar com força máxima em Camaçari.

Como o governo Lula sai dessa eleição?

Olha, eu acho que tem uma coisa que vai para além dos resultados. Tem uma coisa que é evidente, clara. Lula sempre foi um cara muito presente (nas eleições), de se envolver, de participar, de fazer campanha. E Lula esteve ausente no Brasil inteiro. Então, essa ausência foi, na minha opinião, sintomática. Quando o cara está muito forte, quando o cara está muito convencido do seu capital político, ele vai, se expõe, bota a cara, participa. Não foi o que Lula fez.

Como o senhor acha que oposição baiana chegará em 2026?

Vai chegar bem viva. Quando a gente perdeu em 22, muitos, de maneira indevida e equivocada, apostavam que a gente iria desaparecer. Mostramos agora, ao contrário, que saiu maior, mais forte das urnas do que entramos. Estamos mais vivos do que nunca e com muita confiança. Nós vamos fazer um trabalho com inteligência, compreendendo como avançar no que é o nosso maior desafio, que são as (cidades) pequenas e médias. Como é que é possível construir um caminho que necessariamente não passa pelo modelo tradicional de pedir voto, reconhecendo as nossas limitações e aproveitando a vitória nas grandes cidades para construir um trabalho mais regional, um trabalho que irradie por municípios pequenos e médios, que possam ser influenciados pelos maiores. Então, a gente com calma, com tempo, vai organizar isso.

Mas o senhor vai ser candidato a governador? Quando definirá?

Primeiro, a gente está curtindo a vitória de Bruno (Reis). Segundo, ainda tem uma eleição em Camaçari daqui a 20 dias. Então, é tudo na sua hora, no seu tempo. Eu, antes de definir se sou ou não candidato, quero estruturar um projeto para o meu campo político. Se compreender adiante que meu nome é o nome e que eu devo ser candidato, não vou me furtar a isso. Mas não é agora essa decisão. Não é agora a notícia de candidatura, agora é o momento de curtir a nossa vitória.

Pesquisas mostram um aumento da reprovação do governo Jerônimo. Ele terá dois anos ainda pela frente. Ele terá tempo de reverter, na sua avaliação?

Tempo ele tem, não sei se tem capacidade, competência. Em dois anos, ele não disse para que veio. É um governo sem marca. Aliás, tem marca. É a marca da violência desmedida, é a marca da presença do tráfico de drogas, é a marca do crime organizado, da regulação, da aprovação automática dos alunos. Essas são as marcas do governo Jerônimo.

"Ele (Jerônimo) vai ter (em 2026) natural- mente, os bônus (de ser gover- nador), mas também vai ter os ônus"

ACM Neto
Vice-presidente nacional do União Brasil

E como Jerônimo Rodrigues chegará em 2026, na sua opinião?

Eu acho que tem dois fatores que nos são muito favoráveis. Primeiro, é que comparando 22 com 26, eu acho que o cenário nacional não será tão desfavorável quanto foi. Segundo, Jerônimo, em 2022, teve todos os bônus de quem disputa uma reeleição. Ele não era candidato à eleição. Rui (Costa) era o governador, mas ele (Jerônimo teve todos os bônus. Então, ele teve a máquina do governo, teve toda a estrutura, os convênios, ele teve tudo. Sem, entretanto, ter os ônus. Porque ele contou uma historinha. Rui era muito bem avaliado. Ele (Jerônimo) contou uma historinha bonita que veio de Aiquara, que foi professor, secretário e escondeu atrás do 13. Só que agora, ele tem quatro anos de governo e isso vai ser julgado. Então, ele não pode se esconder. Ele vai ter, naturalmente, os bônus, mas também vai ter os ônus.

"Ter uma candidatura presidencial competitiva ajudaria muito futuramente (em 2026)"

ACM Neto
Vice-presidente nacional do União Brasil

O desafio agora da oposição da Bahia é construir também uma candidatura presidencial?

Tem coisas que dependem da gente e podemos manobrar Tem outras que não. Essa (da candidatura presidencial), por exemplo, não depende só da gente. Mas ter uma candidatura presidencial competitiva ajudaria muito futuramente. Então, a resposta é sim, é importante ter uma candidatura presidencial competitiva. A gente tem muita coisa para fazer aqui. O primeiro passo foi dado na campanha de 24. Muitos achavam que a gente estava morto, que não ia ter nenhuma relevância, e mostramos nas ruas o nosso tamanho e o nosso peso.